Há algum tempo Eduardo Bonito e Nayse Lopez acalentam a ideia de expandir o Festival Panorama para além das fronteiras da Região Sudeste. Considerado o maior festival de dança contemporânea do Brasil, há 20 anos o evento mobiliza o Rio de Janeiro durante duas semanas com espetáculos brasileiros e estrangeiros. Para os dois organizadores, já estava na hora de incluir outras capitais. A partir de hoje, Brasília também será palco do Panorama. ;A cidade tem potencial para a dança;, acredita Bonito.
A versão que chega à capital é reduzida em relação à carioca e vai funcionar como teste. Se no Rio o cardápio de espetáculos chega a 36, a edição brasiliense conta com quatro trabalhos e 12 apresentações que vão ocupar os espaços do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). O coreógrafo carioca João Saldanha é o homenageado do evento e, para comemorar os 25 anos de carreira, ele criou Núcleos, que será apresentado na caixa de vidro do CCBB e ganhou uma arquibancada especial. ;É um grande coreógrafo mas é pouco visto fora do Rio. Ele faz trabalhos bem complexos, com uma sofisticação no movimento. A gente teve a sorte de encontrar um espaço em Brasília onde pudéssemos mostrar a obra dele, que funciona com o público ao redor do palco;, explica Bonito. Núcleos conta com quatro bailarinos e ganhou o Prêmio Bravo! este ano.
Entre os estrangeiros, os organizadores selecionaram o irlandês Collin Dunne, com o trabalho Out of time. Dunne deixou a carreira em uma grande companhia de dança tradicional irlandesa para se embrenhar no mundo dos passos contemporâneos. O tom autobiográfico de Out of time investe na história do bailarino. No palco, ele interage com vídeos e imagens de si mesmo para fazer uma revisão da própria carreira. A delicadeza marca a obra e faz um contraste com o trabalho dos catarinenses da Cena 11 e seu Guia de ideias correlatas. Movimento e força física são matérias-primas para o coreógrafo Alejandro Ahmed, há uma década à frente do Cena 11.
O Guia alterna entre o lirismo e a violência de quedas, tombos e choques praticados com técnicas que protegem o corpo dos bailarinos. A ideia de revisão de carreira também está presente, já que trechos de outros espetáculos da companhia formam as sequências de movimentos. ;Eles trazem conteúdos fortes tanto culturalmente quanto politicamente, mas é um espetáculo que o público em geral vai gostar e assimilar sem problemas de entendimento e hermetismo que às vezes a gente vê em alguns trabalhos contemporâneos;, avisa Bonito.
Criação
A roupagem acadêmica e hermética não é a tônica do Panorama, embora os organizadores sempre reservem espaço para espetáculos que exploram essa vertente. Estimular a criação e a pesquisa está entre as preocupações de Eduardo, mas essas obras ficam reservadas para o Rio de Janeiro. Brasília recebe apenas o laboratório, no qual três coreógrafos trabalham com artistas da cidade na produção de pequenos ensaios a serem apresentados nos intervalos dos espetáculos no CCBB. ;Nossa preocupação é atingir o público.;A programação brasiliense incluiu também as crianças com o português Vice versa, de Victor Hugo Pontes, que explora o ilusionismo e a fragmentação do corpo.
A expansão do Panorama teve início há cinco anos, quando os organizadores decidiram criar um circuito integrado com mostras de dança por todo o país para aproveitar a vinda de companhias estrangeiras. ;A gente acha antieconômico e antiecológico trazer grupos de outros países para fazer uma ou duas apresentações;, explica Bonito. Além de passar pelo festival carioca, os artistas estrangeiros se apresentam no Fórum Internacional de Dança de Belo Horizonte, no Festival Internacional de Dança do Recife e na Bienal Internacional de Dança do Ceará. Este ano, São Paulo também recebe alguns espetáculos da mostra.
ARTE E IMAGEM
; Experimento em vídeos compõem a mostra Panorama de vídeos e de dança, de hoje ao dia 20 (exceto às segundas), sempre às 13h, no auditório do CCBB. Produções nacionais e estrangeiras foram selecionadas para ampliar o alcance do festival. Além de Skinnerbox, do Cena 11, o público poderá conhecer o trabalho de videodança de artistas franceses, espanhóis, argentinos, suíços e sul-africanos.
FESTIVAL PANORAMA 2011 ; ETAPA BRASÍLIA
De hoje a 20 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil
(SCES, Tr. 2 Cj. 22; 3310-7087)
GUIA DE IDEIAS CORRELATAS
Com a Cena 11 Cia. de Dança. Hoje e amanhã, às 21h, no CCBB. Domingo, às 20h. Ingressos: R$ 6 e R$ 3 (meia). Classificação indicativa livre.