Diversão e Arte

Com apenas duas casas de grande porte, Brasília não abarca demanda cultural

A vinda de espetáculos nacionais e internacionais está prejudicada

postado em 26/11/2011 08:00
Sala Villa-Lobos, que enfrenta estado de penúria, é uma das duas opções para espetáculo com capacidade acima de 1 mil espectadores

Há um aumento na produção local de cultura de Brasília. Locais, shows, peças e espetáculos diversos concorrem com atrações vindas do Brasil e do exterior para compor a pauta cultural da cidade. Esse fluxo, aparentemente bom, encontra um gargalo pela frente: faltam teatros, sobretudo de grande porte, para abarcar a demanda crescente e visível. Hoje, os produtores enfrentam problemas na hora de encontrar pautas. ;Se houvesse mais lugares, os valores dos ingressos baixariam por causa da concorrência;, explica Milka Luna, produtora que movimenta o cenário teatral brasiliense.

Nos espaços públicos, como o Teatro Nacional Claudio Santoro, a demanda funciona assim: a instituição abre um edital, recebe propostas dos produtores e as encaminha a uma equipe de especialistas, que seleciona as produções que comporão a vaga na agenda do teatro. Quando há uma desistência ou um problema na produção, abre-se um ;buraco;. Nesses casos, novas propostas são analisadas.

Para trazer espetáculo de grande porte, as opções de salas de espetáculo com capacidade para mais de mil espectadores são apenas duas: a Villa-Lobos (1,3 mil lugares) e o Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (3 mil pessoas). Enquanto o primeiro está em situação de penúria (equipamentos depauperados, camarins destruídos, mofo nos carpetes, cadeiras danificadas, infraestrutura sem manutenção e insegurança externa), o segundo não conta com equipamentos e caixa cênica de qualidade. Apesar disso, as pautas (de valor variável) são caras. Ultrapassam os R$ 5 mil por dia.

Ao contrário de outras cidades, Brasília ainda não conta com o apoio do empresariado local, reclamam os produtores. ;Ainda não temos essa articulação. As pessoas não entenderam o valor de associar sua marca à cultura;, afirma Milka. Diante desse cenário, as produções encarecem. É preciso custear do bolso todas as despesas e o valor do ingresso vai às alturas.

Como o preço para trazer artistas para a cidade é exorbitante, as passagens por aqui são curtas. ;Brasília precisa de um espaço onde a gente possa fazer temporadas maiores do que dois finais de semana. Público nós temos. As peças vivem abrindo sessão extra;, defende Milka, que tem quatro espetáculos engatilhados, esperando uma brecha na maior sala de espetáculos da cidade: produções que contam com nomes como Suzana Pires, Françoise Forton e Du Moscovis no elenco. ;Tentei trazer a peça Eu te amo, com o Alexandre Borges, mas não consegui a data. Depois, ele se envolveu em outros projetos e não pôde mais vir;, relata.

Pedintes de pauta
;Somos pedintes de pauta;, brinca a produtora Elizabeth Cupertino, há 18 anos trazendo espetáculos para o DF. Neste ano, ela não conseguiu trazer a Orquestra Sinfônica de Viena, que se apresentaria em dezembro. Para Elizabeth, a solução do impasse se resolveria com um tripé de medidas: precisamos de mais espaços na cidade e de uma lei local que conceda patrocínio aos produtores para que tenham ajuda para trazer as atrações. Também falta uma campanha de conscientização de empresários. Eles poderiam ter benefícios, como isenção ou abatimento de impostos;, explica ela. Outra medida que ela sugere é a criação de pequenas salas em shoppings para desafogar teatros de médio porte, ocupados com produções pequenas.

Jorge Luiz Silva, da Girau Projetos, também tentou trazer para Brasília o encerramento do espetáculo Danilo Gentili, Volume 1, mas não conseguiu vaga em teatro nenhum. ;Por um lado, é bom porque a produção local aumentou, as boas produções nacionais estão vindo e a cidade entrou de vez na rota internacional. Mas a oferta de palcos não acompanhou esse movimento;, reconhece ele. Novas casas de espetáculo podem até surgir, mas, para o produtor, seus proprietários nem sempre as equipam para receber espetáculos de grande porte e com muitos recursos.

Outra saída, aponta Silva, seria reformar os espaços já existentes e adaptar outros tantos que caíram em desuso. Algumas escolas possuem auditórios com boa capacidade, que, equipados, poderiam receber shows e peças de peso. Enquanto isso não acontece, cada um se vira como pode. ;A Cia. de Comédia Setebelos queria continuar sua temporada em Brasília, que estava lotada. Mas, sem pauta, está se apresentando em Goiânia;, conta o produtor.

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