postado em 24/11/2011 08:12
Buzz. A palavrinha em inglês, que mede o nível do falatório sobre um determinado assunto na internet, provoca ruídos às vezes barulhentos no mundo pop. No início de novembro, o burburinho das redes sociais interrompeu uma temporada silenciosa de Madonna. Uma versão da música Give me all your love, que ela só lançaria em 2012, apareceu na web ; e, conforme o previsto, desatou uma torrente de tuítes e posts. Os fãs comemoraram a surpresa. Mas o zumbido parece ter tirado a musa do sério. ;Ela disse que está muito decepcionada. Queremos que o responsável por esse vazamento pare, por favor;, apelou o agente da cantora, Guy Oseary. Estratégia de marketing ou não, o episódio indica as tensões que ainda afetam a relação (sempre tumultuada) entre internet e indústria musical. Em 2011, as grandes gravadoras usaram uma série de medidas para reduzir os danos do ;vazamento; dos discos ; termo que se usa para a divulgação ilegal de músicas antes da data oficial de lançamento. A contenda, no entanto (e Madonna que o diga), ainda não chegou ao fim. Enquanto os artistas independentes se beneficiam da web para apresentar novidades ; muitos deles, aliás, estimulam a troca de arquivos de mp3 ;, os figurões do pop ainda se dividem quando se fala nos efeitos do ;buzz;. Compartilhar ou não compartilhar, eis o dilema.
A reação aborrecida de Madonna, de fato, destoa de um período em que as gravadoras abandonaram estratégias de choque ao lidar com o tráfego de música na web. As novas medidas são mais suaves ; e sofisticadas. Hoje, a ordem não é só punir os responsáveis, mas criar métodos de segurança para evitar que os CDs caiam na rede semanas antes da data de lançamento, e inventar formas legais de promover pré-estreias on-line dos discos (geralmente com a tecnologia ;streaming;, que permite a audição sem o download de arquivos). Ainda são poucos os casos em que a blindagem funciona perfeitamente ; 99% dos discos acabam ;vazando;, de acordo com a empresa de segurança on-line Web Sheriff, que oferece serviços a artistas como Lady Gaga e Beyoncé. Os avanços nessa área, no entanto, impressionam.
Para criar suspense em torno do projeto coletivo Watch the throne, os rappers Kanye West e Jay-Z criaram um esquema de segurança com algo de filme de espionagem. As músicas foram gravadas em estúdios secretos, dentro de quartos de hotéis sem redes de acesso à internet. Ficou proibido que se trocasse qualquer informação sobre o álbum via e-mail. Um aparato high-tech que garantiu o sonho da exclusividade: o disco foi degustado pelos internautas exatamente no dia em que chegou às lojas, 8 de agosto. E bateu um recorde no iTunes, vendendo 290 mil unidades nos primeiros sete dias.
Uma reportagem publicada no site da BBC aponta que a maior parte dos ;vazamentos; tem como origem os CDs que são distribuídos à imprensa, às vezes com meses de antecedência. As gravadoras já começam a limitar essa brecha, encurtando o tempo entre a produção dos álbuns e as datas de lançamento. Alguns casos, no entanto, mostram que a pirataria pode não abalar significativamente a performance do CD físico: de acordo com a Billboard, o primeiro disco do rapper J. Cole, Cole world: a sideline story, vazou uma semana antes do lançamento e, mesmo assim, ficou em primeiro lugar nas paradas, vendendo 200 mil cópias.
Aliado
No Brasil, a web já entrou nos projetos de divulgação de artistas cult como o alagoano Wado, que lançou recentemente o disco Samba 808 de graça no site www.wado.com.br. ;Desde que coloquei meus discos na internet, acabei vendendo mais os shows;, afirma. O cantor reconhece que a estratégia tem pontos negativos: os principais prejudicados são os compositores que não faturam nos palcos. ;O compositor tem que ter generosidade para que a informação possa circular. O disco não está sendo vendido, está sendo dado. Em todas as outras plataformas, os compositores recebem pelo trabalho. Na internet, não;, observa.
Para o cantor, Madonna teve o direito de ficar insatisfeita. ;Lesaram o direito de autor. O artista tem o direito de permitir ou vetar o que vai para a rua. Uma peça que ainda não está pronta não deveria vazar;, pondera. E faz uma sugestão: ;Acho que neste momento deveríamos vender mais barato até as pessoas se acostumarem com isso;. Figurões da MPB como Chico Buarque e Marisa Monte também usaram a web para divulgar seus álbuns de 2010, ainda que não tenham cedido as músicas em arquivos de mp3. As canções apareceram a conta-gotas em sites oficiais e redes sociais.
A pernambucana Karina Buhr, que liberou o download do disco Longe de onde (em www.karinabuhr.com.br), concorda que a estrela tem motivos para se irritar. ;Para um grande artista, tem muito dinheiro envolvido com as vendas;, afirma. No caso dela, porém, a plataforma on-line se tornou essencial. ;É uma maneira de o som se espalhar de um jeito legal, de mais pessoas conhecerem o trabalho num espaço de tempo menor;, comenta. Rita Lee, por exemplo, deixou disponível todos os discos da carreira em ;streaming; no site (www.ritalee.com).
Apesar do patrocínio de uma marca de cosméticos, a cantora garante que permitiria o download do disco mesmo se o tivesse gravado de forma totalmente independente. ;Sinceramente não sei como fazer um álbum ser lucrativo. Nunca ganhei dinheiro com venda de discos em lojas;, aponta. E, voltando à birra de Madonna, a pernambucana não dispensa uma dose de ceticismo. ;Pode ser que a música tenha vazado mesmo, mas às vezes é estratégia de divulgação.; De uma forma ou de outra, os fãs da estrela não falam sobre outra coisa.
ONDE OUVIR
Conheça sites que permitem a audição legal de disco, em streaming, antes do lançamento nas lojas:
NPR: www.npr.org/music/
Spotify: www.spotify.com
Rhapsody: www.rhapsody.com
Rdio: www.rdio.com