Irlam Rocha Lima
postado em 24/12/2011 07:25
O mais importante intérprete do cancioneiro nacional da primeira metade do século 20, o carioca Francisco Alves, é objeto de reverência por parte de Márcio Gomes. O jovem cantor ; ele tem 37 anos ; também nascido no Rio de Janeiro, recriou 13 músicas da vasta obra do homenageado, com arranjos de Alfredo Del Penho, em disco produzido por Rodrigo Faour. A poderosa voz de Márcio pode ser apreciada em consagradas canções, sambas clássicos, inesquecíveis marchinhas carnavalescas e até na versão de um standard do jazz, que fazem parte do elenco de cerca de mil gravações deixadas por Chico Alves, como era conhecido. O artista morreu aos 54 anos, em 27 de setembro de 1952, vítima de um acidente automobilístico, em Pindamonhagaba, no interior de São Paulo.
;Quem propôs a gravação do Márcio Gomes canta Francisco Alves foi o Rodrigo Faour (produtor, também do CD Sexo MPB). Conhecedor do meu trabalho, disse que eu tinha voz com extensão que se adequava com naturalidade à interpretação de canções gravadas pelo Rei da Voz. Uma outra coisa: ele idealizou o projeto, pensando num intérprete da nova geração, uma voz jovem;, explica Márcio.
Para definir o repertório, o cantor ouviu mais de 200 músicas. ;Foi prazeroso passar por tantas músicas belíssimas, boa parte delas gravadas originalmente por Chico Alves. Mas foi muito difícil chegar às faixas escolhidas (13 ao total). Me inspirei na versatilidade dele, mas fugi da imitação. A preocupação maior foi não repeti-lo, mas deixar registrada minha identidade;, conta.
Márcio diz que, para alcançar a performance desejada, muito valeram os arranjos criados pelo cantor e violonista Alfredo Del Penho, outro destacado nome da moderna MPB, pertencente à geração originária da Lapa. ;A participação do Alfredo foi brilhante. Ele se empenhou de forma emocional em todo o processo de gravação, assim como o Faour, um profundo conhecedor da música brasileira;, elogia.
Auxílio luxuoso
Aliás, foi o produtor quem sugeriu, por exemplo, a regravação de O amor é sempre o amor, versão de Jair Amorim para As time goes by, de Herman Hupfeld, imortalizada por Frank Sinatra. Nas faixas, Márcio contou com o auxílio luxuoso de piano, contrabaixo, violões, cavaquinho, flauta, sax, trombone, bateria e percussão, sob a regência de múltiplo Del Penho.
Boa noite amor (José Maria de Abreu e Francisco Mattoso) permite a Márcio a brilhar na abertura do repertório. Logo depois, ele tem, em Cauby Peixoto, um convidado especialíssimo na valsa Eu sonhei que estavas tão linda (Lamartine Babo e Francisco Mattoso). ;Além de ídolo, Cauby é amigo de longa data. É um ícone da era de ouro do rádio, que abrilhanta meu trabalho;, elogia.
Um arrebatadora sequência de sambas, formada por Despedida da Mangueira (Benedito Lacerda e Aldo Cabral), Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues), A Lapa (Herivelto Martins e Benedito Lacerda) e Onde o céu azul é mais azul (João de Barro, Alcir Pires Vermelho e Alberto Ribeiro), permite Márcio a exibir outra faceta do grande intérprete que é; assim como em Na virada da montanha (Ary Barroso e Lamartine Babo), ouvida após O amor é sempre o amor.
A voz do violão, um das muitas composições de Chico Alves (feita em parceria com Horácio de Campos), ganha versão respeitosa do discípulo, que provoca emoção ao cantar Serra da Boa Esperança (Lamartine Babo). O pot-pourri de É bom parar (Noel Rosa e Rubens Soares), Palhaço (Benedito Lacerda e Herivelto Martins) e Que rei sou eu? (Herivelto Martins e Waldemar Ressureição), sambas cheios de suingue, é outro bom momento desse disco.
Um outro pot-pourri, formado pelas carnavalescas Confete (Jota Júnior e David Nasser), Dama das Camélias (Alcir Pires Vermelho e João de Barro) e Grau 10 (Ary Barroso e Lamartine Babo), junta-se ao samba-exaltação Canta Brasil. Todos reforçam o talento interpretativo de Márcio Gomes, um cantor que o grande público precisa urgentemente tomar conhecimento.
Foi muito difícil chegar às faixas escolhidas. Me inspirei na versatilidade dele, mas fugi da imitação"
Márcio Gomes
Márcio Gomes canta Francisco Alves
CD com 13 faixas, arranjos de Alfredo Del Penho e produção de Rodrigo Faour, lançamento do selo Edições Musicais 2011. Preço médio R$ 15.
200
Número de músicas ouvidas por Márcio Gomes para compor o disco