Nahima Maciel
postado em 05/01/2012 11:43
O violoncelista Ataíde de Mattos ficou preocupado com a lentidão das inscrições no 34; Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (EMB) nos dias que antecederam o Natal. ;Fiquei com medo de não atingirmos nem o mínimo de 500 alunos;, conta o diretor da EMB. Durou pouco. A preocupação não sumiu, apenas mudou de polo. Encerrados os feriados, as filas na escola aumentaram e a internet quase ficou congestionada tamanha a procura: foram 1.260 inscrições para um total de 800 vagas.Este ano, pela primeira vez, a escola aceitou vídeos como parte do material de seleção, o que ajudou especialmente os alunos de fora. O Curso de Verão é destinado a iniciados e exige conhecimentos avançados de música que, até 2010, eram avaliados de acordo com os currículos dos interessados. ;O vídeo foi muito bom para os candidatos porque muitas vezes a pessoa não tem o currículo mas pode gravar e mostrar como está tocando;, avalia Mattos.
O Curso de Verão teve início ontem com uma lista de 57 professores convidados entre estrangeiros e brasileiros, alunos de todo o país e uma programação que, pela primeira vez, vai contemplar quatro cidades do Distrito Federal. ;A ideia é levar o curso para uma extensão dentro do referencial de que a gente precisa melhorar o acesso da música para a pessoas de Brasília;, diz Mattos. ;É um curso de uma escola pública então queríamos dar atenção ao usuário da escola pública e o que era mais viável era levar os concertos para outras cidades.; Por enquanto, Taguatinga, Sobradinho, São Sebastião e Gama recebem os concertos do curso. A intenção é que, no próximo ano, algumas oficinas destinadas a iniciantes também sejam realizadas nas cidades.
Convidados
Outra novidade do curso está na concepção da lista de convidados. Os próprios professores da escola apresentaram sugestões e indicaram nomes considerados importantes em suas áreas. A música erudita ficou com o maior número de convidados e inscritos, já que tradicionalmente o curso conta com três orquestras ; um sinfônica, uma banda e uma big band ; formada pelos alunos. Nesse quesito vai ser importante o trabalho dos regentes Claude Brendel, do Conservatório de Rouen (França), e de Ricardo Rocha, da Orquestra Bachiana Brasileira. O piano erudito ficou nas mãos de duas referências. O francês Pascal Gallet traz a energia como marca e o brasileiro Moura Castro, a experiência pedagógica.
A música popular também tem participação importante, embora o número de professores da área erudita seja maior por conta da diversidade e do volume de músicos necessários à formação das orquestras. Músicos conhecidos em Brasília, como o guitarrista Genil Castro, o violonista Alessandro Borges e o contrabaixista Leonardo Cioglia integram a lista de professores ao lado do acordeonista Toninho Ferragutti e do baixista Serginho Carvalho, que já gravou com Rita Lee, Zélia Duncan e Jair Oliveira. Tradicionalmente, os convidados realizam apresentações pelos bares, teatros e casas noturnas da cidade, além dos concertos e recitais na própria EMB, mas as agendas são fechadas ao longo dos 17 dias de curso.
Quatro perguntas - Ataíde de Mattos
Esse ano a direção da EMB resolveu levar apresentações para outras cidades. Por quê?
A gente precisava melhorar o acesso desse curso às pessoas de Brasília. Nessa edição se partiu para isso. E o que era mais fácil de fazer? Viável de se fazer imediatamente era levar os concertos das apresentações para mais quatro polos.
E aulas, seria possível levar também?
Cogitamos inicialmente. A intenção é oferecer para a próxima edição um prosseguimento dessa ideia. O que dava para fazer de imediato era levar os concertos e facilitar a participação da comunidade. Nessa situação, a gente conseguiu uma adesão da comunidade muito maior do que tinha notícia dos cursos anteriores.
O que significaria levar as aulas?
Mudar um pouco o conceito, fazer oficinas para iniciantes. O curso, no momento, é de aperfeiçoamento, precisamos de alunos que possam demonstrar algum tipo de habilidade desenvolvida. Essa proposta pode e deve ser ampliada para que possamos atender outros interessados. Como temos curso de formação continuada para professores, talvez a gente possa também atender a uma necessidade diferente de formação. Por enquanto, não temos condições de admitir iniciantes porque, em duas semanas, precisamos de pessoas que possam compor uma orquestra. Mas essa é uma tradição que a gente precisa rever em partes. Também temos que lembrar que essa oportunidade (para iniciantes) existe durante todo o ano. O interessante do curso é ter contato com o que se faz em outros estados e em outros países. É um momento de respirar, interagir, de fazer contato.
O que o Curso de Verão representa para esses alunos? O que eles levam?
Tradicionalmente, dependendo do nível do aluno, muitos saem com contatos para estudar no Brasil e no exterior. O que vemos aqui é que muitos foram ex-alunos de professores do Curso de Verão, se formaram na UnB ou outras escolas e foram fazer pós-graduação com esses mesmos professores com quem tinham feito contatos nos cursos. Tem uma parte muito importante para continuidade de estudos e algumas aberturas para atividades profissionais. E tem algo que vem acontecendo há alguns anos que é uma confluência do pessoal do Norte e Nordeste. Temos gente do Sudeste, mas não muitos. O pessoal do Norte e Nordeste acha que aqui é mais próximo do que a Região Sudeste, que é muito cara. Estamos sendo interessantes para o pessoal dessa região.