Diversão e Arte

A sofrida e turbulenta vida de Frida Kahlo é narrada por artista plástica

José Carlos Vieira
postado em 04/12/2011 08:00
Encantamento. É essa influência mágica que até hoje seduz admiradores de Frida Kahlo e que é revelada na mais nova biografia da artista mexicana, escrita pela pesquisadora norte-americana Hayden Herrera, ex-professora de história da arte da Universidade de Nova York.

Dor. Sentimento constante representado nos mais de 200 quadros pintados pela artista que, aos 18 anos, em 17 de setembro de 1925, sofreu um grave acidente quando o ônibus que a levava da escola para casa, na Cidade do México, foi abalroado por um bonde. Ela foi empalada por uma barra de ferro; sua coluna, fraturada; a pélvis, esmagada e um dos pés, quebrado.

Todo esse sofrimento, que durou 29 anos até a morte, em julho de 1954, a levou a pintar e foi representado nas telas cruas, dramáticas e coloridas de Frida. ;A única coisa que sei é que pinto porque preciso;, disse, ao dimensionar sua relação com a pintura: uma questão de vida (ou de morte). Ela transportava toda a dor para as telas, em tonalidades carregadas de emoção, de revolta e até de um certo humor. Cada imagem era um grito, um berro ; o quadro A coluna partida, de 1944, expressa bem esse drama. Essas características a transformariam em um ícone pop.

O trabalho de Frida agradava aos surrealistas, que a preconizavam como integrante desse olhar artístico e literário. Ao Correio, Hayden Herrera pondera: ;Nunca pensei em Frida como surrealista. Seu trabalho é bastante concreto e sempre relacionado à sua própria vida de uma forma muito próxima. Ela disse que André Breton a reivindicou ao surrealismo, mas que ela mesma não era uma surrealista. A própria pintora mexicana destacou: ;Eu nunca pinto sonhos. Pinto minha própria realidade;;. Depoimentos, trechos de cartas e análises dos principais quadros são apresentados em detalhadas narrativas no livro de Hayden Herrera.

Bissexualismo
Força. Apesar de tanta angústia para viver, Frida carregava no semblante e nas roupas vistosas e coloridas a resistência revolucionária da mulher latino-americana. Paralelamente à dor quase cotidiana, ela teve uma vida social, política e amorosa intensa ; o bissexualismo e o constante uso do álcool contra a timidez são destaque no livro de Hayden. Conviveu com grandes nomes do mundo artístico, como o poeta Pablo Neruda, o surrealista André Breton e o cineasta Sergei Eisenstein, entre outras tantas figuras que deixaram sua marca no século 20.

Mas foi o turbulento casamento com o gênio muralista Diego Rivera o capítulo mais importante na vida da pequena e impetuosa Frida. Em 1929, tornou-se a terceira esposa de Rivera. Essa união atribulada e apaixonante gerou escândalos, brigas e inúmeras relações extraconjugais de ambos os lados. Frida chegou a ser amante do já alquebrado Leon Trotsky, durante a permanência dele no México, onde foi assassinado a mando de Stálin. A relação Frida-Rivera era sempre manchete nos jornais da época. ;Sofri dois graves acidentes em minha vida. Um em que fui abalroada por um bonde e o outro acidente é Diego;, lamentava com fina ironia sobre o amor de sua vida.

Trecho do livro
(;) Frida caiu gravemente doente depois do atentado contra a vida de Trotsky e a subsequente partida de Diego para os Estados Unidos. Três meses depois, Ramón Mercader, que finalmente conseguira conquistar a amizade e a confiança de Frida, assassinou Trotsky com um golpe violento na cabeça, dado com uma picareta de alpinista. Ela ligou para Diego em São Francisco e deu a notícia: ;Mataram o velho Trotsky esta amanhã;, ela gritou. ;Estúpido! A culpa é sua. Por que foi trazê-lo aqui?;
Uma vez que tinha conhecido o assassino em Paris e o convidara para jantar em sua casa em Coyoacán, Frida era suspeita do crime. (;)


Frida na tevê

Hoje, às 23h, a TV Brasil exibe o filme Frida: natureza viva, produção mexicana dirigida por Paul Leduc em 1985. Ofelia Medina interpreta a pintora, que, no leito de morte, relembra trechos de sua vida, como a infância, a doença, a amizade com Trotski e o casamento com Diego Rivera. Não recomendado para menores de 14 anos.

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