postado em 04/12/2011 23:44
Em recente vídeo divulgado no YouTube, Gil Brother ; dançarino black revelado pelo humorístico televisivo Hermes & Renato ; desanca o Rock in Rio, acusando o festival carioca de divulgar artistas sem atitude ou relevância. Ninguém então mais apropriado para assumir a função de mestre de cerimônias no 17o Goiânia Noise Festival.Realizado entre sexta-feira e a madrugada de domingo no Sol Music Hall, localizado no Clube Jaó, um dos mais tradicionais da capital goiana, o Noise norteia sua seleção musical pela criatividade, privilegiando bandas ; novatas e veteranas ; do cenário alternativo local, nacional e até internacional.
O Noise chegou em sua edição 2011 de espírito renovado, afirma Leo Bigode, um dos integrantes da produtora e selo fonográfico goiano Monstro Discos, organizadora do festival. ;Estava muito cômodo fazer o Noise nos mesmos lugares de sempre (os centros culturais Martin Cererê e Oscar Niemeyer). Queríamos ampliar o festival e para isso precisávamos de um lugar mais amplo e confortável;.
Além dos dois palcos ; localizados um de frente para o outro no amplo salão de festas do Jaó ;, a estrutura do Noise 2011 contou com área de alimentação (com opções que iam de cachorro-quente a sushi), stands de camisetas e assessórios, discos, revistas em quadrinhos, equipamentos de música, um estúdio (onde amigos podiam se juntar e tocar uma música que seria gravada em vídeo) e um museu dos monstros. Criação do cineasta e artista plástico capixaba Rodrigo Aragão, o museu é uma ;casa de terror; itinerante com estátuas de criaturas horripilantes e bastante realistas.
A maior mudança no evento, no entanto, é mais conceitual do que física. Bigode comenta que a programação do Noise nos últimos anos estava um tanto amarrada a alguns vícios do circuito roqueiro alternativo, resultando em uma repetição de nomes ao longo das edições do festival. Para 2011, a ideia era escalar o maior número possível de bandas inéditas no Noise. ;Não que as bandas A, B ou C sejam ruins, mas X, Y ou Z também são boas e precisam de oportunidade para tocar. Só para ficar no exemplo dos grupos de Goiânia: dos 14 convidados para o festival, nove nunca tinham participado do evento;, conta o produtor.
Com isso, o Noise busca também recuperar uma vocação ;novidadeira; que o caracterizava principalmente em seus primórdios. ;A cara do Noise é essa: sem medalhões e dando destaque para as bandas do cenário independente. Queremos apontar novos rumos, criar os novos hypes;, continua Bigode.
Cardápio eclético
A abrangência e a opção pelo ineditismo, no entanto, têm seus preços. Sem nomes muito conhecidos, o festival reuniu cerca de 5 mil pessoas na sexta e um pouco menos, aproximadamente 3,5 mil, no sábado. Especialmente no segundo dia, o Noise demorou para encher. Com pouca gente nas primeiras horas de som, a famosa hospitalidade roqueira goiana, que caracteriza o público da cidade, se mostrou tímida em vários shows. Não foi o caso, por exemplo, do visto na calorosa apresentação de sexta dos Raimundos, a banda que mais levou fãs ao festival. Brasília, alias, esteve bem representada no Noise 2011, com shows de The Neves, The Pro, Darshan (escolhida para tocar no evento em seletiva realizada em parceria com o Porão do Rock em novembro, em Brasília).
Com 36 atrações em dois dias de programação, o Goiânia Noise Festival apresentou um cardápio musical eclético, de diferentes sabores e sotaques sonoros. Na sexta, um dos shows mais animados foi o dos californianos Delinquent Habits. O trio de rap, pouco conhecido no Brasil, conquistou o público na base do carisma e do groove de suas músicas. Ao final da apresentação, já estavam íntimos da plateia (teve até distribuição de tequila para a fila do gargarejo).
Com um rock setentista, os noruegueses do BigBang também se sentiram em casa e mostraram um som vigoroso. E vigor criativo é o que não falta nos arranjos de guitarras do Cidadão Instigado (CE/SP). Fernando Catatau, cantor do grupo, comentou a satisfação de tocar pela primeira vez com sua banda em Goiânia. Os americanos do Bellrays desafiaram o cansaço dos presentes e fecharam a primeira noite de shows já na madrugada de sábado com seu hard;n;soul. Destaque para a cabeleira da vocalista Lisa Kekaula.
No sábado, a banda carioca Beach Combers mostrou uma criativa surf music instrumental (destaque também para o visual salva-vidas do trio). Uma das surpresas da noite foi o show dos catarinenses Cassim & Barbária. Com três guitarras na formação, eles produzem um art rock por vezes estranhíssimo que tem algo de teatro-do-absurdo. O pernambucano Siba, conhecido por seu trabalho com a rabeca e os ritmos regionais de seu estado, apresentou um novo trabalho, no qual mostra uma faceta guitarrista. Os veteranos gaúchos do Defalla, em turnê tocando músicas dos dois primeiros discos da carreira, estão musicalmente conservados em formol, mostrando que ainda têm viço na performance e seu repertório não perdeu a validade. O carioca Gerson King Combo não tem mais o mesmo suíngue de 35 anos atrás, mas ainda consegue fazer a galera dançar.