Regina Bandeira
postado em 30/10/2011 08:00
Já colocou frases de seus livros no Twitter?
Não. Ainda tenho pudor. Mas houve uma frase que botei. Sempre achei que ela me definia. ;Defino-me em vozes do deserto: Scherazade sabe-se instrumento de sua raça. Deus lhe concedera a colheita das palavras, que são o seu trigo;. Agora, olha essa aqui: ;A presidente retornou ao Brasil; o neto, que é a sua âncora, faz um ano. Estamos salvos. Sem alma não se governa;.
Então a senhora aprova a presidente Dilma?
Sim. Estou gostando dela. É uma mulher dura, forte. Está se tornando política e, muitas vezes, tem de dizer coisas que não pensa realmente, mas isso faz parte mesmo. Ela não pode desmanchar os apoios dela. É um outro padrão que ela está estabelecendo.
Tem sido difícil respeitar o limite de 140 caracteres?
Não, eu gosto. Fui jornalista. O Twitter é uma seiva nova em minha vida. Estou gostando dessa experiência. Sou séria, mas muito motivada pelas realidades brasileiras, pelo leitor brasileiro. Dentro das minhas possibilidades, vou tentar dar minha contribuição. A professora (Carmen, assistente de Nélida) imprimiu vários comentários e quero ver se elaboro uma resposta coletiva, quero manifestar minha gentileza; esse é meu modo de ser.
O que a senhora mais gosta nisso? A rapidez com que é lido, a instantaneidade da leitura?
Tenho mais de 20 livros publicados, mas nunca sei quem está me lendo. Ali, mais ou menos eu sei. Ou penso que sei (ri). Ter seguidores é uma coisa muito caprichosa, muito original. E, ao saber-se seguida, você cuida mais da mensagem e do que você tem a dizer. Estou aprendendo diariamente a ser mais natural. Quero acentuar meu grau de cotidianidade, sem perder minha densidade. Não acredito em banalidades.
Acha uma consequência natural a exposição íntima nas redes sociais?
Íntima eu nunca faria. Não no sentido como as pessoas entendem o íntimo, o desvendamento do que é naturalmente secreto. Isso não diz respeito a mim. Eu me habituei a dizer coisas fortes, a revelar, mas sem o descalabro. Eu tenho horror da falta de pudor. Gosto do texto erótico, mas não preciso assumir o erotismo do meu personagem. Corre o risco de sair da esfera da arte e ficar na confissão comezinha, banal. Você tem que dar transcendência ao cotidiano.
E a internet, às vezes, é um espaço de muita grosseria também.
Utilizar esse instrumento para ofender, a gratuidade da ofensa, isso não diz respeito ao meu espírito. Uso a internet para ouvir trechos de música, óperas, um texto interessante. Gosto de pesquisar também. Puxo daqui, vou por ali, enveredando por trilhas inovadoras.
A senhora escreve diariamente? Aliás, é a senhora mesma quem escreve ou tem um assessor para isso?
Sim, claro que sou eu mesma. Não gosto de acordos espúrios. Não é uma questão estética, é moral. Sempre sou eu e escrevo sozinha. Mas não sei postar na internet, entrego para a professora.
O Facebook será seu próximo passo?
Me disseram que nesse eu tenho que responder. Isso me causa uma certa desconfiança pois sou escritora em tempo integral; faço discursos, ensaios, livros, organizo textos, conferências, leio os jornais e muitos livros; não terei tempo para responder. Vou aguardar, quem sabe daqui a algum tempo.
Acompanha o blog de alguém?
Não. Como disse, me falta tempo.