Algumas formações de câmara viraram lenda na história da música graças aos instrumentistas que a integraram. É o caso do Smetana. Criado em 1934 pelo pianista Josef Pálenícek, o trio foi pouso de Mstislav Rostropovich e David Oistrakh. Virou mito porque é um dos mais ativos quando se trata de música tcheca. Gravou tantas peças do repertório para trios de violino, violoncelo e piano de compositores conterrâneos que, neste ano, resolveu ampliar o repertório para além das fronteiras da República Tcheca e gravou um disco com Mendelssohn e Schubert.
Por essa razão, o Concerto tríplice, de Ludwig van Beethoven, é a peça única do programa de hoje, ao lado da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro ; segunda parada da primeira turnê brasileira do Smetana. Formado pela violinista Jana Voná;ková-Nováková, pela pianista Jitka Cechová e pelo violoncelista Jan Pálenícek, filho do fundador, o trio esteve no Brasil uma única vez em 2009, mas se apresentou apenas no Rio de Janeiro.
Para a turnê, o Smetana preparou um repertório que mescla música tcheca, especialidade do grupo, com russa e alemã. O Trio Dumky, de Antonin Dvorak, terá a companhia do Trio para piano em A menor, de Piotr Illich Tchaikovsky, mas esse repertório ficou reservado apenas para o recital realizado, no último sábado, na Fundação Universa. Hoje, o programa será inteiramente preenchido com os 40 minutos do concerto de Beethoven. O repertório é diferente do apresentado em 2009, quando o grupo preparou o Trio n; 2, de Heitor Villa-Lobos, e quebrou a cabeça para chegar à perfeição do equilíbrio entre o romantismo e as referências nacionais embutidos na peça.
Como um solo
;Villa-Lobos é muito difícil e a audiência adora, o que quer dizer que vou tocar um monte de Villa-Lobos agora. Não é uma peça que você pode tocar em uma primeira leitura;, explica a violinista Jana. ;Ficamos impressionados com a reação espontânea da plateia quando tocamos essa peça: as pessoas levantavam e gritavam bravo. É claro que se sente as influências do folclore sulamericano, mas também é uma peça muito romântica e expressiva;, completa a pianista Jitka, responsável pela introdução do trio.
O concerto de Beethoven programado para hoje foi composto para três instrumentos solistas. O compositor teria escrito a peça para um aluno muito jovem, o que explica a relativa simplicidade da partitura do piano. A ideia era que a peça pudesse ser executada pelo jovem e amparada por dois solistas mais experientes, no caso o violino e o violoncelo. É uma boa oportunidade para conhecer as habilidades do Smetana. Alguns críticos costumam dizer que a excelência de grupos de câmara está no fato de eles conseguirem tocar como se fossem um único instrumento. No caso do concerto, o trio precisa funcionar como o instrumento solo da obra.
O Smetana nasceu pouco antes da Segunda Guerra Mundial e passou por períodos de inatividade e nova estruturação desde então, mas está bastante ativo desde a década de 1990. Os períodos de transição em formações muito antigas nem sempre são tranquilos e o Smetana passou por algumas reformulações, mas, desde 2003, mantém a atual configuração com solistas conhecidos pela excelência.
SMETANA TRIO
Trio tcheco toca com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro. Hoje, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Entrada franca mediante retirada de ingressos na bilheteria.
Assista ao video do Smetana Trio: