postado em 15/01/2012 08:14
Um dos mais representativos grupos de teatro da cidade, o Esquadrão da Vida começa 2012 com a inexplicável sensação de começar do zero. Com pouco dinheiro e sem ter onde ensaiar, a mais antiga companhia de rua do DF contabiliza 2011 como um ano árduo. Atriz, diretora e herdeira do fundador Ari Pára-Raios, Maíra Oliveira encontrou toda sorte de dificuldades para desenvolver a linguagem estética e dramática colhida ao longo de 32 anos de história e de convivência em coletivo. O grupo virou o ano sem reconhecimento do explícito mérito cultural por parte do governo do DF. Ganhou R$ 38.340,00 para fazer 10 apresentações gratuitas e têm ainda que oferecer duas sessões de contrapartidas e uma oficina. ;Somos parte da história de Brasília e temos que competir com artistas que estão ainda começando. O FAC (Fundo de Apoio à Cultura), por exemplo, exige contrapartidas que não fazem sentido. Fica parecendo que o artista está mendigando;, reclama.
Para a atual Secretaria de Cultura, não faz diferença alguma o tempo de permanência do grupo na guerrilha de fazer teatro no DF. Leonardo Hernandes, subsecretário de fomento da Secretaria de Cultura, é categórico nesse assunto. ;O FAC não dá prioridade a nenhum grupo ou artista. Nós realizamos uma seleção pública. Não perseguimos nem defendemos ninguém. A exigência de contrapartidas está no decreto do FAC. É legislação e faz parte de todos os projetos de apoio. Nosso papel é induzir a cultura, não provê-la;, defende-se.
Ex-professor de Maíra e assistente de direção da última peça montada pelo Esquadrão da Vida, João Antônio Esteves faz coro à falta de critérios da Secretaria de Cultura. Para ele, é preciso dar continuidade às políticas públicas culturais. ;Quando um projeto começa a funcionar, o governo deixa de investir? Esse tipo de ação dilui o dinheiro e não alavanca ninguém;, opina.
Sem o apoio governamental para prosseguir com mais tranquilidade, as responsabilidades pesaram sobre os ombros de Maíra Oliveira a ponto de afetar a sua saúde. ;Tenho 35 anos e, ao mesmo tempo, um forte compromisso com um grupo de 32 anos de história. Toda a cobrança em cima de mim começou a me deixar muito sisuda;, lembra.
As dificuldades acarretaram resultados negativos, como a grande perda de peso da atriz. Mas, se o público pensa que os problemas venceram a força de vontade do Esquadrão da Vida, está enganado. Não é à toa que Maíra tatuou no braço os dizeres ;fé num faia;. E não falha mesmo. A intenção do grupo é levar alegria por onde passa, portanto até o aspecto magro de Maíra vira brincadeira na peça O filhote do filhote de elefante, que será apresentada na quarta-feira, no Mercado Velho, em Rio Branco, no Festival Nacional de Teatro do Acre. O roteiro é uma adaptação feita por Pára-raios a partir do texto O filhote de elefante, de Bertolt Brecht. ;Mesmo quando a situação está complicada, não perco as esperanças. Acho que este será um ano de redescoberta, pois é a primeira vez que vamos ao Acre para realizar um sonho antigo de ir para o Norte do país;, explica Maíra.
Em 13 de dezembro de 2011, um mês antes de o grupo partir para Rio Branco, Maíra quebrou o pé durante um ensaio. ;Faço acrobacias há quase 20 anos e isso nunca tinha acontecido comigo. Entrei em desespero.; No entanto, a reação do grupo todo foi de paciência para acalmar a diretora. Segundo o médico, a atriz deve permanecer com gesso por dois meses, isto é, até fevereiro, sem poder pisar com o pé lesionado. ;Foi um golpe, mas a partir disso percebi como o Esquadrão é importante para mim. Estou ensaiando com o pé no ar, me equilibrando;, relata a atriz.
João Antônio explica que tiveram algumas ideias para solucionar o problema. ;Pensamos em realizar a peça usando as muletas ou mesmo uma cadeira de rodas, mas nos demos conta de que ela conseguia fazer boa parte das cenas sozinha e passamos a adotar o pé quebrado como um novo elemento;, observa. Aos poucos a diretora do grupo foi se dando conta de que, unidos, os atores podem superar os obstáculos. ;Nossa história é tão longa que confio neles para o que der e vier. Na peça, O filhote do filhote de elefante, eu posso me atirar do alto, que eles vão me segurar;, explica.