Diversão e Arte

Diretor suaviza absurdos da trama de Missão: Impossível com doses de ironia

postado em 21/12/2011 10:00

Quem acompanhou a franquia de filmes estrelada e produzida por Tom Cruise até agora certamente tem na memória uma ou outra cena ;mentirosa; de ação, trechos assobiáveis do inconfundível tema musical, composto por Lalo Schifrin para a série de tevê original (de 1966-1973), e a tradicional mensagem secreta que se autodestrói em alguns segundos. No quarto título da saga, Protocolo fantasma, esses icônicos elementos não foram esquecidos. Mas, talvez por uma feliz soma de esforços (Brad Bird, o diretor, vem da animação; Simon Pegg, coadjuvante do capítulo anterior, está mais solto), a renovação levada a cabo pelo produtor J.J. Abrams (Lost, Super 8), diretor do terceiro, sabe quando levar as coisas a sério (o que, a rigor, significa reprisar com segurança o que já foi feito) e quando ser irônica.

Agente infalível da IMF (Força de Missões Impossíveis), Ethan Hunt (Cruise) provoca o desmantelamento da agência ao ser acusado da bomba que destruiu o Kremlin, em Moscou. Na verdade, ele, disfarçado de um oficial do alto escalão, estava lá para apurar o desaparecimento de códigos de armas nucleares russas, roubadas do colega Hanaway (Josh Holloway) pela mercenária Sabine (Léa Seydoux). O terrorista Cobalto (Michael Nyqvist)) foi o autor do atentado.

Missão: Impossível - Protocolo fantasma tem estreia antecipada em 20 salas do DF

Poeira nuclear

Mas a inteligência norte-americana não tem dúvidas: Hunt e a IMF abalaram as relações diplomáticas entre EUA e Rússia. O ;protocolo fantasma;, aprovado pelo presidente ianque, torna a agência ilegal. Sem apoio tecnológico (satélites e brinquedinhos modernos estão indisponíveis), Hunt, Jane (Paula Patton), Benji (Pegg) e o novato Brandt (Jeremy Renner) precisam salvar o planeta na condição de vilões internacionais, agindo no escuro em nome de um órgão marginalizado e obsoleto. É aí que entra o humor aventureiro de Bird, ganhador do Oscar por Os incríveis (2004) e Ratatouille (2007).

A ameaça é séria: se Sabine conseguir vender as informações a Cobalto, o mundo como o conhecemos corre risco de virar poeira nuclear. Mas a atmosfera de pré-apocalipse, explorada por Brian De Palma com uma sisudez nervosa, trêmula de tão tensa no primeiro filme, aqui é suavizada pelas trapalhadas de Benji e pelo inevitável conhecimento do público das capacidades do herói. Sabe-se que Hunt nunca erra. E, se erra, é para acertar em dobro depois. Para a satisfação de quem o vê fugindo praticamente ileso de explosões, é possível rir do absurdo sem comprometer a diversão.

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Quantidade de cópias de Missão: Impossível ; Protocolo fantasma projetadas no Brasil

MISSÃO: IMPOSSÍVEL ; PROTOCOLO FANTASMA

De Brad Bird. Com Tom Cruise, Paula Patton e Simon Pegg. Ação, 133 min. Não recomendado para menores de 14 anos. Veja horários e salas no Roteiro (página 6).

Cinco perguntas// Brad Bird

Quando decidiu que poderia fazer um filme em live action?
No processo de qualquer filme, você tem que saber usar a linguagem do cinema e tentar saber quais ângulos usar, quando usar abertos e fechados, e quando mudar de um para o outro. Há coisas mais fluidas em cada diretor, tentei entender isso: por que alguns diretores deixam você com mais medo, ou fazem você se divertir, ou fazem cenas sangrentas. Pensei em como alguns desses tiveram sucesso e outros falharam. Então, sempre quis fazer um live action.

Você se sentiu pressionado em continuar uma saga de sucesso?
Você sempre sofre pressão quando está fazendo uma continuação. A plateia tem expectativa enorme baseada em filmes anteriores. Em vez de olhar para isso como um ônus, você pode ter outra atitude e aproveitar as expectativas do público. Você pode levá-lo para outros lugares. Acho que qualquer pessoa que viu os outros filmes espera que os aparelhos funcionem sempre. Tem algumas surpresas neste (risos).

A experiência com storyboards na animação teve influência na montagem?
Imaginei o filme em várias seções. Tinha uma no gelo, com snowmobiles, água. Era uma loucura. Teria sido ótimo, se tivéssemos conseguido. Mas tivemos que cortar a sequência porque estávamos com orçamento comprometido. Houve um momento em que eu disse: posso fazer shot list (programação de filmagem) ou dormir. Qual dos dois eu duro mais fazendo? (risos).

Como era sua rotina no set?
Chegava no set de manhã com a cena que eu queria. E estava imaginando as próximas duas. Ficava à frente deles (da equipe). Fiquei feliz que, na montagem, tive alguém com intuição (Paul Hirsch, Oscar por Star wars, 1977). Filmei de modo intuitivo, tendo a mesma sensação de quando rodava planos em dias diferentes, em ângulos diferentes.

Você ficou satisfeito com o resultado?

Fiquei feliz com as cenas que fiz com meses de distância. Elas pareciam ter sido feitas ao mesmo tempo, moviam-se nos momentos certos, paravam nos momentos certos, criavam oportunidades para um contraplano. Fiquei satisfeito de ter feito tudo fora de ordem e perceber que deu certo.

* Entrevista com o diretor realizada em coletiva no Rio de Janeiro

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