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Diversão e Arte

Cantor e compositor brasiliense Beto Só faz show de lançamento do 3º álbum

As músicas de Beto Só podem passar a impressão de que o cantor e compositor brasiliense é uma pessoa triste. Ele afirma que não é o caso. ;Não tenho uma explicação clara para isso. O fato é que sempre que vou exercer a criatividade com música, esse lado mais melancólico acaba aparecendo;, diz o músico de 38 anos, que esta noite lança o terceiro disco, Ferro-velho de boas intenções, com show no Teatro Eva Herz, na Livraria Cultura do Iguatemi Shopping.

;Talvez isso esteja ligado à minha relação com a música. Aquelas que mais me marcaram sempre traziam algo de melancolia, de reflexão sobre a vida;, arrisca Beto. ;Minha primeira memória musical é Romaria, com Maria Bethânia cantando. A música me deixava triste, mas era a que eu mais gostava de ouvir na infância.;

Tentar descobrir a personalidade de Beto Só somente ouvindo suas canções, portanto, é um risco. ;Eu não vou me matar;, brinca. ;Acho que tenho um jeito estranho de ser otimista: eu não desprezo as dificuldades e os problemas que a gente enfrenta para viver uma vida boa. De forma geral, celebro muito a vida, mas não esqueço os obstáculos. Esquecê-los não seria fiel à forma como vejo o mundo;. Esse argumento, de certa forma, pauta as canções de Ferro-velho de boas intenções.

Como nos outros dois discos (Lançando sinais, de 2005, e Dias mais tranquilos, 2008), o cantor resgatou composições de sua antiga banda, Beto Só & Os Solitários Incríveis. A escolhida para Ferro-velho foi Poema rejeitado. ;Pensei nela porque no disco novo eu queria falar mais da vida do que do amor, tema que dominava os outros dois. Ela acabou como um norte ; e disso surgiram músicas como Boas intenções, Vivendo no escuro e Nem igual.;

Cordas
Ferro-velho de boas intenções é um disco quase acústico, com a presença marcante do violoncelo de Ataide Mattos. ;Eu e o Ju, meu irmão e parceiro de composições, temos uma característica como compositores que é criar um instrumental muito melódico para as canções, mais do que os vocais. E queríamos trabalhar melhor essa característica. Por isso, o cello é tão importante nesse disco;, conta Beto, que cogitou gravar todas as canções acompanhadas apenas de violão e violoncelo, mas depois achou que assim ;o disco ficaria muito chato;.

Ju Oscar, integrante também da banda Phonopop, é o responsável pelas guitarras e pelos violões do álbum. O baixo ficou a cargo de outro integrante do grupo brasiliense, Tharsis Campos, e as baterias foram gravadas por Rodrigo Txotxa, ex-Plebe Rude ; banda de Philippe Seabra, que mais uma vez assina a produção de um disco de Beto Só.

No show de hoje, Beto, Ataide, Ju, Tharsis e o baterista Fábio Pereira mostrarão parte do repertório de Ferro-velho e canções dos trabalhos anteriores, como Meus olhos e O tempo contra nós. Daqui para a frente, o cantor pretende revezar a banda com o formato duo, apenas ele e Ataide. ;Isso me abre a oportunidade de fazer shows em lugares mais intimistas;, comenta Beto.

Ainda assim, para o cantor, a realização de shows deixou de ser prioridade há muito tempo. ;Desde o primeiro disco, eu tinha claro que seria um maratonista e não um corredor de 100 metros. Convivi com amigos que saíram de bandas ou que suas bandas acabaram porque o primeiro disco deles não os levou para uma grande gravadora ou até o sucesso. Sempre apostei que estava numa corrida longa, constituindo uma obra.;

O quarto álbum de Beto Só já está nos planos, um disco de intérprete com músicas de bandas do cenário independente: ;A minha ideia é mostrar o quanto essa cena é uma alternativa estética e temática na música brasileira;. O encarte de Ferro-velho de boas intenções tem pinturas do artista plástico Fernando Lopes, ilustrador do Correio Braziliense. As obras estarão expostas hoje na Livraria Cultura.