Os Beatles são o maior fenômeno pop da indústria musical. Quatro décadas após o fim da banda, a simples referência a eles ainda é capaz de despertar euforia. Ver de perto um ex-integrante do quarteto de Liverpool será um sonho realizado para os brasilienses que vão ao show de Ringo Starr, hoje, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. O baterista apresenta-se pela primeira vez na capital e vem acompanhado da All Starr Band, como parte de sua turnê pela América Latina.
Brasília é a penúltima etapa do giro do músico britânico. Depois da cidade, Ringo vai para Recife, onde encerra a turnê (ele já esteve em Cidade do México, Santiago, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre). Aos 71 anos, o baterista ainda ostenta fôlego suficiente para um show com cerca de duas horas de duração.
Toda a turnê é baseada no carisma de Ringo Starr. Os shows são recheados de músicas pouco conhecidas e, ainda por cima, não contam com as superproduções típicas do pop. O que chama a atenção é a bateria utilizada pelo ex-beatle, decorada com uma estrela, deixando claro quem é o personagem principal de todas as apresentações.
O repertório apresentado tem dois momentos de alta intensidade. Os primeiros acordes de Yellow submarine e de With a little help from my friendes ; dois monstruosos sucessos dos Beatles ; fazem a plateia vibrar na apresentação. Os fãs também podem curtir outras canções como Honey don;t, I wanna be your man, Boys e Act naturally.
Ringo também aposta em algumas músicas de sua carreira solo. The other side of Liverpool é uma das músicas do mais recente disco do músico, Y not, e conta uma interessante história sobre a vida do baterista em sua cidade de origem. Nos versos, ouvimos passagens como ;o outro lado de Liverpool/ Local de onde eu vim/ Minha mãe era uma garçonete/ E nos meus três anos meu pai se foi;.
Mesmo sendo a grande estrela da turnê, Ringo Starr é generoso com os colegas da All Starr Band. Durante a apresentação, os músicos têm seu próprio momento, com direito a discursos, solos de guitarra, saxofone, teclado e percussão.
Instrumentistas
O grupo não leva o nome de All Starr Band apenas para fazer um trocadilho com o nome do baterista. O guitarrista Rick Derringer, por exemplo, é ex-integrante do grupo The McCoys, que, em 1965, tirou Yesterday do primeiro lugar das paradas com o mega hit Hang on Sloopy (que no Brasil ganhou versão de Leno & Lílian, Pobre menina).
O tecladista Edgar Winter (irmão do grande guitarrista de blues rock Johnny Winter) tem uma longa trajetória solo. Além da banda Mr. Mister, o baixista Richard Page já trabalhou com uma lista de artistas que conta com Elton John, Michael Jackson, Madonna e Barbara Streisand. Wally Palmar é a voz por trás do sucesso oitentista What I like about you, de sua antiga banda, The Romantics.
Pioneiro no uso de sintetizadores no rock, o tecladista Gary Wright é ex-integrante do grupo de hard rock Spooky Tooth. Desde os anos 1980, o baterista Gregg Bissonette grava e excursiona com artistas como Toto, ELO, Santana, Andrea Bocelli, Spinal Tap e James Taylor. Na turnê latina, a All Starr Band conta também com o saxofonista Mark Rivera.
O baterista que sonhou alto
; Tiago Faria
Richard Starkey, 71 anos, se considera um músico ;apenas eficiente;. Mas, no início deste ano, quando a edição americana da revista Rolling Stone elegeu os melhores bateristas da história, Ringo Starr ficou em quinto lugar. Virtuosismo nunca foi o forte deste inglês de Liverpool. Mas o talento para driblar limitações, um trunfo do músico, já se manifestava desde criança. Aos 6 anos, quando se recuperava de uma cirurgia, caiu e ficou em coma por um ano. Na adolescência, enfrentou doenças e alergias. Um período dramático que seria compensado por um longo verão: em outubro 1960, no lugar certo (uma casa de shows em Hamburgo), conheceu os Beatles. Dois anos depois, substituiu o baterista Pete Best numa das bandas de rock mais populares de todos os tempos.
Nos anos 1960, Ringo não era considerado o beatle mais criativo (pódio dividido entre Paul e John, a depender da preferência dos fãs) nem o mais habilidoso (mérito de George, um guitarrista excelente). Discretamente, e com bom humor, ele impôs um estilo que seria reconhecido décadas mais tarde, por fãs como Phil Collins e Dave Grohl (do Foo Fighters). O vozeirão grave do astro criou um personagem excêntrico para canções como Yellow submarine e With a little help from my friends, que Lennon e McCartney escreviam para o colega de banda. De tanto insistir, acabou por se mostrar também compositor, nas faixas Octopus;s garden e Don;t pass me by. O talento para a atuação em filmes e séries, em contraste, parecia natural.
Após o fim dos Beatles, em 1970, gravou 15 discos numa carreira solo irregular ; com sucessos, vexames e muitas parcerias musicais. Acima de tudo, tornou-se conhecido como um ídolo generoso, carismático. E pioneiro: um dos primeiros bateristas que ousaram ser popstar...
Ringo Starr
Acompanhado da All Starr Band, hoje, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental), às 22h. Ingressos: R$ 450 (VIP gold); R$ 350 (VIP gold lateral); R$ 300 (VIP A); R$ 250 (VIP B); R$ 150 (VIP superior); R$ 400 (VIP A extra); e R$ 500 (VIP gold extra). Valores de meia-entrada e sujeitos à alteração. Assinantes do Correio têm 50% de desconto no ingresso inteiro (cupom Sempre Você). Não recomendado para menores de 12 anos.
[SAIBAMAIS]
PRINCIPAIS DISCOS
Beaucoups of blue (1970)
No segundo disco solo, Ringo surpreendeu com um repertório country, gravados ao lado de músicos de Nashville. No mesmo ano, já havia lançado o disco de standards Sentimental journey.
Ringo (1973)
O primeiro sucesso abre com uma canção escrita por Lennon (I;m the greatest) e contém uma das prediletas do baterista, Photograph (composta com George). McCartney também colabora, em Six o; clock.
Goodnight Vienna (1974)
O quarto disco é uma continuação direta de Ringo: convidados reforçam o caldo. Lennon volta a contribuir, com a abertura (It;s all da-da-down to) Goodnight Vienna, num elenco que inclui Elton John e Dr. John.
Time takes time (1992)
Depois de um período de pouca criatividade nos anos 1980, o baterista convocou o produtor Don Was (um dos gurus dos Rolling Stones) em busca de um som sessentista. Brian Wilson, ex-Beach Boys, participa.
Choose love (2005)
Recebido como um dos discos mais coesos de sua carreira, Choose love dispensa coadjuvantes famosos e fecha o foco na colaboração entre Ringo e os compositores Mark Hudson e Gary Burr.
Setlist
It don;t come easy
Honey don;t
Choose love
Hang on sloopy
Free ride
Talking in your sleep
I wanna be your man
Dream weaver
Kyrie
The other side of Liverpool
Yellow submarine
Frankenstein
Back of boogaloo
What I like about you
Ronck;n;roll hootchiekoo
Boys
My love is alive
Broken wings
Photograph
Act naturally
Help from my friends
Give peace a chance
Leia depoimentos de fãs de Ringo Starr:
"Sou filha de um fã MUITO ESPECIAL de Sir RINGO STARR. Compramos ingressos para o Show de Brasília - DF, e meu irmão irá acompanhando meu pai, José de Almeida, 65. Papai sofreu um acidente gravíssimo no início do ano e ficou em coma por quase 20 dias. Fã dos Beatles e, em especial, do Ringo, enquanto estava em coma, reagiu a uma música que cantamos para ele, do Ringo (with a little help from my friends). Depois deste dia, os médicos autorizaram deixar um aprelho de som ligado no CTI tocando música dos beatels. Papai saiu do coma, com ajuda da musicoterapia, e está em processo de recuperação. Mesmo depois de ter passado por mais duas cirurgias na cabeça (nos últimos apenas quatro meses) nos pediu para ver o Ringo. Compramos ingressos para ele ver o Ringo esta sexta, sendo que na semana que vem ele está sob o risco de uma terceira cirurgia na cabeça que, rezamos à Deus que não seja necessária."
Ana Paula Caldas de Almeida
"Sou fã dos Beatles. Essa vai ser segunda oportunidade que eu tenho de conhecer um ex-integrande da banda. Já conheci o George Harrison quando ele esteve em São Paulo, há alguns anos atrás, em uma corrida de Fórmula 1. Na oportunidade ele estava lançando a música Faster. Minhas expectativas são as melhores. Vou escutar as músicas boas dele e, o melhor, é que ele vai tocar músicas dos Beatles. Acho que ele vai tocar a música mais famosa dele I don;t come easy, que eu gosto muito."
Newton Grande, 56, aposentado