postado em 26/12/2011 08:40
Quem vai ao teatro assistir a uma peça sabe que, se for dias seguidos, vai assistir a performances diferentes. Essa é a natureza efêmera do teatro, uma característica intrínseca e inviolável dessa linguagem, que a faz única, diferente, por exemplo, do cinema, no qual a recepção pode ser reproduzida sempre da mesmíssima maneira. Debruçado diante do fenômeno teatral, o escritor Tauller Cançado desenvolveu ferramentas para, ao menos, manter uma uniformidade no trabalho do ator. O estudo converteu-se no livro Equalização cênica ; Bioequalização, lançado neste mês pela editora Scortecci. Foram 18 anos de observações e práticas para o diretor e escritor criar um sistema que planeja as ações do atores ao misturar teorias da eletrônica e da semiótica.Planejar é o primeiro passo para a construção cênica perfeita, segundo Cançado. Nada distante do que os diretores já praticam. Mas, nessa técnica, o planejamento é feito em gráficos, nos quais os sentimentos, a tonalidade de voz, as ações corporais e o posicionamento no palco são milimetricamente numerados. Com bases as teóricas da semiótica, ele buscou dar significado para cada ação do intérprete. ;O estudo auxilia a participação consciente do indivíduo na obra para a qual oferece sua força de trabalho, ajudando-o a entender os limites dos ambientes e transpô-los a partir do uso ótimo dos seus talentos em função das relações de afeto e da conciliação dos seus objetivos, dos desejos pessoais e o dos grupos junto aos quais atua;, explica.
Três personagens
A ideia de mostrar pontualmente cada passo do ator em cena surgiu quando Cançado buscava uma forma de diferenciar três personagens que interpretaria no mesmo espetáculo. Há época, ele trabalhava como administrando o DIS (Núcleo de Design e Som), em Belo Horizonte, onde, diante uma mesa de som, percebeu que os conceitos da equalização sonora poderiam ser aplicados ao teatro. ;Quando se equaliza o som de um espetáculo, nós fazemos um gráfico da mesa, que mostra exatamente onde cada botão está localizado para, no dia seguinte, termos a mesma qualidade. Isso é feito com o cenário, iluminação, e pode ser feito com o ator;, garante. Ainda segundo ele, o estudo também é extensível para o espectador ou até mesmo para outras áreas profissionais, porque ensina a se comportar corretamente em uma entrevista de emprego, por exemplo.
Mineiro de Belo Horizonte, o autor é graduado em administração de empresas e pós-graduado em atenção primária à saúde. É servidor da Secretaria de Saúde de Anchieta (MG), onde usa a equalização cênica em trabalhos de formação de agentes comunitários. Teve contato com o teatro ainda criança, enquanto brincava de ser músico. Com 47 anos, atuou em 12 peças, dirigiu sete e produziu outras cinco. Morou em Brasília de 2002 a 2006, onde participou de peças como Senhora dos afogados, Nelson Rodrigues, e Anjos & monstros, que escreveu, atuou e dirigiu. Trabalhou nas novelas Malhação e Sete pecados, da Globo, e Luz do sol, na Record.