Nahima Maciel
postado em 12/01/2012 11:24
Suzie Matuda Magalhães tem 13 anos e começou a estudar violino aos 5. Na semana passada, ela veio de Goiânia para participar do 34; Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília. Ela é a mais jovem dos 60 alunos que formam a orquestra do curso. Uma dezena de fileiras atrás da menina está o trompista Anderson Sabino, 27, formado pela Universidade de Brasília (UnB) e professor da Escola de Música (EMB). Da trompa do instrumentista, vai sair o aveludado e triste solo que introduz o segundo movimento da Sinfonia n; 5 de Tchaikovsky, peça programada para o concerto de encerramento do curso, na próxima semana. Apesar das diferenças de idade, de experiência e, consequentemente, de maturidade, a música produzida por Suzie e Sabino será uma só, graças ao trabalho do maestro Ricardo Rocha. Ele tem a responsabilidade de construir a identidade e a sonoridade para a orquestra, que se apresenta hoje, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro. A entrada é franca e a classificação, livre.E Rocha tem a magia da batuta. Mágica, no caso, é mesmo algo inexplicável. O maestro não sabe bem descrevê-la, mas consegue esboçar como as coisas acontecem. ;A sonoridade é construída e regência tem esse mistério. Um bom regente pode pegar uma orquestra ruim e fazer milagre. E um regente ruim pode atrapalhar uma orquestra. Ou funciona organicamente ou o músico abaixa a cortina, fica tocando as notas e nada acontece.;
Na sala de ensaio do Teatro Nacional, alguma coisa acontecia na terça-feira. Podia não estar perfeito ; até o início da semana os músicos nem sequer se conheciam ;, mas o solo da trompa emocionou, os violinos encadearam a bela melodia de Tchaikovsky com entusiasmo e os contrabaixos atenderam ao pedido para se fazerem mais audíveis. Todos entenderam quando Rocha avisou: ;A trompa é um instrumento divino, vocês sabiam?;. Marcio Telles, 28, aluno de regência e assistente do maestro durante o curso, percebeu a maleabilidade do conjunto ao reger por alguns instantes. ;A identidade se formou muito rápido. Eles são muito maleáveis e, com poucos dias de ensaio, responderam bem.;
Sem descanso
O esquema de estudo está estruturado para ocupar ao máximo os alunos. São quatro horas de ensaio com a orquestra pela manhã, mais quatro de aulas individuais à tarde e uma hora de ensaio de naipe à noite. Sem descanso, diariamente, até o dia 21. Para Suzie, o mais estimulante é poder explorar um repertório novo. ;É bem emocionante;, diz a menina, que também integra a Orquestra Jovem de Goiás. ;São coisas que, no normal, a gente não faria. Com uma orquestra, tem essa oportunidade.; Emocionar-se com a experiência orquestral, nada tem a ver com idade. Sabino encontra a mesma expectativa de Suzie quando se senta na fileira dos metais munido da trompa. ;Não temos muita oportunidade de tocar com orquestra no dia a dia e eu nunca tinha tocado a Sinfonia n; 5;, conta.
Ricardo Rocha escolheu o repertório de hoje com cuidado pedagógico. Optou pelo Concerto duplo para violino e violoncelo de Brahms porque podia contar com os solistas Pablo de Léon (violino) e Raiff Dantas (violoncelo), ambos professores do curso. A Tri kartina, do carioca Nikolai Brucher, 32, porque representa a jovem música contemporânea produzida no Brasil. A peça ganhou o primeiro prêmio no Concurso de Composição Claudio Santoro de 2005. Para o concerto de encerramento, na próxima semana, Rocha programou a Sinfonia n; 5, de Tchaikovsky, e trechos de A flauta mágica, de Mozart, com participação dos alunos de canto do Curso de Verão. ;A ideia foi construir um painel rico na variedade e com diferentes épocas representadas. O que dá a unidade é essa variedade. Escolhi a quinta de Tchaikovsky para jogar uma grande sinfonia do repertório ocidental A flauta mágica porque precisava de outra atividade da música de concerto, no caso a ópera, e o Brucher porque queria uma música brasileira.;
Trilhas de filme
; No Teatro da Escola de Música de Brasília, o programa fica por conta do Fine Brass, grupo de metais formado por Rodrigo Gontijo (trompete), Bruno Sigilião (trompete), Anderson Sabino (trompa), Tiago Poty (trombone), Gleysson Costa (trombone) e Matheus Ribeiro (percussão). No repertório, entram unicamente trilhas de filmes, a maioria clássica, como Superman Theme (John Williams), Peter Gunn Theme ; The Blue Brothers (Henry Mancin) e Phantom of the opera ouverture (Andrew Lloyd Webber).
O concerto está marcado para as 19h e tem entrada franca.
ORQUESTRA SINFÔNICA
Regência: Ricardo Rocha. Hoje, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Entrada franca. Classificação indicativa livre.