Diversão e Arte

Maria de Souza Duarte lança livro sobre a experiência do Teatro Garagem

Severino Francisco
postado em 27/10/2011 08:57

Vidas Erradas, no espetáculo homônimo, um dos grandes sucessos do teatro brasiliense

De meados da década de 1970 até o início da década de 1980, o Sesc da 913 Sul foi o endereço mais quente da cultura em Brasília. Era lá que se armava uma resistência, a um só tempo, organizada, festiva, anárquica, experimental, polêmica, educativa e reflexiva ao sufoco do regime militar. Por lá, nasceram, cresceram ou passaram Os Melhores do Mundo, Vidas Erradas, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Chico Expedito, Chacal, Nicolas Behr, o Teatro Oficina (de Zé Celso Martinez Corrêa), Hugo Rodas, Humberto Pedrancini, Jorge Mautner, Jards Macalé, Alceu Valença, o projeto Cabeças, o movimento de cineclubes e TT Catalão. Se a resistência política era alegre, as festas também se tornavam acontecimentos políticos. É essa história que a pesquisadora Maria de Souza Duarte reconstitui no livro duplo Arte educação: o caso Brasília e Arte educação: o caso Garagem (Ed. UnB), a ser lançado no sábado, às 20h, durante a entrega do Prêmio Sesc de Teatro.

O caso Brasília é uma reedição do livro escrito a partir de uma dissertação de mestrado defendida na Universidade de Brasília. Durante o lançamento, será exibido um documentário sobre o Teatro Garagem, com depoimentos de 77 pessoas que participaram da experiência, e apresentado um catálogo de fotos produzido pelo designer Hugo Rocha. Maria Duarte dirigiu o Sesc da 913 Sul de 1970 a 1982 e, ao ser homenageada em 2009, recebeu o convite para escrever a história do reduto da cultura brasiliense daquele período. ;Resolvi acoplar os dois livros porque a experiência do Teatro Garagem foi de educação pela arte, inspirada pelos mesmos princípios de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, que nortearam o sistema de ensino nos tempos pioneiros de Brasília;, justifica. A história de O caso Brasília cobre o período de 1957 a 1982, e a de O caso Garagem avança de 1970 até 2000.

Cora coração, montagem de Hugo Rodas a partir da obra da poeta Cora Coralina

O Sesc da 913 Sul foi um espaço importante pela capacidade de articulação, ousadia e compromisso com a questão cultural de Brasília. O espaço era pequeno e pobre, mas havia a troca de hospedagem nas dependências do Sesc por ingressos para a formação de público com o Asdrúbal Trouxe o Trombone, o Teatro Oficina ou Alceu Valença e Macalé. O Sesc estabeleceu uma parceria com a Federação de Teatro Amador e foi criada uma rede de 60 cineclubes, que alcançou muitos espaços da periferia. ;Era uma resistência festiva, mas com abrangência muito grande, abrigando as múltiplas tendências estéticas e políticas. Além disso, investimos na formação de pessoal e estabelecemos parcerias com a Secretaria de Educação visando sensibilizar as novas gerações para a arte e a cultura, alcançando as escolas;, conta a autora.

E, hoje, qual o legado dessa experiência? Maria Duarte considera a dispersão e a falta de um ideal comum as mazelas da cultura em Brasília. Ou se espera tudo do poder público ou se fazem as coisas de forma solitária.

Espaço para o rock experimental: performance da banda Akineton, liderada por Celso Araújo

Por isso, ela resolveu organizar, em parceria com o Sesc, a UnB, o NAC (Núcleo de Arte e Cultura), o Cena Contemporânea e o Clube do Choro, um seminário sobre o tema ;Articulação de entes e agentes culturais;, a ser realizado, hoje, no Auditório da Reitoria da UnB, com a participação de artistas, arte-educadores e produtores da cidade: ;É preciso religar educação e cultura para ampliar a formação do público. É necessário também discutir a maneira como a cultura é divulgada nos dias de hoje;, comenta Maria Duarte.

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