Diversão e Arte

Coldplay foge do convencional no novo CD e apresenta músicas conceituais

postado em 18/10/2011 08:38

Chris Martin:

Os ingleses do Coldplay pertencem a uma linhagem quase extinta do rock internacional. Mesmo inscritos na era do mp3 e do compartilhamento acelerado e inevitável de arquivos, vendem discos sem parar ; a contagem já passou de 40 milhões. São alternativos, mas emplacam hits radiofônicos sem muita dificuldade, com um som movido a acordes de piano, guitarras suaves e um falsete (o de Chris Martin) que arrebata multidões. No CD que vazou ontem na internet, Mylo xyloto, os gigantes de tantas canções assobiáveis e grudentas (Clocks, Yellow, e várias outras) parecem propor um desafio a eles próprios e à fórmula até então permanente de sobrevivência comercial. É possível fazer um álbum conceitual e ainda assim agradar os fãs?

;Nosso disco é uma espécie de história ; não é bem um musical, mas é perigosamente quase um;, disse Martin ao jornal inglês The Sun. Uma jornada que levou três anos para ficar pronta, e com um luxuoso time de colaboradores: Brian Eno, o essencial músico e produtor (de David Bowie e Talking Heads), retorna após o trabalho no penúltimo dos londrinos, Viva la vida or death and all his friends (2008), e a pop star Rihanna solta a voz na faixa Princess of China. O dueto com a estrela do R, aliás, é o momento favorito de Martin no pacote de composições inéditas. ;Temos tentado fazer coisas novas e quebrar barreiras entre os diferentes tipos de música;, contou ao portal MTV News. Ao jornal Daily Mail, Martin disse que esse pode ser o último álbum: ;É a destilação de três anos de trabalho e, no momento, não imagino de onde outro poderia vir;.

Recomeço
A postura de banda que parece se angustiar com o próprio sucesso não é de hoje. O Radiohead, por exemplo, retraiu-se com o sucesso de Ok computer (1997): quando os olhos do mainstream se voltaram para os excêntricos roqueiros de Oxfordshire, Inglaterra, eles entraram em estúdio e saíram de lá com Kid a (2000) e Amnesiac (2001), que demarcaram uma profunda mudança de sonoridade. Mylo xyloto segue trajeto semelhante: é uma reflexão pós-Viva la vida, o disco mais vendido do mundo em 2008 e vencedor de três prêmios Grammy. Uma reinvenção necessária.

Até certo ponto, a ambição de gravar um trabalho mais errático e menos polido funciona: as acústicas Us against the world e U.F.O. e a curiosa Major minus (à la Radiohead) pontuam a entrada do Coldplay em novo território, cada vez mais distante das baladas melancólicas dos dois primeiros discos, Parachutes (2000) e A rush of blood to the head (2002). Princess of China, em que Martin divide o microfone com Rihanna, é outro colorido avanço: um bravo mergulho num oceano de possibilidades eletrônicas e vocais. O velho Coldplay, choroso e delicado, volta timidamente em Up in flames, Don;t let it break your heart e Every teardrop is a waterfall. A metamorfose, ainda incompleta, não parece ter doído tanto ao quarteto.

Assista o clipe da música Every teardrop is a waterfall, do Coldplay:

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação