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Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, homenageia Oswald de Andrade

postado em 27/10/2011 09:47

Oswald de Andrade herdou um verdadeiro império imobiliário aos 30 anos. Apesar da fortuna, morreu pobreSão Paulo ; Pai do modernismo que tomou conta da cultura brasileira a partir da década de 1940, o escritor Oswald de Andrade ganhou uma exposição só para ele no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Não se trata de uma mostra tradicional na qual se expõem objetos pessoais como se vê em museus. Isso nem combinaria com sua figura polêmica e avançada. Ao entrar no universo do poeta, romancista e dramaturgo paulistano, depara-se com uma série de painéis ilustrados a partir de textos e desenhos do artista e passagens picantes e conturbadas de sua vasta vida amorosa.

Oswald era um homem de muitas facetas. Foi burguês, boêmio, modernista, agitador e, acima de tudo, um grande revolucionário. Ele era filho de família riquíssima. Para se ter noção do tamanho dessa fortuna, seus pais eram donos de todos os prédios do bairro de Cerqueira César, um miolo espremido entre o Centro, e os bairros Higienópolis e os Jardins. Com tanto dinheiro no bolso, ele viajou o mundo, conheceu as novidades da Europa e levou para São Paulo o primeiro conceito em que se dizia que o Brasil é uma fonte de cultura e, por isso, não precisava importar ideias de outros países, como França e Estados Unidos. É justamente o retrato dessas ideias que foram grafitadas nas paredes do Museu da Língua Portuguesa.

O escritor sempre olhou para frente e registrou o que nos anos 1940 era considerado absurdo. Assim que voltou de uma dessas viagens internacionais, reuniu-se com amigos e disse que o Brasil, a China e a Índia iam despontar no futuro, ditando regras e costumes. Claro que ele foi motivo de chacota na época. No entanto, registradas em forma de manifesto, essas ideias hoje ganham força e soam como uma profecia concretizada seis décadas depois. Isso fica claro no painel que reproduz o poema ;As quatro gares; (1928), escrito um ano antes do Manifesto antropófago.

Filho único, herdou sozinho um verdadeiro império imobiliário aos 30 anos. Apesar da fortuna, morreu pobre. ;Não se sabe ao certo como ele torrou a fortuna que recebeu e como ele perdeu os bens. O que importa é que ele nos deixou muito conteúdo e um legado riquíssimo para a cultura brasileira;, diz o professor de literatura Roberto Santini, de 42 anos. Na terça-feira, ele visitou a exposição com um grupo de estudantes e saiu de lá impressionado.

;Fica claro que ele estava muito à frente do seu tempo;, comenta. Na exposição, o cômodo que representa a queda vertiginosa do poeta da riqueza para a pobreza está representado por um painel no qual se vê uma explosão de dinheiro.

Painéis retratam ações e várias fases do escritor paulistano

Instalação
Em outro espaço, foi construída uma instalação que representa o apartamento amplo que ele mantinha no Largo da Sé, cujo nome já diz tudo: Garçonier. Lá, Oswald recebia amigos para farras gastronômicas que varavam a madrugada e mulheres, muitas mulheres. Os registros dessas visitas estão nas páginas de um livro espesso chamado O perfeito cozinheiro das almas desse mundo, no qual as suas visitas escreviam um pequeno relato das impressões de ter estado naquele ambiente.

A maioria das mensagens é de amantes e amigos que compartilhavam de suas ideias modernistas. O livro de registros se tornou uma peça importante porque o próprio escritor deixa, em forma de poesia, suas impressões das mulheres que passavam por lá. Com tanto amor nas palavras e no trato com o sexo feminino, O perfeito cozinheiro das almas desse mundo acabou tornando-se um manancial de frases de amor e desenhos, além de textos de amigos modernistas.

A exposição deixa claro que Oswald amava as mulheres e São Paulo. Por todos os lados tem citações que reverenciam a maior cidade do país e suas diversas namoradas. Se levar em conta o número de poesias que escreveu para a artista e intelectual Tarsila do Amaral, pode-se afirmar que ela era a sua preferida, mas não única. ;Até nessa seara romântica, sua visão de futuro era impressionante para a época;, diz o professor de filosofia Halfh Sabadinni, 48 anos.

Namorada

O ímpeto do escritor com as mulheres reservou a ele um capítulo indigesto em sua biografia. Numa viagem de navio à Europa, ele se envolveu com uma adolescente de 16 anos, o que lhe acarretou a acusação de pedófilo feita pela família da jovem. Outra passagem amarga é uma namorada de 19 anos que ele teve e que morreu em consequência de um aborto mal-sucedido.

No banheiro masculino e feminino do museu, está exibida a parte mais picante da obra do escritor. Frases impublicáveis que ele escrevia relatando momentos de prazer com suas inúmeras namoradas estão afixadas na parede. Por conta do conteúdo impróprio, a direção da exposição adverte logo na entrada com um aviso de que é proibida a entrada de menores de 18 anos. Um outro banheiro no andar superior está livre das frases obscenas do poeta.

O diretor do Museu da Língua Portuguesa, Antônio Carlos Sartini, explica por que se trata de uma exposição especial: ;Além de Oswald ter ideias atualíssimas, ele é o primeiro escritor paulistano homenageado aqui no espaço;. A exposição ganhou o nome de Oswald de Andrade: o culpado de tudo e ficará aberta para o público até janeiro de 2012, um mês antes das comemorações dos 90 anos da realização da Semana de Arte Moderna de 1922, da qual o escritor foi um dos mentores.

Oswald de Andrade: O Culpado de Tudo

Até 30 de janeiro, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (Praça da Luz, s/n;). Aberta para visitação de terça a domingo, das 10h às 17h. Entrada: R$ 6.

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