O sorvete, que sempre foi um dos símbolos da infância, não está mais tão inocente assim. Aliás, há opções que são até impróprias para as crianças. Como a criatividade realmente não tem limite, alguns sorveteiros resolveram inovar e presentear os adultos adicionando à sobremesa gelada doses de bebidas alcoólicas. A massa gelada faz sucesso e pode servir de base para drinques deliciosos ou ser saboreada sozinha.
Basta uma bola do sorvete de piña colada ; rum, abacaxi e coco ; da Sorveteria Sorbê (405 Norte) para que os sorrisos espontâneos comecem a surgir na face. Sinais de que aquele drinque, quer dizer, sorvete, está fazendo efeito. Nada que deixe o consumidor realmente embriagado, mas o efeito do álcool pode ser sentido, o que se torna o grande chamariz do doce. Contudo, para chegar a esse resultado, é preciso muito trabalho. A proprietária da casa, Rita Medeiros, conta que são necessários vários testes, pois como o álcool é um anticongelante, acertar o ponto requer quantidades precisas da bebida. ;Se colocamos pouco, as pessoas reclamam que não dá para sentir. Se colocamos muito, reclamam porque está forte demais. Acertar o equilíbrio é uma tarefa árdua;, diz.
De acordo com ela, o álcool é a base da receita. Ele é colocado na cuba, embaixo do recipiente em que é preparado o sorvete, para que a massa não congele. Outro anticongelante, o açúcar tem de ser usado em pouca quantidade, caso contrário a massa fica muito mole. Na loja, Rita disponibiliza por semana um sabor alcoólico. Tem de vodca com laranja sanguínea, lima da pérsia com cachaça, pinga com melado de cana, saquê com framboesa e o que mais der vontade na sorveteira. ;Esses sabores são divertidos e as pessoas adoram. Só tem que tomar cuidado com o bafômetro depois;, brinca.
Parcimônia
Com consistência semelhante à de um frozen, o gelato de caipirinha da Palazzo Sorveteria e Cafeteria (706 Norte) é um escândalo de frescor. Levando apenas água, limão, açúcar e cachaça, o doce com cara de drinque também deve ser tomado com parcimônia, se a intenção não for ficar de pilequinho. O aroma da bebida alcoólica se destaca, convidando o comensal a uma colherada. ;Mesmo não tendo leite, ele é cremoso, porque fazemos a massa baseada nas técnicas italianas;, explica José Neto, proprietário do estabelecimento.
O entusiasmado empresário conta que sempre tenta inovar, fazendo da cozinha um laboratório de experimentos. ;A tecnologia nos permite fazer sorvete do que quisermos. Já fiz de azeite, de cerveja, vinho e mais um monte de outros tipos. Para os alcoólicos, utilizamos um pó usado nas bases de coquetéis que permite o congelamento;, explica.
Além das opções que levam álcool na composição, a casa produz sabores próprios para a preparação de drinques. O de uísque, feito com o malte da bebida, tem sabor característico e, quando misturado ao licor de amarula ou ao próprio whisky, dá vida a um milk shake encorpado. Já o sorvete de limão batido com tequila forma um drinque refrescante e saboroso. ;Temos que mudar a mentalidade das pessoas de que sorvete é um alimento pobre. Pelo contrário, hoje usamos ingredientes de qualidade para que as sobremesas resultem em um produto nutritivo e gostoso;, acredita.
Café louco
Casas fora de Brasília também investem nas receitas alcoólicas. No Rio de Janeiro, a Sorvete Brasil (Ipanema) oferece quatro opções que prometem refrescar o famoso verão a 40;C. Ali, os cariocas podem provar o de piña colada ; campeão de vendas ;, o de caipirinha de maracujá e o de frutas silvestres, além do café louco (mistura de café, cacau e cachaça). ;Todos os sorvetes são preparados com a cachaça Montanhesa;, explica a atendente Solange Santos. A bebida é produzida em Salinas (MG) e está no patamar das cachaças premium. Ela é envelhecida em barris de bálsamo.
A Vero (também em Ipanema) transformou o famoso licor Limoncello em sobremesa. O proprietário da casa, Andrea Panzacchi, explica que a bebida é preparada com a casca de limão siciliano, o que permite preparar com ela um gelato com sabor mais fechado. ;É normal ter um sabor mais intenso, pois é preparado em baixa temperatura;, explica. No cardápio da casa, há ainda os sabores de cerveja belga Gouden Carolus e de chocolate com rum. ;O primeiro tem sabor forte de caramelo. O segundo é feito sem leite e sem açúcar e leva rum e laranja. Esse já está no cardápio e é um sucesso;, diz.
De volta a Brasília, na H;agen-Dazs (ParkShopping), a sobremesa ganha o sabor do licor Baileys, que leva em sua composição café, cacau e uísque. Com sabor acentuado de cacau e café, a opção tem apenas 1% de álcool a cada oito litros de massa. A representante Fabiana Alves conta que essa receita deixa o sorvete menos cremoso, fazendo com que derreta mais fácil. ;Ele é mais mole, menos consistente por causa do álcool.;
Origem
Há quem diga que o sorvete surgiu quando Marco Polo descobriu, na China, uma receita à base de leite misturada com neve. Ele gostou tanto que levou a ideia para a Itália. Já Catarina de Médicis, em 1533, levou a delícia para a França. Foi só em 1820 que os brasileiros fizeram o primeiro sorvete. Doceiras gaúchas deixavam potes de frutas ao ar livre para congelar e depois ser batidos e misturados com doces em caldas. A popularização veio em 1934, quando o navio Madagascar aportou no país com um carregamento de toneladas de gelo.
Tipos
Diferentemente do sorbet, que não leva leite e possui 0% de gordura, o gelato tem de 5% a 8% de teor de gordura. Os sorvetes, todos com leite, têm cerca de 8% a 10% de gordura. A granita, semelhante à raspadinha brasileira, tem cristais congelados feitos com água e açúcar, e é aromatizada com pétalas de rosas, jasmim, sucos de frutas frescas, xaropes, café ou cacau.
Faça em casa
Raspadinha de maracujá
Ingredientes
; 3 maracujás grandes
; 1 lata de leite condensado
; 1l de gelo bem picado
; 3 doses de vodka
Modo de preparo
; Retire a polpa do maracujá, bata no liquidificador e coe. Despeje no liquidificador esse suco com o leite condensado e a vodka. Bata a mistura até obter um creme homogêneo. Coloque as raspas de gelo em copos altos e despeje o creme de maracujá. Sirva imediatamente.