Diversão e Arte

Jorge Brito reuniu mais de 100 caricaturas de Juscelino Kubitschek em livro

Severino Francisco
postado em 08/11/2011 08:38

Jorge Brito, livreiro, colecionador e pesquisador

O ex-presidente Juscelino Kubitschek é um daqueles personagens que parece ter sido talhado sob medida para a pena dos caricaturistas: simpático, de riso largo, laborioso, inovador, arrojado, sonhador, pragmático, namorador, boêmio e pé de valsa. A sua história se misturou de maneira indivisível com a de Brasília, a sua obra mais audaciosa. O cearense Jorge Brito é livreiro, colecionador e pesquisador e, a cada biblioteca que compra, fica dividido entre os três interesses. Ele reuniu um precioso acervo com cerca de 100 caricaturas de Juscelino visando à publicação de um livro, a ser organizado: ;É uma verdadeira história não oficial brasileira o que podemos depreender das caricaturas de Juscelino;, comenta Jorge. ;Considero importante que os jovens tenham acesso a essa verdadeira história crítica do país registrada no traço dos cartunistas. A história do Brasil e de Brasília passa pela caricatura;.

Jorge mora em Brasília desde a década de 1980. A vontade de colecionar começou nos tempos em que era um menino nascido em uma família pobre, em Fortaleza, e olhava fascinado para os livros e discos dos sebos de calçada. ;Ficava frustrado, pois não podia comprar nada.; Mas ele foi aprovado em um concurso para o Banco do Brasil, tornou-se funcionário público, juntou-se a colegas e fundou um sebo. O pesquisador vive em Taguatinga e reserva um dos cômodos da casa para ser uma espécie de biblioteca de babel, capaz de reunir o caos de livros, revistas e discos: ;Vivo brigando comigo a cada biblioteca que adquiro. O trabalho de livreiro acabou dando vazão ao meu colecionismo. O nordestino é igual aquele bicho, o cassaco, que leva tudo para a sua toca;.

A magreza de JK é satirizada por Alan BiqueA pesquisa sobre as caricaturas é, na verdade, um recorte do interesse pela história de Brasília, que o levou a acumular um vasto acervo. As caricaturas de Juscelino foram publicadas, principalmente de 1955 a 1960, nas revistas Vitamina, Careta, O Cruzeiro, Maqui, Manchete, Mundo Ilustrado, Tribuna da Imprensa, Binômio e O Pasquim. Na Tribuna, jornal de Carlos Lacerda, JK sofreu uma oposição cerrada no traço ferino de Hilde. Na Careta, Theo destilava um humor gaiato em caricaturas e charges coloridas, com requinte gráfico. Em Vitamina, a célebre magreza do presidente Bossa Nova é gozada sob a legenda: ;Um presidente muito fino;.

Polêmicas
Maqui, dirigida pelo então deputado Amaral Neto, desfechava uma crítica corrosiva a JK, quase sempre no traço da mesma Hilde, da Tribuna da Imprensa. Animado por raro senso de humor, o presidente se divertia com as polêmicas que provocava: ;A caricatura é uma linguagem libertária;, comenta Jorge: ;JK tinha espírito democrático e aquele período foi marcado por muita liberdade de imprensa. O humor floresceu na era JK com o surgimento de inúmeras publicações;.
[SAIBAMAIS]
A fonte de inspiração para a pesquisa de Jorge é o livro que Herman Lima organizou sobre as caricaturas de Rui Barbosa. Entre as preciosidades do acervo, Jorge tem a cópia de um desenho do cearense Mendez, ainda inédita. ;É preciso contextualizar as caricaturas e charges para facilitar a compreensão de novas gerações;, enfatiza. ;Era uma crítica feita com humor, imaginação e arte, mesmo quando tendenciosa ou injusta.; Ele faz questão de colocar todo o material que guarda à disposição para a pesquisa: ;Não sou do tipo do colecionador que ostenta grandes volumes nas prateleiras. A informação tem de circular. Não vejo outro destino para os livros e as revistas. Acho que, apesar de ser uma cidade nova, Brasília cuida pouco de sua memória;.

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