postado em 26/11/2011 08:00
A artista brasiliense Clarice Gonçalves apresenta suas obras com uma singularidade: estão expostas no térreo de um bloco residencial, um lugar comum aos brasilienses e, ao mesmo tempo, incomum para realizar uma mostra artística. Em Boa viagem Clarice, que ocorre de hoje a domingo, telas e desenhos podem ser vistos, no Bloco I da 307 Norte, tanto por apreciadores da arte quanto por quem estiver apenas de passagem.Para ela, esse projeto é inusitado e tem cara de movimento, porque está interagindo com a paisagem urbana e toda área. ;Eu gosto de estar em contato com essa amplidão, com o céu, o horizonte, todas essas coisas que não necessariamente têm a ver com o modernismo daqui; é uma coisa mais sensorial, uma percepção.; Além disso, ela vê a oportunidade de mostrar seu percurso como artista e tirar a arte de um patamar sacro, restrito ao nicho de especialistas. ;Há a quebra do consenso. O que acontece é que exposições estão sempre muito ligadas às instituições e galerias. Às vezes, a interação fica muito burocrática. Por isso, a relação público e obra é o ponto ímpar dessa mostra.;
Os trabalhos selecionados fazem parte do processo de produção entre 2009 e 2011. São quadros figurativos, nos quais estão expressos sentimentos humanos por meio do semblante feminino, figuras do mundo virtual e fotografias antigas de família, já descoloridas pelo tempo, mas reavivadas pelos pincéis da pintora. ;O meu trabalho tem uma vertente contemporânea, pois aborda algumas temáticas atuais, por exemplo, o contato com imagens da internet. No entanto, trabalho com materiais supertradicionais: tela e tinta óleo. Assim, não sou radicalmente contemporânea. Estou vagando em um caminho próprio.;
Clarice, formada em artes plásticas pela Universidade de Brasília (UnB), resolveu construir esse caminho sem precisar migrar para centros reconhecidos como exportadores de talentos. Para a artista, há a possibilidade de consolidar a carreira na cidade natal e apresentar sua arte para fora. Este ano, já expôs em Goiânia, Joinville, onde foi premiada no 13; Salão dos Novos, São Paulo e Recife e participou de uma feira de arte em Londres. ;Quero ampliar minha atuação. Entretanto, prefiro me manter em Brasília. Uma produção pictórica, como a minha, precisa digerir as imagens e ter uma certa tranquilidade;. Assim, aos 25 anos, ela optou por montar seu atelier em uma chácara afastada do burburinho.
Mercado
Novos recursos de divulgação e venda são utilizados por Clarice Gonçalves, como o chamado ;mecenato coletivo;. Uma das organizadoras da exposição, Flávia Gimenes, explica o funcionamento deste meio, no qual a pessoa interessada doa uma quantia, entre R$ 50 e R$ 1000. Os valores funcionam como uma espécie de patrocínio, e o colaborador tem um retorno, que pode ser uma obra ou uma menção de agradecimento no site .
;Iniciativas como essas saem desse espaço de editais, que nem sempre contemplam todo mundo. A ideia é a participação da sociedade;, explica Gimenes. Para adquirir as obras, o público também pode usar o método mais tradicional, de depósito bancário, por exemplo.
Apesar de estar em um espaço alternativo, a organizadora ressalta que a produção da mostra não é ;mambembe;, demanda esforço profissional e dedicação.
Boa viagem Clarice!
307 Norte, Bl. I, térreo. Até 27 de novembro. De sexta a domingo, das 10h às 20h.