postado em 07/12/2011 14:34
A entrada quase simultânea de Simples mortais e Um assalto de fé no circuitão brasiliense de cinema é uma satisfação para os diretores estreantes, Mauro Giuntini e Cibele Amaral. Afinal, exibir o longa-metragem de estreia no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro é importante. Projetar em salas comerciais passa a ser ainda mais essencial: oportunidade de alcançar mais pessoas e, quem sabe, provar às distribuidoras que os filmes independentes (e brasilienses) podem dividir o mesmo espaço com produções nacionais dos grandes centros e os endinheirados títulos estrangeiros.Recentemente, Rock Brasília ; Era de ouro, o documentário de Vladimir Carvalho, atravessou a distância entre festivais e salas comerciais com agilidade, em questão de alguns meses: passou em Paulínia, em Brasília e, na sequência, chegou ao circuito comercial. Outro exemplo, de outubro de 2010, é o thriller Federal, de Erik de Castro: cópias em 63 salas do país. Agora, resta saber se as estreias de Cibele e Giuntini são agradáveis coincidências ou sinais claros de uma mudança de comportamento do mercado.
Obstáculos vencidos
Foram exatamente quatro anos. A primeira exibição pública do longa-metragem brasiliense Simples mortais, de Mauro Giuntini, aconteceu exatamente em 25 de novembro de 2007 durante a Mostra Brasília do 45; Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, de onde saiu premiado com o troféu Câmara Legislativa de longas em 35mm e o lançamento do filme que só aconteceu agora em 2011, no último 25 de novembro. ;Isso reflete um monte de coisas, a dificuldade está inserida dentro de uma coisa maior. A maneira como está funcionando a distribuição de filmes no país é uma delas. O mercado está lançando muitas cópias juntas para que o filme fique o menor tempo possível em cartaz. Para um filme pequeno é muito difícil encontrar distribuidores desse jeito;, lamenta o cineasta estreante em formatos de longa duração.
A ficção formada por várias histórias de cidadãos comuns mantidas em ambiente íntimo ganhou o prêmio de júri popular no 16; Cinesul ; Festival Ibero-Americano de Cinema (RJ), em 2009, e os prêmios de melhor ator para Chico Sant;Anna e melhor ator coadjuvante para Eduardo Moraes no 12; Cine-PE, Festival Audiovisual do Recife. Mesmo assim, encontrou obstáculos de lançamento que pareciam intransponíveis até o diretor ter resolvido encarar o trabalho pessoalmente. ;Sou eu que estou lançando o filme com a verba do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Isso aconteceu por falta de opção mesmo. Teve distribuidor que chegou a ficar um ano com a fita e não a lançava;, relembra Giuntini. ;Na conversa com diversos exibidores ficou claro para mim que não adianta colocar um filme numa sala voltada para um público não acostumado a assistir aos títulos que saiam da fórmula de cinemão. O público não entra. É melhor ser colocado em menos salas, mas com público receptivo para esse tipo de cinema do que insistir em circuitos que não sejam apropriados;, qualificou o diretor e, agora, distribuidor.
Segundo o cineasta, a experiência foi determinante para o planejamento do próximo longa, Plutão em trânsito, ainda em fase de captação. ;Deu para entender melhor o mercado. É uma outra visão de cinema que eu não tinha até então.
Simples mortais ocupou dois horários na grade de programação do Cinemark Pier 21 na primeira semana. Agora, está sendo exibido apenas no horário de almoço, às 13h30, no mesmo lugar. O Espaço Itaú Cultural de Cinema anunciou o filme na programação a partir de sexta-feira, quando será aberto ao público. Na semana que vem, a fita estreia em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Sátira pastelão
Outra novata em longas, a brasiliense Cibele Amaral acredita que seu primeiro filme, Um assalto de fé, é destinado ao grande público. Ou seja: partir para um próximo projeto sem ter visto a fita nos cinemas seria frustrante para ela. ;Os filmes brasilienses só precisam de uma chance. A gente tenta falar com as distribuidoras, mas não passamos nem da secretária;, lamenta. O segredo, segundo a diretora, é tentar iniciar uma conversa com o distribuidor desde a fase de roteiro. Tentar emplacar um título pronto, talvez carecendo de pequenos ajustes, pode atrasar o lançamento em meses, até anos.
No caso dela, o processo levou ;apenas; um ano. Com o título prévio de O galinha preta, a comédia de ação, rodada principalmente em Brazlândia, passou no penúltimo Festival de Brasília, em cópia inacabada. O corte final foi projetado pouco depois, no Festival do Rio, ainda em 2010. A produção, iniciada em outubro em 2007, somou dois anos e quatro meses ; entre gravação e finalização.
Os recursos obtidos pelo FAC estão longe do ideal, mas a cineasta considera a ajuda do governo importante para o início do contato com as distribuidoras. ;Com ele, a gente tem a chance de entrar aos poucos. Desde que o FAC começou a apoiar lançamentos, os filmes de Brasília estão conseguindo chegar. É uma verba que pelo menos ajuda a gente a conversar com o distribuidor;, ela diz.
Filmado num estilo ;bem pastelão;, segundo a realizadora, Um assalto é decididamente comercial: Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts, é protagonista de uma trama de confusões e desencontros, em que o músico Falcão interpreta um caricato cantor evangélico.
Doses de paródia suficientes para causar polêmica. De líderes religiosos, chegaram mensagens tanto bem-humoradas como incendiadas. Das plateias locais, boa bilheteria: 1.065 pessoas viram o filme no primeiro fim de semana. No último, o longa estreou em somente uma sala, no Pier 21, e em duas, em São Paulo. A partir desta sexta, deve entrar em cartaz no Cinemark do Taguatinga Shopping. Dia 16, desembarca no Rio de Janeiro.