postado em 06/01/2012 13:56
O Clube dos 27 é um dos movimentos mais intrigantes da cultura pop. Para quem não conhece, trata-se da reunião de músicos que morreram com essa idade. A lista abarca nomes de peso, como Jim Morrison (The Doors), Kurt Cobain (Nirvana), Janis Joplin, Jimi Hendrix e, mais recentemente, Amy Winehouse. Essa mórbida coincidência é a principal fonte de inspiração de 27, romance de estreia do cantor e escritor alemão Kim Frank.No livro, Frank escreve sobre um jovem chamado Mika ; uma espécie de alter ego do autor ;, que, às vésperas de completar 19 anos, é alçado à fama com a banda Fears. Ao mergulhar no complicado mundo da indústria cultural, o personagem se vê num universo permeado por drogas, álcool e superexposição. Esse cenário clássico dos rockstars remete o leitor ao background dos integrantes do Clube dos 27.
Assim, surge o ponto central da narrativa do livro. Como sugere o título, o protagonista é assombrado pela expectativa de morrer ao 27 anos, assim como seus maiores ídolos. Em uma primeira abordagem, o medo pode sugerir uma arrogância de Mika, que, apesar de ter se tornado uma celebridade, não havia chegado ao nível dos artistas já citados. Mas, ao longo da leitura, a obsessão e o medo que dominam o jovem parecem até surgir de forma natural.
Mika, definitivamente, não teve uma vida fácil. Ao conhecermos o personagem, percebemos uma mãe ausente (quase sempre atolada de trabalho no hospital), um pai inexistente e a convivência com um tio morto em decorrência da Aids. Solitário e hipocondríaco, o rapaz, nas primeiras páginas, vai ao hospital por acreditar que seu coração parou de bater por alguns instantes, o que lhe dá a certeza de que morrerá por conta de um problema cardíaco.
É nesse momento que o jovem começa a se inserir no mundo musical. Em uma tentativa de se reconciliar com o passado, ele vai ao quarto do tio e descobre uma imensa coleção de discos. Assim, Mika é apresentado aos principais astros do rock;n;roll e, por consequência, às suas vidas conturbadas.
A virada na vida do jovem vem após a morte do amigo Lennart, por overdose de ecstasy. Depois do episódio, Mika é descoberto como cantor e letrista e, com o resto da banda, mergulha no mundo da fama. Mas, ao completar 27 anos, a certeza da morte o faz se recolher ao mais absoluto isolamento.
Superexposição
O objetivo principal de 27 é discutir o lado escondido da fama, o submundo regado a drogas, álcool e superexposição. A combinação é fatal para alguns artistas, ao mesmo tempo em que se mostra como um tipo de elixir da longa vida para outros (Keith Richards, por exemplo). Assim, a paranoia de Mika torna-se compreensível e parece surgir como revolta, fuga.
A crítica da superexposição gerada pelo sucesso é recorrente na trama. Em um dos trechos, o autor deixa claro sua revolta com as premiações e os compromissos da banda. ;Hoje, não podia ser pior. European Music Awards. (;) À noite, certamente vamos ser pegos por uma limusine idiota e levados até o tapete vermelho. Nós estamos indicados em todas as categorias possíveis, e os repórteres vão fazer perguntas tão inéditas quanto: ;Vocês estão nervosos?;;
Apesar de partir de uma premissa interessante, o livro falha justamente na hora de exercer uma reflexão mais aprofundada sobre o mundo pop. Em certa medida, a narrativa parece mais uma reclamação de um adolescente revoltado com os compromissos impostos pela fama do que uma discussão sobre excessos e superexposição. Frank não busca a causa, a origem dessa desregulação cultural, e se perde em uma coletânea de clichês, como sexo sem compromisso e drogas.
O mérito é a narrativa ágil e, em boa medida, coloquial. Dessa forma, o livro se torna uma experiência de leitura agradável. Outro acerto é a aposta na contextualização musical ; bandas, cantores e compositores são apresentados de forma eficiente, tornando a publicação uma obra interessante para os amantes da música.
Quem é o autor
Kim Frank, 29 anos, pode até ser um debutante na literatura, mas não se trata de um neófito na escrita. Entre 1994 e 2002, foi o vocalista da banda Echt, que conseguiu relativo sucesso. Desde a separação do grupo, o jovem tenta emplacar a carreira solo (o último álbum é de 2007). Atualmente, também se dedica às carreiras de ator e de locutor em Hamburgo, na Alemanha.