Diversão e Arte

Partituras de Chiquinha Gonzaga estão disponíveis na internet

Nahima Maciel
postado em 18/10/2011 09:20

Alexandre Dias e Wandrei Braga preparam quatro recitais para o lançamento em Brasília, em novembro

Há muitos ;primeiros; na biografia de Chiquinha Gonzaga e todos eles estão muito associados à vida da compositora. ;Primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil;, ;primeira compositora popular;, ;autora da primeira marcha carnavalesca;, pontuam os textos biográficos da artista, mas, quando se trata de conseguir partituras, a situação fica complicada. Chiquinha Gonzaga está entre os compositores brasileiros que mais produziram. No entanto, há pouquíssimo material disponível.

Essa constatação turbinou o ânimo dos pianistas Wandrei Braga e Alexandre Dias, dois fascinados pela obra da carioca. Graças a eles, Chiquinha será também a segunda artista brasileira a ter disponibilizada em rede a obra completa para piano. A partir de hoje, com um clique ou dois, qualquer músico do planeta pode baixar as partituras no site www.chiquinhagonzaga.com.br. O projeto segue os passos da empreitada já realizada pelos músicos com Ernesto Nazareth, cuja obra também está disponível na internet.

O trabalho é resultado de pesquisa iniciada há três anos com um garimpo que inclui revisão de obras já publicadas e editoração de partituras inéditas capazes de iluminar a trajetória artística da compositora. Chiquinha Gonzaga ficou mais conhecida pela vida do que pela obra. Compôs a primeira peça aos 11 anos e desbravou muitos cenários de exclusividade masculina naquele fim de século 19 e início de 20.

Além da marchinha Ô abre alas, era famosa pelo pulso forte e pediu o divórcio de um casamento precoce ainda na adolescência porque o marido encrencava com a dedicação da moça ao mundo musical. O problema é que as particularidades da vida da artista ofuscaram a obra. ;Se você pedir para um chorão nomear 10 composições dela, ele vai falar Ô abre alas e mais duas ou três;, acredita Dias. ;As pessoas não imaginam que ela tem mais de 300. Esse projeto revela um número imenso de gêneros que ela compôs. É conhecida pelas marchinhas, mas fez também mais de 40 valsas, peças sacras e peças de caráter erudito.;

Braga e Dias começaram a busca por partituras inéditas ou já publicadas em coleções de instituições públicas e particulares espalhadas pelo país até descobrirem que toda a obra de Chiquinha Gonzaga estava guardada no Instituto Moreira Salles (IMS). No ano passado, com patrocínio do edital Natura Musical, os músicos conseguiram se organizar para tocar o projeto de editar e disponibilizar as obras na internet. Mais da metade das partituras acessíveis a partir de hoje são inéditas, nunca foram sequer publicadas. Algumas, inclusive, consistiam apenas em manuscritos que precisaram ser editados e revisados. ;Não são reproduções de partituras antigas, fac-símiles. Reeditamos tudo. Além disso, colocamos versões cifradas para quem não sabe ler partituras;, avisa Dias.

O site será lançado hoje no IMS do Rio de Janeiro, onde Braga e Dias fazem também dois recitais com algumas das composições inéditas encontradas durante a pesquisa. Em novembro, a dupla lança o projeto em Brasília com um programa de quatro recitais. No repertório entram valsas, composições sacras, como uma Ave Maria e um Agnus Dei, polcas e uma fantasia pela qual nutrem carinho especial. ;Ela é uma surpresa porque a gente não está acostumado a ver a Chiquinha compor de forma tão rebuscada;, conta Dias.

Além de equipes de design e editoração, a dupla contou com a ajuda de Edinha Diniz, autora da biografia Chiquinha Gonzaga: uma história de vida e responsável pela primeira listagem de obras da compositora. A escritora produziu um texto para cada capa de partitura, mimo que vai ajudar músicos e curiosos a compreender um pouco mais das opções musicais da artista.

Um time de 17 professores da Escola Portátil de Música do Rio de Janeiro, especializada em choro e parceira do projeto, também preparou arranjos para composições inéditas a serem incluídas no repertório de um recital. ;Agora, Chiquinha Gonzaga vai entrar para o hall de compositores brasileiros de fato, porque um compositor sem partitura disponível não serve para muita coisa;, avisa Braga.

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