postado em 23/12/2011 08:42
João Guimarães Rosa era assim, quando não existia uma palavra que definisse o que queria dizer ou quando a sonoridade não era aquela que gostaria que tivesse, ele inventava. Foi desse modo, com a linguagem que aprendeu e criou, que ele escreveu Grande sertão: veredas, obra-prima da literatura brasileira. O clássico foi reeditado para voltar a ser como os exemplares dos anos 1950 e 1960. Começa com a capa, um fac-símile de uma página do livro que se tornaria o Grande sertão, à época com o nome provisório de Veredas mortas.A nova edição seria apenas mais uma entre as dezenas que já saíram, mas uma novidade torna o livro especial: ele vem em um box, acompanhado de outras duas publicações. Uma delas é A boiada, relato inédito do escritor, resultado de uma expedição para conhecer os rincões de Minas Gerais, em 1952. Páginas dos cadernos de viagem de Guimarães são reproduzidas tais como foram redigidas pelo escritor, às vezes de próprio punho, a lápis, à caneta. E algumas vezes datilografadas, com rabiscos, correções e anotações do autor. Toda a história é toda contada pelas reproduções dos originais. No fim, duas professoras especializadas na obra, Sandra Vasconcelos e Mônica Meyer, comentam os textos.
Vozes potentes
O outro livro que acompanha o box traz depoimentos, declarações e opiniões inéditas de nomes como Antonio Cândido, Haroldo de Campos, Antonio Callado, Décio Pignatari, Paulo Mendes da Rocha e Sérgio Sant;Anna sobre escritor e obra. Como romance literário, a obra provou que ;o sertão é do tamanho do mundo;, ganhando traduções em vários idiomas. Para satisfazer a curiosidade dos leitores, acompanham impressões de capas das edições publicadas em países como Itália, Alemanha, Argentina, Holanda, França e Dinamarca.
A nova versão de Grande sertão: veredas, lançada pela editora Nova Fronteira, não faz parte de nenhuma comemoração no calendário de Guimarães Rosa. Ele nasceu em 1908, portanto, o centenário de nascimento passou. O livro foi editado em 1956: o cinquentenário também passou. A ideia do box surgiu com a oportunidade de lançar a primeira edição com os escritos de A boiada, antes restritos aos pesquisadores do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP).
Mesmo com o ineditismo de textos e um luxuoso acabamento, a coleção deixa a sensação de que está faltando alguma coisa. Tal como as três obras que compõem o box, Sagarana, livro de contos publicado em 1946, merecia um novo tratamento e inclusão na coletânea. Foram impressas apenas 10 mil cópias, vendidas exclusivamente pela Livraria Saraiva ao preço de R$ 94,90.
GRANDE SERTÃO: VEREDAS
Caixa comemorativa com três livros. Nova Fronteira. R$ 94.90.