Diversão e Arte

Músico paraense Felipe Cordeiro procura aliar proposta conceitual e ritmos

postado em 14/10/2011 08:52

A música produzida no Norte e Nordeste do Brasil ganhou visibilidade há alguns anos; principalmente, depois do movimento mangue beat, que teve como ícone o músico Chico Science. Hoje, uma das cenas mais comentadas, fora do eixo centro-sul, é a paraense, que lançou nomes como Gaby Amarantos. Outra cria dessa ebulição musical é o CD Kistch, pop, cult, do músico Felipe Cordeiro.

A concepção do álbum surgiu de reflexões sobre a transformação cultural e sobre o processo de reprodução e cópia, de gêneros como o tecnobrega, que sempre usa a mesma batida. Felipe diz que o nome dado ao disco é ;autoexplicativo;, pois kistch, pop e cult são termos inseridos no comportamento da sociedade e, assim, a proposta fica clara: abordar a mistura de informações por meio de ritmos, que vão do brega à música clássica. Para o surgimento desste trabalho, foi primordial o contato com a diversidade musical e as ;inquietações; de Felipe Cordeiro, que também é graduado em filosofia pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

A lambada e a guitarrada, por exemplo, foram estilos com os quais ele sempre conviveu, pois o pai dele, Manoel Cordeiro, é produtor musical, e sempre estava em contato com os artistas paraenses. Além dos conterrâneos, nomes como Chico Buarque, Aldir Blanc, Edu Lobo o influenciaram.

Essas reminiscências aparecem nas letras do disco. A faixa Legal e ilegal, que relaciona bebidas com ritmos de dança (;aguardente no bom samba canção, uisquinho da bossa nova;), é dedicada ao cantor de lambadas Alípio Martins, famoso na década de 1980, e amigo próximo do pai de Felipe.

;Quando comecei a elaborar o disco eu não sabia, exatamente, o que eu queria, mas tinha certeza de que pretendia fazer um link do Alípio com algo do Arrigo Barnabé, que também admiro muito. Para mim, Alípio representa simplicidade, uma coisa direta, com um humor que me seduz.; De acordo com ele, o lambadeiro incorporava o kistch e o pop, que permitem uma aglomeração de estéticas, meios de reproduzir e reinventar, sem perder uma proposta poética.

Nietzsche

Outra música destacada por Felipe é Fanzine kistch, que também caracteriza a proposta do CD. Ela tem a estrutura de um ;diálogo de quadrinhos;. Nos versos, uma menina está em um sebo da cidade e pega um livro de Nietzsche. Nela, a proposta é discutir o mundo ;pop cult;, no qual as pessoas buscam uma identidade, algo que as coloquem em um nicho social, o que, às vezes, se torna uma conduta caricata. ;Nessa música, o fato de estar em contato com a obra de um filósofo mostra como as pessoas gostam de se reinventar e procuram se achar seu lugar no meio da multidão. É aí que surgem os rótulos do que é cult, do que é pop;;.

;O disco tem essas dicas conceituais, embora eu não quisesse que parecesse isso. Eu queria que as pessoas ficassem em cima do muro, se perguntando: o disco é conceitual, artístico, comercial ou pop?; Na faixa Lambada com farinha, por exemplo, tem uma introdução erudita com um quarteto de cordas. Após alguns segundos, entra uma batida de guitarrada, ;isso contextualiza a guitarra com a música erudita e proporciona outra audição.;

Diversidade rítmica

; A cena musical no Pará já tem ritmos conhecidos como o carimbó, guitarrada e até o próprio tecnobrega, no entanto ainda são classificadas com exotismo. ;A gente ainda se afirma muito por conta da sedução dos ritmos. A música do Pará é dançante, não acho que devemos negar isso. Mas, acho que há poucas pesquisas sobre esses ritmos com amadurecimento mais fortes, os músicos não podem se restringir à coisa do exótico. Tem que amadurecer o conceito, olhar para essa musicalidade criticamente Isso é uma obra de arte completa;, destaca Felipe Cordeiro.

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