Diversão e Arte

Brasília é um dos sets principais do novo longa de Murilo Salles

postado em 13/11/2011 08:00

O alarme de incêndio da Câmara dos Deputados está ligado, mas não há fogo. O sinal sonoro foi disparado por engano. O intervalo forçado pelo dispositivo de segurança não tira a concentração de Murilo Salles e da equipe cinematográfica, a postos, para uma cena na esteira rolante, que liga os anexos 2 e 4. O barulho cessa. ;Beleza, vamos voltar;, orienta uma assistente de direção. ;Todo mundo nas posições;, grita a jovem. ;Vai, esteira;, ela diz para que outro integrante da equipe faça-a funcionar. ;Ação!”. Pessoas passam apressadas. Uma mulher discute ao celular. A movimentação dura poucos minutos. Corta. ;Foi lindo, Cíntia!”, elogia o diretor sobre a atuação da atriz Cíntia Rosa. Mas Salles quer mais algumas tomadas. Todos voltam às posições iniciais e repetem tudo outra vez. E outra vez. E outra vez. Cinema é assim. Recriar a realidade exige paciência.

Murilo Salles instrui a atriz Cíntia Rosa em cena rodada na esteira rolante do Legislativo
;Cada vez mais, eu gosto de fazer ficção pela pegada documental, tentando ser o mais realista possível;, comenta o cineasta carioca, 61 anos, em entrevista ao Correio. ;Acho que você constrói uma bela ficção sendo um bom documentarista. E só se torna um bom documentarista fazendo ficção;, afirma. No último dia 5, depois de rodada a sequência da esteira, Salles tinha duas cenas para fazer no Senado. No dia seguinte, ele e a equipe voltaram ao local para filmar. E voltarão para lá em futuras datas. É que o Congresso é pano de fundo para O fim e os meios, novo longa-metragem de Salles.


Apesar do cenário, o filme não é sobre política, ainda que o assunto permeie a trama. ;O brasileiro tem essa coisa de ;eu não tenho nada a ver com política;. Como assim? O ato de você comprar uma água mineral da marca X ou Y é um ato político. Se você fuma ou não; Se dirige acima de 100km por hora na cidade; São atos políticos. Tudo o que você faz, todas as suas decisões interferem no outro;, reflete o diretor. Seguindo essa linha de pensamento, Murilo Salles considera esse seu projeto mais explicitamente político ; ainda que as relações humanas, ele pondera, sejam o escopo do filme.

Amores de gabinete
O título do longa dá pistas sobre as inspirações do diretor. ;Quero mostrar que não existe fim, existem os meios. A vida é o meio. E o meio é a mensagem do filme.; A ganância desmedida por poder, dinheiro e sucesso, diz Salles, pode desandar a vida de uma pessoa. ;Essas coisas projetam as contradições da ambição, da desmesura da alma humana;, observa.

Set movimentou a Câmara dos Deputados num dia sem atividade parlamentar
No filme, Marco Ricca interpreta Hugo, jornalista paulistano, assessor de imprensa de um senador veterano em busca de melhorar sua imagem pública para tentar a reeleição. ;O meu personagem é gente boa, mas não consegue ouvir muito não. Se precisar, ele te mata!”, brinca o ator, 48 anos. Para a campanha do senador, Hugo contrata o jovem publicitário carioca Paulo Henrique (papel de Pedro Brício), que vem do Rio para Brasília com a mulher, a jornalista Cris Moura (Cíntia Rosa), e a filha pequena. ;Eles estão juntos por causa da menina, não por amor;, detalha a atriz, 31 anos. A personagem enxerga a vinda para a cidade como uma oportunidade de crescer na profissão, trabalhando na cobertura jornalística política. ;Paulo vai trabalhar com o senador em Alagoas, que é o estado base dele, e abandona a mulher em Brasília. E Cris começa uma relação muito apaixonada com o patrão do marido, o Hugo;, adianta Murilo Salles.


O elenco de O fim e os meios ainda conta com Murilo Grossi, Emiliano Queiroz, Hermila Guedes, Jonas Bloch e Elisa Lucinda. Além de Brasília, as filmagens passarão por Rio de Janeiro e Maceió.

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