Diversão e Arte

Nas férias, livrarias apresentam obras que agradam a todos os gostos

Nahima Maciel
postado em 09/01/2012 11:31
Steve Jobs, Jô Soares, Boni, Amaury Ribeiro Jr. e Umberto Eco são as estrelas do mercado editorial deste início de ano. Eles frequentam as listas de mais vendidos de livrarias, agências de pesquisa e publicações especializadas desde dezembro último e ajudam a dividir as cifras entre ficção, biografia e reportagem. Mas nos displays das lojas há também uma boa leva que não chega ao 10; lugar das listas, embora carregue potencial para preencher muitas horas de ócio em tempos de férias. Alguns trazem boas informações para ajudar a manipular (e atravessar) 2012 sem danos, caso de Mercado sombrio, uma investigação sobre o cibercrime feita pelo jornalista britânico Misha Glenny. Outros são puro passatempo, coisa que Isabel Allende soube fazer de forma bastante correta ao encerrar 2011 com O caderno de Maya. Se quiser ficar pelas praias brasileiras, o leitor pode recorrer à reportagem do alemão Marc Fisher sobre a tentativa de entrevistar João Gilberto, mas, se quiser ir para longe, bem longe no tempo e no espaço, deve ficar com a aventura histórica de Umberto Eco ou a biografia de Shakespeare, uma verdadeira colcha de retalhos entre a vida do escritor e as histórias narradas em suas peças. Veja abaixo algumas opções para quem quer mergulhar na literatura neste primeiro mês do ano.

Sugestões do Diversão & Arte
Ho-ba-la-lá ; À procura de João Gilberto, de Marc Fischer
O livro do jornalista alemão pode ser lido como uma divertida reportagem escrita para uma revista de variedades. Apresentado à música Ho-ba-la-lá por um japonês em Tóquio, há alguns anos, Fischer encasquetou com João Gilberto ao ponto de se mandar para o Rio de Janeiro em busca do impossível: um encontro com o pai da bossa nova. Não conseguiu, mas voltou a Berlim com um belo texto sobre as peripécias em busca de João Gilberto. Em uma caçada insistente, Fischer consegue abordar amigos, parceiros e pessoas que tiveram contato com o compositor ao longo dos anos. O resultado são boas histórias ; muitas delas, é verdade, já conhecidas ; narradas em forma de crônica a partir de um olhar estrangeiro fascinado pela música brasileira. O autor, no entanto, morreu antes de ver o livro publicado no Brasil. Como um dos personagens de Ho-ba-la-lá, Fischer se jogou da janela de seu apartamento na Alemanha em abril de 2011.

Mercado sombrio ; O cibercrime e você, de Misha Glenny
Depois de investigar o crime organizado em McMafia, livro que o trouxe à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) em 2008, o jornalista britânico vasculhou o mundo do crime cibernético e saiu de lá com livro-reportagem sobre os métodos e as práticas dos criminosos da rede. Para chegar a esse seleto grupo de hackers e bandidos, Glenny investiga as relações entre polícia, criminosos, Estado e iniciativa privada. Nos Estados Unidos, investigadores do FBI migraram para o Google, o que permite o rápido e eficiente cruzamento de informações quando necessário, mas Glenny lembra que não dá para ser ingênuo diante do fato de que milhares de informações sobre bilhares de seres humanos estão concentradas nas mãos de especialistas na linguagem cibernética. Mercado sombrio é uma análise sobre as consequências da internet na vida da sociedade do século 21, escrita com ritmo de reportagem policial e precisão cirúrgica, características do trabalho de Glenny.

O caderno de Maya, de Isabel Allende
O 17; romance de Isabel Allende responde por Maya, jovem filha de um chileno com uma dinamarquesa que acaba isolada na Ilha de Chiloé para se esconder de um mistério, ingrediente importante em boa parte dos livros da autora. O irônico é que Maya está em uma espécie de exílio no mesmo país do qual seus parentes foram expulsos durante a ditadura. Claro, amores relutantes, complicados e perigosos fazem parte da trama, caso contrário, não seria um livro de Allende.

Como Shakespeare se tornou Shakespeare
, de Stephen Greenblatt
William Shakespeare nasceu em meados do século 16 e não há muita informação sobre como viveu. Investir em uma biografia é trabalho de arqueólogo, mas o norte-americano Stephen Greenblatt encontrou caminhos instigantes e conseguiu costurar uma biografia interessante. O leitor não deve esperar texto simples ; Greenblatt é um dos maiores especialistas em Shakespeare dos Estados Unidos e a experiência acadêmica certamente está na obra ; , mas vai encerrar o livro com a certeza de uma familiaridade com as peças do inglês.

; Os mais vendidos

Steve Jobs De Walter Isaacson
Jobs morreu em outubro e, no mês seguinte, o mercado editorial entrou em alvoroço à espera da biografia escrita por Isaacson, que realizou mais de 40 entrevistas com o dono da Apple para escrever o livro. A biografia teve o dedo de Jobs: tudo foi supervisionado e cronometrado para ser publicado na hora certa. Resultado: 203,8 mil exemplares vendidos no Brasil.

A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr.
O livro do jornalista, último acontecimento literário do ano, foi anunciado em tom de denúncia. Entrou fácil (e rápido) para as listas dos mais vendidos e gerou discussões acaloradas na imprensa nacional. A reportagem trata de corrupção e lavagem de dinheiro no processo de privatização durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

O livro do Boni
, de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho
A autobiografia de uma das figuras mais poderosas da televisão brasileira é também uma história da telinha no país e já vendeu mais de 60 mil exemplares desde o lançamento, no início de dezembro. Boni conta como ajudou a transformar a Rede Globo na maior e mais rica emissora do país e se permite narrar pontos polêmicos da trajetória, como os desentendimentos na direção do grupo.

As esganadas, de Jô Soares
Difícil o nome do apresentador não levar seus livros ao topo das listas. Aconteceu de novo com a ficção policial sobre os crimes de um assassino de gordinhas armado de doces portugueses. Jô gosta de histórias policiais e ironia, mistura que imprime no romance com uma narrativa ágil.

Cemitério de Praga, de Umberto Eco
Boa parte dos personagens de Eco neste romance existiram, mas provavelmente não estiveram envolvidos nos crimes de falsificação e nas redes de intrigas criadas para eles pelo escritor italiano. Hábil em mesclar ficção e história, Eco voltou a ocupar lugar em ranking de mais vendidos depois de algum tempo fora de cena. Não que estivesse ausente das prateleiras ; publicou dois belos ensaios sobre estética e leitura entre 2010 e 2011 ; , mas vende melhor
ficção do que teoria. Cemitério já está na terceira edição e vendeu, desde outubro, 91 mil exemplares.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação