Diversão e Arte

Vinicius Cantuária volta a lançar CDs no Brasil e prepara turnê para 2012

postado em 28/11/2011 09:01

Cantuária acha de graça de ser conhecido no país apenas por dois sucessos dos anos 1980, Só você e Lua e estrela:

Vinicius Cantuária começou o ano com show na Eslovênia. De lá seguiu para Holanda, Áustria, Itália, Suíça, Inglaterra e França. Isso só em janeiro, porque em fevereiro a temporada foi nos Estados Unidos. Nessas apresentações, ele subiu ao palco ao lado do guitarrista Bill Frisell, com quem dividiu seu disco mais recente, Lágrimas mexicanas. O CD ; o nono que lança nos mercados europeu, norte-americano e japonês desde 1996 (quando gravou Sol na cara com Ryuichi Sakamoto) ; está cotado para indicações em três categorias do Grammy, incluindo a de melhor álbum de 2011.

Pois é, tem sido assim a vida desse amazonense-carioca de 60 anos, compositor, cantor, violonista, percussionista e baterista, um dos fundadores do grupo O Terço e integrante de A Outra Banda da Terra, que acompanhou Caetano Veloso nos anos 1980. Embora more em Nova York há 17 anos, ele mantém casa na Gávea, no Rio de Janeiro ; para onde corre sempre que tem uma folga maior na agenda ;, e segue firme com a paixão pelo Botafogo. Mas pergunte por aí quem é Vinicius Cantuária. Se o interlocutor tiver mais de 40, talvez ele saiba que se trata do autor de Lua e estrela (sucesso na voz de Caetano) e Só você (famosa pela regravação de Fábio Jr.). E olhe lá.

;É estranho, né? Mas não fico chateado com isso, de maneira nenhuma;, garante Cantuária, que volta a lançar discos no Brasil depois de quase 20 anos (o último foi Rio Negro, de 1992). O contrato com a gravadora Biscoito Fino prevê a edição nacional dos dois CDs mais recentes: Samba carioca e Lágrimas mexicanas. O primeiro, gravado em 2009 para o selo francês Na;ve, já está nas lojas; o segundo deve chegar até o fim do ano. Para 2012, o músico prepara sua volta aos palcos brasileiros ; provavelmente ao lado de Bill Frisell ;, já sabendo que terá de incluir Lua e estrela e Só você no roteiro, pelo menos no bis. ;São músicas que não estão no meu repertório, mas que, se pedirem, eu toco com o maior prazer;, avisa.

Às vezes, isso acontece. Elogiado nos quatro cantos do planeta por publicações de peso, como o jornal The Guardian e a revista Mojo, Cantuária costuma tocar em clubes de jazz lotados ; em Londres, por exemplo, os ingressos para os concertos dele chegam a esgotar uma semana antes. No fim de outubro, início de novembro, foram cinco dias na Grécia, ;para gregos;, e quatro na França, ;para franceses;. ;Como era casa para 250 pessoas, eu fazia duas sessões por dia;, conta. De vez em quando, apareciam por lá uns três ou quatro brasileiros. Sim, pediam Lua e estrela. E ele tocava com o maior prazer.

Virtuosos
O excelente time de músicos reunido em Samba carioca ; o CD gravado no Rio e em Nova York, com produção de Arto Lindsay ; dá ideia do que esperar do ;Vinicius Cantuária de hoje;. Dele fazem parte os pianistas João Donato, Marcos Valle e Brad Mehldau, os baixistas Liminha e Luiz Alves, o baterista Paulo Braga e o percussionista Sidinho. Bill Frisell, Dadi e Cantuária revezam-se nas guitarras das nove faixas. Apenas duas são regravações: as bossanovistas Vagamente (de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), com Jessé Sadoc no flugelhorn, e Inútil paisagem (de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira).

As outras sete foram compostas por Cantuária, algumas em parceria com amigos de longa data. Paulo Sérgio Valle divide com ele Só ficou saudade; Marcos Valle, Praia Grande e Orla (esta também assinada por Liminha e Dadi); e Arto Lindsay, Fugiu. ;Marcos Valle é um queridão, tenho várias músicas com ele;, comenta. ;Donato e Paulo Sérgio, também conheço há muito tempo. E o Arto foi um cara muito importante na minha chegada a Nova York. Foi quem me apresentou a David Byrne e a Ryuichi Sakamoto. Arto está sempre presente. Produzi discos dele, fizemos juntos trilhas para peças.;

Para quem não conhece os outros discos lançados por Vinicius Cantuária no exterior, Samba carioca pode parecer um canto de saudade. Não é bem assim. ;Desde que me mudei para os Estados Unidos, venho buscando essa sonoridade. Por isso, meus discos são parecidos no sentido conceitual;, observa o músico, que mantém um estúdio em casa, onde pode passar horas atrás de determinado timbre. ;Meu trabalho no estúdio é como o de um pintor em seu ateliê. Faço pequenas e grandes telas brancas e as pessoas vão chegando e jogando cores. Vem um e joga o vermelho; outro, o amarelo...;, compara.

Nos palcos
Em Samba carioca, ele canta, toca guitarra, violão, bateria e percussão. No palco, há anos é acompanhado por uma superbanda, formada pelo baterista Paulo Braga (que voltou a morar no Brasil recentemente), pelo baixista norte-americano Paul Sokolow (que tocou muito tempo com David Byrne) e pelo tecladista e trompetista Takuya Nakamura, um japonês que mora em Nova York e adora samplear os sons da cidade. É assim, em quarteto, que ele costuma se apresentar nos clubes de jazz pelo mundo afora. O show segue um formato que vem dando certo e muda pouco com o lançamento dos álbuns. ;Claro que incluo duas ou três músicas do disco novo. Mas defendo mais o meu som do que o CD;, justifica.

Vinicius Cantuária também diz que não entra no estúdio para fazer disco, e sim para fazer música. ;Trabalho todos os dias, sem metodologia, mas com intensidade. Quando a gravadora sinaliza que está na hora de pensar num projeto novo, tento dar um sentido àquela produção. Pego as músicas que estava fazendo e vejo se elas se encaixam;, comenta. Neste fim de ano, ele deve decidir como será o álbum que lançará no mercado internacional em 2012. Uma das ideias é gravar um CD em trio, mais jazzista, quase todo instrumental, chamado As ilhas.


Até lá, o bem-humorado compositor vai se dedicar a um exercício novo, que requer paciência e observação: ganhar o público brasileiro. ;Tenho medo de não ter no Brasil o que consegui lá fora;, admite. ;Mas preciso encarar isso, né?;

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