Em 2010, enquanto Kanye West liderava as listas de melhores do ano com o grandioso My beautiful dark twisted fantasy, o canadense Drake lançava seu debute, Thank me later. Uma estreia decente, com bons singles, como Find your love e Over, mas que parecia inexpressiva perto do poderoso trabalho do norte-americano. Logo depois, em novembro do ano passado, o ainda promissor Drake iniciou a produção do segundo álbum, Take care. O resultado, que vazou na internet antes da divulgação oficial, programada para o próximo dia 15, é um estouro sonoro com as proporções da fantasia luxuosa de West: uma jornada confessional e noturna de 74 minutos, com participações da diva Rihanna, do amigo da cena independente de r The Weeknd e até de Stevie Wonder.
;Basicamente, no processo criativo, fiz muitas músicas como peças de uma história;, disse o cantor canadense ao portal Stereogum. ;É sonoramente consistente e acho que a história está muito clara;, completou.
Numa trajetória por enquanto bem comportada em relação aos seus pares, sempre falantes e armados de declarações polêmicas, Drake é discreto. Quando ficou sabendo que seu novo CD caiu na rede com dias de antecedência, não demonstrou incômodo. ;Ouçam, curtam, comprem se gostarem; e se cuidem até a próxima vez;, postou, em sua conta no Twitter (@Drake). À revista Billboard, ele chegou a dizer que é fã de vazamentos: ;Dá às pessoas a oportunidade de julgar uma coisa antes de comprar. Acho que só pode ajudar;.
Quando o assunto é música, ele não economiza detalhes. O próximo disco será em colaboração com Lil Wayne, outro que, pouco a pouco, consegue espaço entre os gigantes do hip-hop. A mixtape em que ele trabalha atualmente, ao lado de Rick Ross, com quem divide o microfone num dos melhores momentos de Take care, Lord knows, deve ficar para depois. ;Nós dois, eu e Wayne, concordamos que poderia ser visto como uma competição com Watch the throne (de Jay-Z e Kanye West, lançado em 2011);, explicou ao site The Source.
Rei do underground
Em vez de uma viagem de paragens melancólicas, Drake desvia de reflexões repetitivas sobre a fama e evolui como letrista e músico. A aproximação com Abel Tesfaye, do The Weeknd, inspira batidas secas e versos soturnos, que não veem no sucesso motivos para confissões angustiadas ou arrependidas. ;Mas vendo que minha família tem tudo/ Isso tomou o lugar do desejo por diplomas na parede/ E, realmente, eu acho, gosto do que estou me tornando;, ele confirma na segunda estrofe de Crew love. Na primeira estrofe, Tesfaye, como na sua surpreendente primeira mixtape, House of balloons, relata as eróticas experiências de um incansável andarilho noturno, acompanhado ;de um monte de garotas da Espanha, da Polônia;.
Dividido entre experimentos narrativos, como nas suítes Marvins Room/Buried alive e Cameras/Good ones, e parcerias com Lil Wayne, André 3000 (do OutKast) e Nicki Minaj ; além de nomes menos populares, como a canadense Chantal Kreviazuk e Kendrick Lamar ;, o artista de 25 anos não tem vergonha de esbanjar alguns dólares e ainda assim se reconhecer como independente.
;Disse algo parecido com ;gostaria de não ser famoso; no Thank me later;, comentou, em entrevista ao Stereogum. ;Isso me machucou porque percebi, meses depois, que não me sentia daquele jeito. Eu sou rico. Posso fazer o que quiser. Posso ir aonde eu quiser. Criei oportunidades para as pessoas. Minha mãe fez uma cirurgia que nunca teve condições de pagar. Não estaria em nenhum outro lugar a não ser aqui. Se você não vai com a minha cara, dane-se, cuide-se. Basicamente, (o disco) é sobre isso.;
TAKE CARE
Segundo disco do rapper canadense Drake, produzido por Noah ;40; Shebib, Boi-1da, T-Minus, Lex Luger, Kane Beatz, The Neptunes e Kromatik. Lançamento (no dia 15) Young Money/Cash Money/Universal Republic, 17 faixas. Importado:
US$ 14,99 (CD) e US$ 16,63 (vinil). ****
Confira clipe Marvins Room, de Drake: