Diversão e Arte

Com preços acessíveis, espetáculos bem cuidados estreiam na cidade

postado em 01/12/2011 11:26

Muita gente não vai ao teatro porque pensa que é caro. Combinar bom preço com um espetáculo de qualidade é uma equação que parece impossível de ser solucionada por quem não costuma estar atento aos programas de acesso cultural, que movem diversas instituições. Só neste fim de semana em Brasília, três montagens bem cuidadas podem ser vistas desembolsando entre R$ 3 e R$ 20. No palco, os temas são múltiplos. Vão da complexa obra de Clarice Lispector (Água viva, no Teatro Goldoni) à sátira nordestina de Ariano Suassuna (Farsa da boa preguiça, no CCBB). Isso sem falar numa clássica e deliciosa comédia de casal (A história de nós 2, no Complexo Brasil 21). O Correio conversou com os criadores desses espetáculos.

Encontro sincrético
Ganhadora do prêmio Shell de melhor figurino e Prêmio Contigo de melhor musical brasileiro, a peça Farsa da boa preguiça está na estrada há três anos, mas aporta na cidade pela primeira vez. A montagem do texto de Ariano Suassuna, escrito em 1960, foi orquestrada por João das Neves ; um dos mais consagrados diretores do Brasil, criador do Grupo Opinião (frente de resistência político-cultural dos anos 1960 e 1970). ;A peça é uma celebração do casamento entre Neves e Suassuna. João queria falar de arte, de cultura e transformou o palco em uma festa nordestina, cheia de cor, canto e dança;, reforça Guilherme Piva, protagonista da montagem.
Espetáculo Farsa da boa preguiça, um clássico de Ariano Suassuna
Ele interpreta Joaquim Simão, poeta do povo, dorminhoco, casado com uma beata, pai de família. Mas os dois se envolvem em uma confusão com o casal mais rico da cidade ; o marido rico quer conquistar a beata e sua mulher está de olho no poeta. Diabinhos e anjinhos, clássicos da obra de Suassuna, ajudam a criar as confusões. ;Ele é um dos maiores dramaturgos vivos, e o texto comunica até hoje. Além de sempre ter tido desejo de interpretar um arlequim nordestino, um bufão, o texto é inteligente e faz uma análise sobre a arte e o processo de criação;, reforça Piva, que participou de uma leitura dramática da Farsa e se encantou com o texto. Com temporada até 11 de dezembro, a peça está em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), desta quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h.

Coisas de casal
Os atores Marcelo Valle e Alexandra Richter trazem, de sexta a domingo, ao palco do Complexo Brasil 21 (casa que abre as portas na cidade) o projeto de suas vidas. ;Em A história de nós 2, conseguimos consolidar os quase 20 anos de carreira. São quase três anos como protagonistas, com teatros lotados. Não é fácil. Fazemos novelas, mas o público sempre nos fala da peça;, relata Alexandra Richter, que vive seis facetas de uma mesma mulher.
Peça A história de nós 2
Na trama, um casal em rito de divórcio se encontra para fazer a partilha dos objetos da casa e repassa a relação. Os dois acabam se desdobrando em outros alter egos: os workaholics e os pais, cada um com suas características.

Dirigida por Ernesto Piccolo, a peça já foi vista por cerca de 300 mil espectadores e ganha um bolo com velinhas sempre que completa aniversário. O terceiro ano será em março. ;O texto da Lícia Manzo parece que enxerga a crise pelo buraco da fechadura. Muitos casais dizem que é como se ela tivesse feito um Big brother na casa deles;, brinca a atriz. O trunfo da dramaturgia é estabelecer conversa íntima com a plateia. ;É uma reflexão sobre o casamento contemporâneo, a maternidade, o que acontece com o sexo e o romantismo com o passar do tempo. E aponta para um final surpreendente;, descreve a atriz.

Veja trecho de ;;A história de nós 2;; :

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Coração selvagem
Da safra brasiliense de 2011, o monólogo Água viva, com Sarah Cintra, se ergue no palco do Teatro Goldoni para adaptar do livro homônimo de Clarice Lispector. ;Ela tem uma escrita que te remete ao coração selvagem, ao núcleo da vida. Te dá aquela sensação de que você está viva, do essencial, que vai além do pessoal;, explica Sarah, brasiliense, com formação e experiência teatral nos palcos cariocas. Fã e leitora da obra da ucraniana, a atriz vê na obra o mérito de captar o instante.
Monólogo Água viva, com Sarah Cintra
O enredo é o mesmo encontrado no livro: uma pintora acaba de se separar e resolve escrever uma carta para o ex-amor. Especialista em se expressar visualmente, ela começa essa aventura no universo da palavra, refletindo sobre a solidão, a morte e a vida, no que a atriz define como a busca por uma ;autonomia da solidão;.

Depois de três anos de maturação, o projeto nasceu sob a direção de Renato Farias, diretor da Cia. de Teatro Íntimo, do Rio de Janeiro. O processo para enfrentar a personagem inclui ensaios de texto na garagem de casa, leituras compartilhadas com a filha pequena de Sarah e consultas diárias ao volume original. E o encantamento pelo lirismo pungente de Clarice deve render mais frutos: ;Quero investir na montagem teatral das obras infantis dela;, avisa a atriz.

FARSA DA BOA PREGUIÇA

Direção de João das Neves para texto de Ariano Suassuna. Com Guilherme Piva, Bianca Byington, Jackson Costa e Daniela Fontan. De hoje a sábado, às 21h, e domingo, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB ; SCES Tc. 2, Cj. 22; 3108-7600). Ingressos: R$ 6 e R$ 3 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos. Até 11 de dezembro.


A HISTÓRIA DE NÓS 2

Direção de Ernesto Piccolo para texto de Lícia Manzo. Com Alexandra Richter e Marcelo Valle. Amanhã e sábado, às 21h, e domingo, às 19h, no Complexo Brasil 21 (Setor Hoteleiro Sul Q. 6, Lt. 1, Cj. A; 3039-8880). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos.


ÁGUA VIVA

Direção de Renato Farias para texto de Clarice Lispector. Com Sarah Cintra. De hoje a sábado às 21h e domingo, às 20h, no Teatro Goldoni (208/209 Sul, entrada pelo Eixo L; 3443-0606). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.

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