Diversão e Arte

Exposição em cartaz na Caixa Cultural reúne gravuras de Carlos Oswald

Nahima Maciel
postado em 27/10/2011 09:55

Obras de Carlos Oswald: músicos e paisagens estão no universo do artistaA gravura brasileira está muito bem representada e instalada, mas ainda sofre de preconceito. As primas ricas, pintura e escultura, conseguem atrair mais atenção de historiadores, mercado e apreciadores. O crítico paraense Paulo Virgolino acha isso tudo uma injustiça e decidiu travar um combate para elevar a produção brasileira de gravura ao patamar reservado a técnicas consideradas mais nobres. Carlos Oswald: o resgate de um mestre é o primeiro passo. Em cartaz na Caixa Cultural, a exposição reúne 70 gravuras realizadas pelo artista nas primeiras décadas do século 20. Algumas obras foram garimpadas em coleções particulares, mas 99% vêm do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Virgolino começou com Oswald por um motivo óbvio. Filho do compositor Henrique Oswald com uma italiana, o artista nasceu em Florença e por lá se dedicou à gravura até desembarcar no Brasil em 1913, aos 31 anos, para fugir da guerra iminente e fincar raízes na terra do pai. Mas gravura era arte sem muita graça ou glamour em solo tupiniquim e poucos brasileiros eram capazes de diferenciá-la de um desenho.

No Rio de Janeiro, o artista recebeu convite para trabalhar como professor no Liceu de Artes e Ofícios. Ganhou ateliê e uma turma inteira de alunos. Aos poucos, encarregou-se de catequizar quem encarava o futuro como um paraíso de tintas e pincéis e converteu dezenas de alunos. Preparou todos para lidar com buril e chapas de metal tão bem quanto manejavam as pinceladas. Em 1919, Carlos Oswald inaugurava a primeira exposição de gravuras da cena artística carioca, com obras de alunos arregimentados durante as aulas. ;Ele foi o grande precursor da história e ensino da gravura no Brasil. E desde a década de 1980, não é alvo de uma grande individual;, repara Virgolino.

A mão de Oswald passeava por uma série de características muito precisas. Técnica apurada e conjunto harmonioso nas composições acompanharam o artista por toda a vida. A exposição na Caixa Cultural tem percurso cronológico e se divide em dois momentos cruciais. O primeiro trata das obras realizadas ainda na Itália, tempo em que a figura humana pouco aparecia nas paisagens, retratadas sempre com certo destaque para a arquitetura.

O segundo: no Brasil, Oswald passou a dar atenção maior à presença humana, especialmente representada em uma série de retratos selecionados para a exposição. A natureza, evidentemente exuberante naquele Rio de Janeiro do início do século, também passou a ocupar espaço de protagonista. Mas o academicismo era uma marca e pouco se via das ideias que, nos anos seguintes, dariam forma ao modernismo. Mas não fosse Oswald, e logo em seguida Livio Abramo, o Brasil não veria florescer a geração de Fayga Ostrower e Poty Lazarotto, duas vertentes da modernidade que marcaria a gravura brasileira nas décadas seguintes.

Curiosidade

Do ateliê de Carlos Oswald saíram os primeiros desenhos para o projeto do Cristo Redentor. O cartão-postal do Rio de Janeiro foi uma encomenda para celebrar o centenário da Independência em 1921, mas o monumento só seria inaugurado em 1931. O desenho era de Oswald e o projeto, do escultor francês Paul Landowski.

Clássicos da música

A série de retratos de grandes compositores da música erudita faz parte da estratégia de Carlos Oswald para divulgar a gravura e dela extrair o próprio sustento. Nomes como Beethoven, Chopin, Bach e Liszt eram bem conhecidos nos salões cariocas e nas casas da elite.

Pianos faziam parte do mobiliário e saraus estavam no topo das agendas de entretenimento da capital carioca. ;A intenção dele era conquistar o público brasileiro para a gravura. Era proposital, não era gratuito. Ele criou a série de músicos porque sabia que conseguiria divulgar a gravura com esses grandes nomes.

O público, na época, era muito ligado à música e os artistas tocavam dentro das casas. Oswald precisava vender o trabalho dele;, conta Paulo Virgolino. Cenas bíblicas e retratos de figuras da religião cristã também entraram na conta.

Carlos Oswald: o resgate de um mestre

Gravuras de Carlos Oswald. Curadoria: Paulo Virgolino. Visitação até 20
de novembro, diariamente, das 9h às 21h, na Galeria Vitrine da Caixa
Cultural (SBS, Quadra 4, Lotes 3 e 4).

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