Diversão e Arte

Ópera de Varsóvia faz reviver as vítimas do Holocausto

Agência France-Presse
postado em 28/11/2011 16:42
VARSÓVIA - Como parte de seus 50 anos, o Teatro de Ópera Kameralna de Varsóvia está fazendo reviver compositores esquecidos do mundo, vítimas do Holocausto - um novo desafio para essa Casa, a única do mundo a apresentar, anualmente, todas as obras cênicas de Mozart.

Seu diretor, Stefan Sutkowski, é um apaixonado pela busca de peças de compositores perdidos ou injustamente esquecidos. Neste ano, ele exuma "Der Kaiser von Atlantis oder Die Todverweigerung", O imperador de Atlantis ou A Recusa a morrer" (ópera composta em 1943 pelo tcheco Viktor Ullman, aluno de Arnold Schoenberg, e que foi vítima do campo de concentração de Theresienstadt (Terezin) perto de Praga.

"Os nazistas organizaram atividades culturais nesse campo para fazer acreditar que as condições aí não eram de todo más e que os músicos dispunham de seu próprio palco", explicou à AFP esse musicólogo e oboísta.

A ópera de Ullman, com um estilo que oscila entre Gustav Mahler e Kurt Weill, foi ensaiada em Terezin. O libreto de Petr Kien, um outro deportado, denuncia o regime hitlerista sob a aparência de um conto de fadas.

Viktor Ullman e Petr Kien morreram em Auschwitz, em 1944. A obra, símbolo da eliminação de várias gerações de artistas judeus durante o Holocausto, foi encontrada em Londres e apresentada, pela primeira vez, apenas em 1975, em Amsterdã.

Outra raridade, "Alles durch M.O.W.", também conhecida como "Matrimonio con variazioni", é a única obra cênica de Jozef Koffler, compositor judeu polonês, também vítima do Holocausto, e que será apresentada no final de fevereiro.

Mistura de cabaré alemão e music-hall francês, esse balé-oratório, composto em 1932, é "um dos musicais mais originais de toda a música polonesa da primeira metade do século XX", segundo o musicólogo Maciej Golab.

Considerado perdido durante anos, foi reencontrado, em 1993, em Berlim. "Esta peça nunca foi apresentada", destaca Stefan Sutkowski.

Ópera de Câmara
O Teatro de Ópera Kameralna é muito pequeno, possui apenas 159 lugares. Nos bastidores, é difícil, às vezes, abrir caminho. Os ensaios são feitos até nos banheiros... Mas, para Stefan Sutkowski, as pequenas dimensões da sala, adaptada no que foi, antigamente, uma igreja evangélica, também têm suas vantagens: "os espectadores ficam perto do palco, têm visão privilegiada de todos os locais e a acústica é excelente".

Acontece o mesmo no plano financeiro. Porque, se a renda é limitada, por causa do tamanho da sala, os custos de funcionamento não ficam atrás, explicou, queixando-se, no entanto, da também pequenez dos meios técnicos.

No programa desse verdadeiro teatro de bolso, figuram, igualmente, peças relacionadas com o ;Holocausto, de Leos Janacek ("Jenufa" apresentado em tcheco), Benjamin Britten ou Igor Stravinski. A celebração dos 50 anos começou em idioma francês, com "La Voix Humaine" de Francis Poulenc, em setembro.

No início de novembro, a orquestra de Varsóvia foi à França, ao Théâtre du Capitole, de Toulouse, para uma apresentação de "Polyeukt" do compositor polonês Zygmunt Krauze, inspirado na tragédia de Corneille. "A ópera foi em polonês, mas o público francês mostrou-se entusiasmado e, para mim, isso foi uma grande felicidade", declarou Sutkowski que admite gostar de desafios.

A maior repercussão, no entanto, diz respeito ao "Festival Mozart", durante o qual, a cada verão, nos últimos 21 anos, são apresentadas todas as obras cênitas do compositor - "uma performance única no mundo", segundo o diretor.

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