Diversão e Arte

Cantora Camilla Inês surpreende interpretando standards em disco de estreia

postado em 07/11/2011 08:38

Camilla começou a chamar a atenção depois de incluir no MySpace três músicas que gravou em um CD demo

Camilla Inês canta desde menina, mas demorou a enxergar a música como profissão da qual pudesse viver. Essa visão só mudou em 2007, quando ela gravou um CD demo com três faixas ; os standards In a sentimental mood, Speak low e You call it madness. A intenção era ter uma amostra para apresentar a programadores de casas noturnas com música ao vivo. Sem qualquer pretensão, ela incluiu a gravação no MySpace. E o retorno que isso teve, nem Camilla esperava: ;Até me arrependi depois que postei. Tive receio de que não gostassem, do que pensariam daquela brasileira cantando em inglês; Mas coloquei no domingo e na quarta recebi e-mail do pessoal do Jazz masters, da rádio Território Eldorado, de São Paulo, pedindo para divulgar o CD. Mal sabiam que eu só tinha três músicas (risos);.

E não ficou nisso. Quando levou o demo para mostrar a um amigo que trabalhava na Livraria Cultura de Recife ; onde Camilla morava à época ;, ele pôs para tocar no ;aquário; em que ficam os discos de jazz. O encarregado de compras da loja ouviu e demonstrou interesse em ter o CD à venda. ;Ele perguntou onde eu tinha gravado. Eu disse: ;Na rua da Concórdia, ali na esquina;. Aí queria saber se tinha código de barra, quantas unidades eu teria; E eu só tinha aquele (mais risos).; Não satisfeito, o rapaz convidou Camila Inês para fazer uma temporada de shows no auditório da livraria. Daí para um disco ;de verdade;, foi um pulo. A cantora conheceu o baterista Misael Barros e o convidou para produzir. Ele apresentou-a ao tecladista Ed Staudinger e o trio partiu para definir o que seria Jazzmine.

O disco de estreia da cantora chama a atenção, primeiro, pelo esmero da embalagem, que traz no projeto gráfico referências à era do rádio e CD imitando um vinil ; com direito a sulcos e faixas separadas. Depois, surpreende pela qualidade do conteúdo, conhecidos exemplares do jazz reinventados por uma intérprete segura e com arranjos modernos, que mesclam influências e preferências do trio de produtores. ;Ed tem muito de soul, de black music; Misael é mais voltado para o jazz, música brasileira; E eu entrei com minha linguagem do cool jazz;, explica a cantora, feliz por ver seu trabalho alçar voo, literalmente ;- músicas de Jazzmine vêm sendo tocadas nos aviões da TAM e da TAP.

Lado A
Um detalhe que pode frustrar o ouvinte é a curta duração. São apenas sete faixas. Aos clássicos Speak low, Tenderly, In a sentimental mood, My funny Valentine e Cry me a river, ela adicionou a bossanovista Eu a brisa e uma inédita, Indecisão, composição de Veralúcia Sampaio, mãe de Camila. ;A ideia era essa, deixar um gosto de quero mais;, brinca Misael. Por isso mesmo, Jazzmine é identificado no rótulo como ;lado A;, dando a entender que o outro lado está por vir. Já a decisão ousada de gravar músicas conhecidas nas vozes de grandes intérpretes é fruto da intuição: ;Essas músicas são referências. Embora eu ouça muito música brasileira, o jazz é o que mais me arrebata. Não consigo definir;;.

Os pais de Camilla, os pernambucanos Veralúcia e Francisco Olbert, já falecido, mudaram-se para Brasília em 1982. Trouxeram as duas filhas pequenas e o gosto por música. Compunham frequentemente. ;Eu, minha irmã, Vera, e minha mãe éramos as intérpretes;, conta Camilla Inês. O casal, no entanto, nunca se arriscou a fazer disso profissão, e a filha pensava o mesmo: ;Eu cantava, mas não tinha um cunho profissional naquilo, eu não me sentia amadurecida;. O que não a impedia, no entanto, de mostrar seus dotes vocais em público, inclusive nos tempos em que morou nos Estados Unidos e na Europa. Até que ela voltou a morar em Recife e aconteceu o tal CD demo, que mudaria seus planos. ;A coisa tomou outro rumo, comecei a fazer shows, a promover o CD. A outra perspectiva, de cantar na noite de Recife, ficou encostada. O que eu pensava que ia cair no ridículo, caiu no gosto.;

Presente e futuro
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De volta a Brasília desde 2009, Camilla Inês, ao mesmo tempo em que divulga Jazzmine, integra grupo de músicos de um projeto que leva o jazz para apresentações nas casas das pessoas. ;Já fazemos isso em São Paulo e Recife e adaptamos a ideia a Brasília, criando o Lá em Casa tem Jazz (laemcasatemjazz@gmail.com), pois lugares para tocar estão raros. E, também, a essência do jazz é essa, de garagem. Em um ambiente em que as pessoas podem bater papo e curtir a música, fica melhor, mais intimista;, diz. O próximo disco também já ocupa a cabeça da cantora, que quer tirar da gaveta composições dos pais. ;Será mais autoral, quero gravar músicas deles e de novos compositores;, antecipa.

JAZZMINE
Primeiro disco da cantora pernambucano-brasiliense Camilla Inês. Sete faixas, produzidas por Camila Inês, Misael Barros e Ed Staudinger. Lançamento independente. Preço médio: R$ 25.

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