Diversão e Arte

Cantora Zezé Motta encerra o projeto Conexão África Brasília com show

postado em 25/11/2011 09:06

Zezé Motta:

Um dos ícones da arte negra no Brasil, a atriz e cantora Zezé Motta volta à cidade para encerrar o projeto Conexão África Brasília, hoje, às 20h, na Sala Cássia Eller (Funarte). No repertório, canções do disco Negra melodia (2011), que homenageia Luiz Melodia e Jards Macalé. ;Eu sou negra, meu maestro é negro, então a África já está lá, representada. Lancei o CD há três meses e os shows que fiz em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Paraíba foram deliciosos. Canto Magrelinha, Dores de amores, Estácio, Holly Estácio, Soluços e Vapor barato, a última gravada por Gal Costa. A maioria das músicas é conhecida, as pessoas adoram cantar juntas;, comenta Zezé.

Filha de um professor de violão, ela sonhava em ser cantora. Porém, o teatro chegou antes. Os primeiros passos nas artes cênicas foram n;O Tablado, companhia fundada por Maria Clara Machado. Única atriz negra em sua turma, Zezé ganhou um papel escrito especialmente para ela. Era a Rita, do musical Miss Brasil, que cantava: ;I;m Rita of America/How do you do/Merci beaucoup/Onde passo tem sururu/Sou negra internacional/Sem complexo racial;.

Encerrado o curso, a atriz participou da montagem da peça Roda vida, dirigida por José Celso Martinez, da novela Beto Rockfeller, entre outros trabalhos, até chegar ao papel de protagonista do longa-metragem Xica da Silva, de Cacá Diegues. ;Quem deu um empurrãozinho no lado cantora foi Xica da Silva. Nas entrevistas, me perguntavam: E agora? Eu dizia: ;agora, vou cantar;. Depois do filme, gravei o primeiro LP pela Warner;, lembra.

Divisor de águas
O filme Xica da Silva também foi importante para a consolidação da consciência negra de Zezé Motta. ;Foi um divisor de águas na minha vida, pois a partir dele me tornei conhecida nacionalmente e internacionalmente. Aumentei a minha responsabilidade com a comunidade negra, comecei a ler mais sobre a nossa história e a dar muitas entrevistas por dia. Passei a perceber que a gente precisava ter um discurso coerente para defender essa causa;, observa.

O forte engajamento levou à criação do centro de Informação e Documentação do Artista Negro, em 1984. Com o intuito de inserir o artista negro no mercado de trabalho, o instituto promove cursos preparatórios para o ingresso na carreira profissional em área técnica ou artística. ;Percebi o quanto era difícil fazer arte no Brasil e, para o negro, mais difícil ainda. O Centro nasceu para lutar pelo reconhecimento do negro na mídia, por papéis de igualdade, por personagens que não necessariamente têm que ser serviçais. Não tem problema em interpretar a empregada, o motorista, mas fazer só isso não é uma realidade. Existem negros médicos, enfermeiros. É muito importante que se faça essa distribuição de papéis independentemente da cor. É um incentivo para essa geração mais jovem melhorar a autoestima.;

Zezé atua na luta pela igualdade racial e é enfática ao discorrer sobre a importância das cotas na tevê e nas universidades. ;O país tem que prestar contas à comunidade negra. O Brasil tem uma dívida com o negro e ela precisa ser paga tostão por tostão, nem que seja em cotas. Por que Tiradentes pode ser homenageado e o Zumbi não? O Dia da Consciência Negra é importante para tirar o Zumbi desse patamar de baderneiro, marginal, agitador, para o de herói, o que, de fato, ele é;, conclui.


CONEXÃO ÁFRICA BRASÍLIA
Hoje, às 20h, show com a cantora Zezé Motta, na Sala Cássia Eller (Funarte, Eixo Monumental, em frente à Torre de TV; 3322-2025). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.

Veja vídeo de Zezé Motta cantando Senhora Liberdade:

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