Diversão e Arte

Em sua primeira HQ autoral, Daniel Og cria fábula divertida

postado em 06/01/2012 13:29
Yuri escolheu o dia errado para morrer. De saco cheio do carnaval do Rio de Janeiro (;não sei sambar, nunca tive temperamento tropical;), esse publicitário pulou de um prédio no domingo. Ressuscitou na segunda, ainda com a festa tomando conta da cidade. ;Você diria que eu ganhei um milagre. A chance de consertar meus erros. Mas eu não mudei. Porque sou o mesmo de antes. Burro, feio e chato. Sem missão divina, sem dinheiro e atrasado para o trabalho.; De volta ao mundo dos vivos, Yuri percebe que a única coisa em comum entre ele e o Rio é que ambos estão apodrecendo ; Yuri saiu do túmulo como um zumbi.

Como azar pouco é bobagem, bastou apenas um dia para que ele perdesse o emprego para um estagiário e a mulher, para um ricardão qualquer. Mas nem tudo está perdido para o protagonista da história em quadrinhos Yuri: quarta-feira de cinzas. Com a ajuda de Andrei, um ladrão de carros (gordo, gay, oportunista, inconsequente e, acima de tudo, carismático), ele decide ir a forra antes de morrer de vez. Até a última página, Yuri desafiará o rei momo, cabrochas, foliões, blocos de rua e uma turba descontrolada que acredita ser ele um santo milagroso.Em Yuri: quarta feira de cinza, desenhista faz crítica ao jeito festivo do brasileiro

Primeira HQ autoral do diretor de animação e ilustrador carioca Daniel Og, Yuri: quarta-feira de cinzas consegue uma façanha ainda pouco frequente entre os novos criadores de quadrinhos nacionais: seus personagens terem personalidade vívida, que salta das páginas. O protagonista é alguém que tem tudo, mas se deixa vencer pelo tédio. Andrei não tem nada a não ser seu próprio senso de sobrevivência. Juntos, mesmo brigando o tempo todo, a dupla parece se completar.

Sem forçar a barra, o autor também é bem-sucedido em fazer comentários sociais e levar brasilidade para a história. E tudo isso com muito humor. Og radiografa parte do Rio mostrando tanto a alegria contagiante do carioca, quanto o lado mundo cão da cidade, onde malandro é malandro, mané é mané e todos querem passar a perna uns nos outros. E ainda que o carnaval seja pano de fundo para a trama, o autor não se agarra aos clichês, que geralmente estão presentes nos roteiros passados na Cidade Maravilhosa.

Ao conceito da história e à construção dos personagens, soma-se uma arte em preto e branco carregada de personalidade e estilo ; ainda que simples, quase minimalista (como bem comenta Allan Siber no texto de introdução). Yuri: quarta-feira de cinzas foi lançada no fim de dezembro. Por isso mesmo, merece figurar em qualquer lista de melhores HQ nacionais de 2012.

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