Diversão e Arte

Orquestra Sinfônica de São Paulo se apresenta hoje na Sala Villa-Lobos

Nahima Maciel
postado em 06/11/2011 08:00 / atualizado em 07/01/2021 15:01

O maestro Yan Pascal Tortelier encara o concerto de hoje como uma grande aventura. Com hora para começar e terminar, percurso certo, mas ainda assim uma surpresa. Mesmo com roteiro e ensaio, é impossível antecipar a emoção (ou não) que a música pode provocar. Nesse sentido, a aventura realmente pode surpreender. O maestro francês tem encarado assim a atuação à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) desde 2009, quando substituiu John
Neschling. Depois de uma turnê de 15 concertos pela Europa, chegou a vez do Brasil. Com as sete cidades previstas no programa (Brasília é a terceira), Tortelier dá os últimos passos com a sinfônica antes de entregá-la para a norte-americana Marin Alsop no próximo ano. Mas ele se recusa a falar em término.

O maestro prefere falar da experiência com a orquestra brasileira. “Cada concerto é sempre único. Herdei isso do meu pai, que era um grande músico e me inculcou essa ideia de que cada apresentação é um acontecimento.” O programa é mais ou menos o mesmo para toda a turnê e saiu da inteligente concepção de Tortelier para o que seria um repertório ideal. Ele começa com o romantismo da abertura de Sonho de uma noite de verão e do Concerto para violino de Félix Mendelssohn-Bartholdy, o único compositor feliz da turma dos românticos, e encerra com Cenas de Romeu e Julieta, de Sergei Prokofiev.

A costura é sugestiva: romantismo nascente com modernismo lírico. Difícil de resistir, na visão de Tortelier. “O concerto de Mendelssohn , para mim, é o mais bonito já escrito para violino. E eu queria fazer Romeu e Julieta com a Osesp porque não havíamos feito ainda e é uma especialidade minha. Eu gosto de descobrir, mas também de acrescentar e fazer obras que conheço muito bem.” A liga fica por conta dos temas shakespeareanos. Há uma distância no tempo e no estilo em relação à maneira como Mendelssohn tratou os Sonhos de uma noite de verão e Prokofiev fez seu Romeu e Julieta, mas ambos vieram de Shakespeare e o espírito que embalou as peças também contaminou os compositores. “As duas peças fazem uma ligação entre o início e fim do concerto. Não conheço ninguém que possa resistir à música de Prokofiev e espero que o público de Brasília se delicie”, avisa o maestro.

Sequências
E o violino de Mendelssohn merece um destaque. Tortelier conta com o violinista ítalo-alemão Augustin Hadelich para extrair o equilíbrio entre a rapidez de certas sequências e a delicadeza da melodia. O belo tema deste concerto é oferecido desde as primeiras notas, com o ataque do violino antes mesmo que a orquestra entre, num crescendo que antecede momentos de extremo romantismo. Mas Hadelich é um especialista nisto. “Esse concerto é uma das minhas peças favoritas. Já toquei várias vezes. É muito emocional, romântica e excitante. Não é uma peça inteiramente feliz, há tristeza, mas o último movimento, com certeza, é extremamente feliz. Mendelssohn era uma pessoa muito luminosa e dá para ver isso.”

Aos 27 anos, com boa parte da formação orientada pelo pai na vinícola da família em uma região rural da Itália e outra parte completada na Julliard School de Nova York, onde mora, Hadelich é considerado uma das jovens promessas internacionais do violino, celebrado pela versatilidade e espontaneidade. Apesar da pouca idade, já traz no currículo a gravação dos concertos para violino de Joseph Haydn e a integral das Fantasias para violino, de Georg Phillip Telemann. “Minha trajetória é inusitada, eu não tinha aulas toda semana e tinha bastante tempo para praticar enquanto crescia. E tive muitos professores diferentes, essa é a vantagem de não ter um mentor regular. A Julliard ajudou a polir algumas coisas na minha maneira de tocar, me fez mais profissional”, conta Hadelich.

Concerto da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp)
Regente: Yan Pascal Tortelier. Hoje, às 17h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Ingressos: R$ 54 e R$ 27 (meia). Classificação: 12 anos.

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