Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

O filme dos espíritos roteiriza pontosde uma das obras de Allan Kardec

Uma ponte sobre o Rio Tietê, um homem prestes a pular, um livro que pode mudar os rumos de uma vida. Esse é o mote de O filme dos espíritos, longa-metragem dirigido e escrito por André Marouço e codirigido por Michel Dubret. Com livre inspiração em O livro dos espíritos, obra inaugural do espiritismo, codificada pelo pedagogo Allan Kardec, o filme está em cartaz no Pátio Brasil 2 e foi visto por mais de 200 mil espectadores. No elenco, Ana Rosa e Nelson Xavier, estrelas de produções semelhantes, como Chico Xavier ; O filme e As mães de Chico Xavier.

Reinaldo Rodrigues interpreta Bruno, o protagonista de história passada na grande São Paulo. O personagem quarentão perde a mulher e o emprego, resolvendo então dar cabo da vida. Ao apoiar-se no balaústre da ponte para pular, ele encontra um embrulho com O livro dos espíritos. Uma história verídica que André Marouço escutou há 10 anos em uma palestra espírita, porém, com um homem parisiense que resolve se jogar da Pont Marie no Rio Sena. ;Eu me pergunto: quantas histórias similares a essa não ocorreram na trajetória humana? Quantas bíblias, evangelhos, livros espíritas, hinduítas, budistas ou mesmo a literatura de autoajuda não salvaram vidas?;, reflete o diretor. A palestra foi o pontapé inicial à ideia que amadureceu durante algum tempo, até que, em 2009, trabalhando em um concurso de curtas-metragens para uma produtora kardecistas, ele selecionou oito finalistas que teriam a missão de amalgamar todos os roteiros em um único: o de O filme dos espíritos.

A consagrada atriz Ana Rosa encarna Gaby, mulher do personagem de Nelson Xavier. Nos papéis, eles trabalham juntos na assistência social e espiritual para deficientes mentais da Casa André Luiz, funções importantes para o desenrolar da trama. Ela define o papel ;como uma mulher madura, doce, apaixonada pelo marido, pelo trabalho e pela doutrina espírita;. Ana, que é praticante do espiritismo, conheceu as palavras de Kardec em O evangelho segundo o espiritismo, em 1961, quando Maurício, o primogênito dela com Dedé Santana, morreu. ;Existem muitas moradas na casa do Pai; viemos de uma delas e para uma delas retornaremos após o desencarne. O mundo espiritual é o real. Esse onde vivemos é uma pálida cópia do que nos espera do outro lado;, acredita.

Enxurrada espírita
Para Luis Hu, diretor da TV do Conselho Espírita Internacional, entidade ligada à Federação Espírita Brasileira (FEB), a enxurrada de filme espíritas, lançada nos últimos três anos, não tem pretensões de converter fiéis, que atualmente, no Brasil, atingem os 2,5 milhões de praticantes. ;O objetivo é divulgar as ideias espíritas que servem para fazer homens de bem. O espiritismo tem o dever de divulgar seus princípios expondo-os e nunca impondo-os;, interpreta o diretor.

Criada no auge do humanismo na Europa, a doutrina espírita foi codificada em 18 de abril de 1857 por Hippolyte Léon Denizard Rivail ; pseudônimo Allan Kardec ; após a análise as mesas girantes, fenômeno mediúnico que divertia muitos franceses no século 19. O livro dos espíritos, que teve uma edição comemorativa com prefácio assinado por André Marouço, é a primeira obra da coletânea básica da religião; contém 1.019 perguntas e respostas formuladas por espíritos para os questionamentos: o que é Deus; e de onde viemos e para onde vamos?. O livro dos médiuns, O céu e o inferno e A gênese compõem a bibliografia básica escrita por Kardec.

O FILME DOS ESPÍRITOS
(Brasil, 2010, drama, 100min; não recomendado para menores de 10 anos). De André Marouço e Michel Dubret. Com Nelson Xavier, Reinaldo Rodrigues e Ana Rosa.

Em cartaz no Pátio Brasil 2, às 17h e às 21h30.c