Diversão e Arte

Peça retrata a vida da prostituta que fundou a grife Daspu

postado em 11/01/2012 12:31

Depois de um hiato de quase sete anos sem subir aos palcos, a atriz Alexia Dechamps decidiu retomar a carreira teatral com um trabalho que pudesse considerar divisor. ;Queria um desafio, em que nada dos atributos que eu tenho, seja altura, cabelo loiro, magreza, pudessem ser emprestados. Procurava o oposto disso;, conta. Em sua busca por textos cult, que fugissem do óbvio, recebeu a ajuda do empresário Marcos Montenegro, que viu, no título de um livro, a força que poderia se traduzir em um novo projeto. Dois anos depois, a atriz estreou Filha, mãe, avó e puta ; Uma entrevista, peça inspirada no livro homônimo, relato da trajetória da prostituta e militante de direitos humanos Gabriela Leite. Depois de uma temporada (lotada) no Rio de Janeiro, a montagem chega ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), de amanhã a 5 de fevereiro, às 19h30. Hoje, a pré-estreia é só para convidados.


Alexia leu o livro em dois dias e decidiu levar a empreitada adiante. ;O universo é genial e a história, ímpar. Gabriela deu a volta por cima. Tem formação acadêmica sólida, estudou filosofia e sociologia. A prostituição foi uma escolha dela, que optou pela liberdade sexual e pela boemia;, afirma a atriz. Filha de uma família importante e frequentadora das melhores escolas de São Paulo, largou tudo para viver à sua maneira, ganhando a vida na Boca do Lixo, em São Paulo. Segundo a atriz que a interpreta, a prostituta ainda fez ponto em ruas de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro e nunca se rendeu aos ambientes refinados que oferecem sexo pago. ;Ela gostava de conviver com gente comum, taxistas, garçons, caminhoneiros;, conta Alexia.

Com o tempo, Gabriela passou a se envolver com a militância política, lutando por direitos e pela regulamentação da mais antiga das profissões. Criou ainda a organização não governamental Davida, para garantir a cidadania das colegas. Em sua incursão pela moda, fundou a Daspu, uma ironia à loja de luxo Daslu. Também se envolve a fundo em campanhas para a prevenção de Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.

Ensaios difíceis

A maior dificuldade, segundo a atriz, foi captar recursos para realizar a peça. ;Agradeço ao Banco do Brasil por ter percebido que Gabriela é uma brasileira, que promove a inclusão social e tem uma história que merece ser contada;, reforça. Os ensaios também não foram tarefa fácil. O texto, adaptado pelo diretor Guilherme Leme e por Márcia Zanelatto, ainda ganhou sugestões dos atores e de todos os envolvidos no processo. ;Foi um processo difícil, porque tudo foi se definindo durante os ensaios. Então, eu decorava e mudava tudo;, diverte-se.A atriz Alexia Dechamps interpreta a prostituta Gabriela Leite

As 30 páginas de texto, que exigiram dedicação de 10 horas diárias, durante dois meses, ganharam o complemento da preparação visual. Pela primeira vez, a atriz de longos cabelos loiros foi vista com as madeixas castanhas, na altura dos ombros. No rosto, óculos e rugas, em uma maquiagem que a aproxima da idade de sua personagem: seis décadas de vida. Ela contracena com Louri Santos, tendo como cenário apenas uma mesa. A peça simula uma entrevista com a prostituta, que apresenta suas memórias ao público.

Para mergulhar nesse universo, Alexia percorreu ruas e lugares onde Gabriela trabalhou. No caminho, colecionou histórias dessas mulheres. ;Encontrei algumas que são como nós. Só muda o ofício. Muitas são mães, são casadas, o marido sabe e precisa lidar com aquilo. Algumas curtem, se maquiam, adoram sair com gringos. Em outras, há tristeza no olhar;, relata. O universo da prostituição, tal como foi apresentado por Gabriela, deve ganhar as telas de cinema. Há uma adaptação do livro prevista, mas ainda em fase de captação. As atrizes Vanessa Giácomo e Renata Sorrah estão cotadas para viver a personagem principal em diferentes fases da vida.

Serviço

Filha, mãe, avó e puta
Baseado em livro de Gabriela Leite e Márcia Zanelatto. Direção de Guilherme Leme. Com Alexia Dechamps e Louri Santos. De amanhã a domingo, às 19h30, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB, SCES Trecho 2, Conj. 22; 3108-7600). Ingressos a R$ 6 e R$ 3 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.

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