Diversão e Arte

Obras de Oded Ezer representam criaturas imaginadas a partir de letras

Nahima Maciel
postado em 06/12/2011 09:11

Em seu trabalho, Ezer faz uma criação divertida, na qual tradição e modernidade se unem graças à liberdade do artista

Para a cabeça do israelense Oded Ezer, só falta o capacete do Doutor Pardal. O cientista maluco que rabisca criaturas tipográficas em um laboratório de design encara o mundo como um imenso parque de diversões no qual é preciso criar para se divertir. E o verbo comumente utilizado para dar origem funciona como um motorzinho diabólico na cabeça do artista. Ezer nasceu em Israel, de pais judeus fugidos do Iraque, e por lá mesmo começou a trabalhar com design gráfico voltado para experiências com o alfabeto hebraico. Como aquelas letras são bastante incomuns e utilizadas apenas em Israel, o artista expandiu as experiências e extrapolou as duas dimensões do design gráfico.

Andou tanto em direção ao mundo tridimensional que acabou criando as séries de projetos da exposição Tipocriaturas, em cartaz na Caixa Cultural. Apresentada simultaneamente em Brasília e São Paulo e com curadoria de Ruth Klotzel, a mostra é mais interessante quando descrita por Ezer. As experiências de criar bichos a partir de letras renderam esculturas e instalações, mas apenas as fotografias vieram ao Brasil. O barato do artista, no entanto, é exatamente trazer as criações para o plano tridimensional.

Ezer chama o projeto de Biotipografia. Investido de um inquieto poder criador, ele imagina como seriam as letras caso fossem bichos e passa então a transformar os alfabetos hebraico e latino em um verdadeiro zoológico.

;Como uma paráfrase da definição de biotecnologia, eu posso dizer que biotipografia é qualquer aplicação tipográfica que use sistemas biológicos, organismos vivos ou derivados para criar ou modificar fenômenos tipográficos;, explica. Complexo? Mais ou menos. Ezer continua: ;Essas novas criaturas são clonadas de formigas, e essa informação tipográfica foi implantada em seus DNAs;.

A curadora Ruth Klotzel diante das

Feitas em plástico, polímero e esponja negra, as peças viram esculturas e, agregadas, instalações. O artista gosta de imaginar situações cinematográficas para as criaturas, cenários nos quais possam atuar e assumir papéis. Mas não foi fácil chegar à equação perfeita entre letra e bicho. O ;balanceamento; atormentou o israelense por um tempo. ;A coisa mais difícil foi saber onde era melhor para desenhar a linha entre o inseto e a letra, o quão reconhecível deveria ser a formiga e o quão legível deveria ser a letra. Levei um tempo para entender que não precisava do todo: a letra não tinha que estar necessariamente completa.;

Espermatozoides

A Biotipografia é uma grande brincadeira decorrente de um escorregão no trabalho de designer gráfico, mas também uma exploração dos limites criativos da profissão. Ezer foi a extremos divertidos, como os Tipoespermas, fusão de espermatozoides com tipos gráficos, mas também alimentou a prática comunicativa necessária à profissão. A mescla entre as formas dos seres vivos e as letras serviu de base para realizar um cartaz para o Festival da Cultura Judaica da Cracóvia, o maior festival judaico do mundo. Por meio do Skype, o artista pediu a desconhecidos do mundo inteiro que escrevessem mensagens e emprestassem o rosto para a peça, exibida na Caixa Cultural. ;Eu tenho essa ideia de que o mundo é um parque de diversões. Para mim, isso significa que o fato de viver em Israel me dá a oportunidade de realizar a junção de muitas culturas.;

O alfabeto hebraico é importante nas criações do artista. O desenho das letras, menos anguloso que o alfabeto latino, ajudou a imaginar as tipocriaturas. Mas as influências não param aí. Assentado em uma educação ocidental, judaica e com fortes referências árabes devido à origem dos pais, Ezer faz uma mistura divertida, na qual tradição e modernidade se unem graças à liberdade do artista. ;Eu posso voltar na história e me imaginar 800 anos atrás ou 2 mil anos atrás e tentar imaginar a mim mesmo daqui a 800 anos. Minhas raízes têm, basicamente, mais de 3 mil anos e estão no início da escrita hebraica. Sei muito mais sobre isso porque pesquisei. Dizem que, se você quer fazer algo completamente novo, tem que voltar ao passado. Eu concordo com essa ideia: para quebrar as regras você precisa saber tudo que foi feito antes de você.;

Tipocriaturas

Exposição de Oded Ezer. Visitação até 8 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Caixa Cultural (SBS, Q. 4, lotes 3/4; 3206-6456).

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