Irlam Rocha Lima
postado em 22/11/2011 08:30
O poeta e letrista carioca Bernardo Vilhena alimenta um sonho longe das praias ensolaradas do Rio: planeja criar em Brasília o Museu da Fotografia Brasileira. ;A escolha da capital do país, em minha imaginação, se deveu ao modernismo que inspirou a cidade, à famosa luminosidade do céu do Planalto Central e ao clima seco, que contribui enormemente para a conservação do objeto fotográfico.;A ideia de Vilhena vem ao encontro das ações da ministra da Cultura, Ana de Holanda, e do governador Agnelo Queiroz. No último dia 7, foi anunciada uma parceria entre a pasta e o Governo do Distrito Federal, com o objetivo de construir dois novos museus na capital até a Copa do Mundo de 2014, e mais três posteriormente. Todos farão parte do programa Esplanada dos Museus.
Ficou decidido que caberá ao GDF fornecer terrenos para a instalação dos museus, enquanto o ministério ficará responsável pela captação de recursos e pelo estabelecimento de parcerias para a construção das unidades. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional será consultado para se manifestar sobre a viabilidade do empreendimento.
Há muito Vilhena sonha com seu projeto. De acordo com ele, o Museu da Fotografia abriria espaço para cursos, exposições e a manutenção de arquivos. ;Penso num espaço que possa contar a história do Brasil a partir do momento em que o país, ao olhar para o centro, e não apenas para o litoral, se redescobriu e experimentou um crescimento que hoje aumenta sua responsabilidade diante de outras nações.; O poeta acrescenta: ;Temos assistido à ocupação, cada vez maior, da fotografia no espaço dos museus. Então, por que não idealizar um local dedicado exclusivamente a essa arte, baseado em memória, conectividade e interatividade?;.
[SAIBAMAIS]
Sobrinho e primo de museólogas, que influenciaram em sua formação, Vilhena fez curso de fotografia no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, e se envolveu com quatro fotógrafos, os quais tomou como mestres e amigos: Antônio Penido, Lauro Escorel, Douglas Lynch e Afonso Beato. Com eles, aprofundou o aprendizado da técnica, da estética e da história da fotografia. Segundo ele, o fato de o curso ter sido realizado no MAM lhe deu a possibilidade de enxergar através das paredes do museu e aprender toda a movimentação em torno de uma exposição, desde sua montagem até a repercussão por ela causada.
Vilhena vê o Brasil intimamente ligado ao surgimento da fotografia no mundo e lembra que Hercule Florence, um dos pioneiros da arte fotográfica, morava em Campinas (SP), quando, em 1833, registrou seu invento baseado no processo de reprodução ; positivo e negativo. Ao referir-se ao período imperial, extrai de lá o fato de Dom Pedro II ter sido fotógrafo e dono de uma expressiva coleção de retratos, o que influenciou outros integrantes da corte.
Poeta e agitador cultural
O carioca Bernardo Vilhena, aos 62 anos, tem dado importante contribuição à arte e à cultura brasileira, em diferentes áreas. Fundador e editor das revistas Ponte e Malasarte, integrou o grupo poético Nuvem Cigana, ao lado de Chacal, Ronaldo Bastos e Ronaldo Santos, entre outros, pelo qual lançou os livros Retrato de Época e Poesia Marginal Anos 70 . Em 1975, publicou o livro O rapto da vida e participou da antologia 26 Poetas Hoje, coordenada por Heloisa Buarque de Holanda. Como letrista, é parceiro de Ritchie no clássico Menina veneno; e, com Lobão, das músicas Vida bandida, Essa noite não e Chorando no campo. Há três anos promove a Copa Fest, festival de música instrumental realizado no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Foi curador do projeto Live P.A, no Centro Cultural Banco do Brasil, que trouxe a Brasília artistas como Nina Becker, Moreno Veloso, Pedro Sá, Cibelle, Dado Villa-Lobos, Cláudio Zolli, China e Sílvia Machemte.
Duas perguntas - Bernardo Vilhena
Como e quando surgiu a ideia da criação do museu da fotografia?
Surgiu há quase quatro anos, no início do renascimento do Rio de Janeiro, quando circulavam várias ideias de criação de museus de todo tipo. Fui consultado a esse respeito e me lembrei de um antigo projeto meu intitulado A Fotografia através da Família e as Famílias através da Fotografia. A proposta era fazer duas mostras paralelas: uma reunindo antigas fotografias de família ; uma velha prática de uma época em que fotógrafos profissionais percorriam cidades do interior, visitando fazendas e oferecendo seus serviços ; entre o fim do século 19 e o início do 20. A qualidade dessas cópias é impressionante, resiste ao tempo, aos modismos e às comparações com as novas tecnologias. A outra era garimpar fotógrafos amadores com qualidade profissional. Esse projeto tinha, ao mesmo tempo, caráter de preservação e de apuro estético. Acredito que possa ter sido o marco zero do que poderia vir a ser o Museu da Fotografia do Brasil.
O que falta para a ideia ser desenvolvida?
Arregaçar as mangas e começar a trabalhar em cima do projeto. Desenvolver, planejar e viabilizar. Existem várias coleções espalhadas por museus não especializados, que carecem de conservação, classificação e, sobretudo, exposição. Já imaginou o excitamento que pode causar entre os arquitetos de todo o mundo projetar um museu da fotografia em Brasília?