Diversão e Arte

Carnavalescos e personalidades lamentam a morte de Joãosinho Trinta

postado em 17/12/2011 17:01
No Carnaval carioca de 2012, ele viria como destaque do último cargo alegório, fechando o enredo da Beija-Flor, que homenageará a capital do Maranhão. Joãosinho Trinta estava empolgado. Acompanhou de perto a escolha do samba-enredo e os preparativos da escola que ganhou cinco títulos graças à sua criatividade. Com a morte do carnavalesco apontado como o responsável por elevar o carnaval da categoria de "festa" para "manifestação cultural", a Beija-Flor terá que repensar a homenagem. O Diretor de Harmonia da escola, Laíla, já avisou que o carro que traria Joãosinho Trinta não terá substituto. "A escola está muito sentida", resumiu. O Carnaval de 2012 não terá a presença do carnavalesco, mas a homenagem será "duplicada", adianta Laíla.

Carnavalescos e personagens importantes da história do evento que no Rio de Janeiro ganha sua maior expressão são unânimes em apontar que a obra de Joãsinho Trinta é o divisor de águas do Carnaval. O coreógrafo Carlinhos de Jesus observa que Trinta foi o responsável por levar o Carnaval das ruas para os estudos acadêmicos. O carnavalesco Milton Cunha, por sua vez, destaca a veia social presente na obra do artista maranhense. "Já em 1975, ele coloca no Carnaval a cobiça internacional pela Amazônia, a questão do negro. A obra dele tem importância para a Democracia brasileira, faz o Brasil enxergar o Brasil." Confira depoimentos sobre o artista:

CARLINHOS DE JESUS (coreógrafo) - Ele é de grande importância não só para o Carnaval, maior festa popular brasileira, ele contribuiu também para que fosse uma grande manifestação cultural, palco para o estudo, pesquisa, para a origem da cultura, do enredo, do abstrato. Ele levou a folia, que tinha a imagem ligada ao lança-perfume, para dentro das universidades. É o antes e o depois com Joãosinho Trinta. Antes dele, já existiam grandes carnavalescos, grandes figuras, não é que vivessem na mesmice, mas tinham um linha puramente folclórica. Todos beberam da fonte do Joãsinho Trinta. Todos seguiram, não vou dizer copiaram. Ele convenceu cabeça de jurado de pensamento arcaico, preconceituoso. Trouxe a nudez para a avenida. O corpo, sim, porque não? Ele desnudou a história, a cultura, desafiou preconceitos, estigmas da sociedade. Todos seguiram suas convicções, todos se convenceram a partir de Joãsinho Trinta. A partir da sua ousadia, partiram para o desafio, para a mudança da leitura do carnaval.

PAULO BARROS (carnavalesco) -
Sou suspeito para falar do João, comecei minha vida profissional praticamente com ele. Entrei no barracão de escola a primeira vez com a presença do João. Eu tinha um trabalho voluntário, não tinha ligação com a escola. A partir daí, comecei a viver mais perto dele e a efetivamente aprender o significado da visão dele. Ele dizia que nós não usávamos nem 20% da capacidade do cérebro para a criatividade, deixávamos quase 80% for a de uso. Ele me dizia para exercitar isso com profundidade. Também tinha uma coisa engraçada, ele tinha uma visão poética, dizia que o Carnaval poderia consertar muita coisa, dar rumo diferente nas nossas vidas, no cotidiano.

MILTON CUNHA (carnavalesco) - Ele é um bom representante do povo, é a cara dos brasileiros, normal, baixinho, marcado pela sua região, pela sua trajetória de vida. O povo se identificava, porque ele era muito isso. A obra é fabulosa, porque ele traz questões da decadência humana no final do milênio, isso é atípico nos carnavalescos. Até ele, não enveredavam para questões oníricas, de importância teórica. Ele antecipou questões, já em 1975 ele coloca no Carnaval a cobiça internacional pela Amazônia, a questão do negro. A obra dele tem importância para a Democracia brasileira, faz o Brasil enxergar o Brasil. O Brasil dele é o Brasil do negro, da criança abandonada, é o Brasil de verdade, não é o Brasil da alegoria carnavalesca. Ele enxergava o Brasil exatamente como nas viagens que ele fez no pau-de-arara. Até então, para o Carnaval o Brasil era o Brasil da realeza, apenas.

LAÍLA (diretor de Harmonia da Beija-Flor) - O João foi o percursor da mudança do Carnaval do país, quando tirou as figuras do chão. Trabalhávamos juntos, hoje a gente tem diversos nomes querendo assumir uma herança que é dele. Nós íamos prestar uma homenagem a ele, vivo. Mas essa homenagem será duplicada. A escola está muito sentida com a morte dele. Já estamos projetando o reconhecimento de tudo, a gente levou o projeto todo para conversar com ele no Maranhão, ele elogiou, ouviu todos os sambas finalistas. Perguntei a ele qual o samba da escolha dele, ele disse: você sabe o que faz.

MAX LOPES (carnavalesco) - Ele foi o mentor intelectual de toda transformação da festa, deu um cabedal maior de sabedoria à nossa cultura. Nosso turismo deve muito a ele. Foi o intelecto dele que deu a grandiosidade à festa, que antes dele era bem menor.

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