postado em 22/12/2011 08:05
O paulista Paulo Levy sempre teve um relacionamento íntimo com a palavra. Trabalhou como redator publicitário durante 15 anos. Depois, fundou uma empresa de e-books, uma das primeiras no Brasil, em 2000. A experiência, que hoje ele considera precoce demais, durou até 2001. Nos cinco anos seguintes, gerenciou a filial paulistana da editora Objetiva, até fundar seu próprio selo, Bússola. E é por ele que Levy lança o seu primeiro romance, Réquiem para um assassino. E engana-se quem pensa que ele vinha rascunhando qualquer coisa entre as idas e vindas no mercado literário. A trama apareceu para ele unicamente numa visão, numa viagem que fez a Paraty, litoral fluminense, em julho de 2010.A narrativa da ;iluminação;, aliás, parece saída da ficção. Levy andava na beira da praia, seguindo a orla num ponto em frente à igreja de Santa Rita. Subitamente, talvez inspirado pelo movimento cíclico da maré, veio-lhe uma imagem: largado num trecho de lodo seco, estava deitado um corpo imóvel. Com flashes da cena latejando na cabeça, o autor conversou com policiais civis e membros do corpo de bombeiros. ;Queria saber quais seriam os procedimentos num caso como esse, se o caso era crível ou algo assim. Foi realmente uma epifania que me aconteceu e me senti impelido a escrever. Sempre tive vontade de escrever, mas não sabia sobre o que escrever;, diz o escritor.
A narrativa é ambientada na fictícia Palmyra, cidade histórica do Rio de Janeiro. Quem encontra o cadáver abandonado é o delegado Joaquim Dornelas, protagonista da história. Seguindo a trilha de detetives amargos dos filmes noir, Dornelas é um solitário: vive longe da mulher e dos filhos, mal consegue fechar os olhos à noite e entorna doses de cachaça como quem bebe copos d;água. Com um histórico particular riscado de tristezas, ele entrega-se à carreira. Mas é justamente nos desdobramentos do misterioso cenário visto no litoral que ele encontra algum alento. ;Sigo a rotina do delegado, mas a vida pessoal dele faz parte da história. Isso traz humanidade para o personagem. Os investigadores de hoje não podem ser perfeitos como o Sherlock Holmes, cuja vida pessoal nem aparecia nos livros. Hoje em dia, o leitor tem interesse em personagens reais, possíveis;, comenta o estreante
Influência paterna
Levy não dispensa uma boa leitura de romances policiais ou uma reprise de qualquer filme de Alfred Hitchcock ; Frenesi (1972) é o seu favorito do diretor britânico. Recentemente, movido pela foto de um amigo vista no Facebook, tirada na casa onde Ian Fleming escreveu a saga do agente 007, na Jamaica, comprou uma porção de volumes do inglês. Mas a maior inspiração, ele reforça, vem do pai. ;Ele foi e é um grande leitor de espionagem: John le Carré, Frederick Forsyth, Ken Follett. Nenhum escritor me influenciou mais do que ele. Depois que o Dornelas nasceu, consegui entender a influência do meu pai;, diz.
Atualmente, o paulista conversa com produtoras para a produção de uma série de filmes baseada em Dornelas. Até por isso, já está adiantado na composição do segundo livro, pretendido para o ano que vem. ;Minha ideia é fazer um romance por ano;, planeja. Resta saber se, para isso, ele precisará fazer uma visitinha a Paraty, a Jamaica de Paulo Levy.
RÉQUIEM PARA UM ASSASSINO
De Paulo Levy. Bússola, 224 páginas. R$ 34,90.