Diversão e Arte

Pintor Júlio Villani realiza exposição na Caixa Cultural

Nahima Maciel
postado em 27/01/2012 13:51

É fácil o encontro entre o passado e o presente nas interferências de Júlio Villani. O artista fala em ruído de fundo para definir as imagens já impressas nos papéis quando ele começa a se apropriar das superfícies. Na série Memória dos meus cem anos, o ruído de fundo está nas fotografias antigas, velhas imagens colhidas aqui e ali, em mercados de pulgas, antiquários e até leilões. São registros carregados de histórias desconhecidas para o artista, mas potencialmente cheias de futuro, um futuro que Villani trata de fazer chegar por meio de tinta e pincel.

A mostra em cartaz na Caixa Cultural começa muito antes do nascimento de Villani em 1956 e fala de um presente do qual se observa o passado. ;O que me interessa nessa série é o confronto de dois tempos: esses 100 anos que nos separam dessas imagens são os mesmos 100 anos que nos separam de Picasso, de Man Ray e do dadaísmo;, explica o artista. ;Na justaposição dos dois espaços, está o lugar no qual quero me colocar. É a partir desse conflito que o trabalho se constrói.;

Villani mora em Paris há 30 anos. Nascido em Marília, no interior de São Paulo, estudou na Faap antes de se mudar para a Europa. Estar sempre com os pés em dois países influenciou o trabalho. A memória se torna algo importante quando se vive na condição de estrangeiro e o artista transformou a necessidade de estar sempre de olho nas lembranças em dezenas de série desenvolvidas a partir do cotidiano e da realidade. ;Em todo país que vou passando, vou adquirindo alguma coisa. Sou muito apegado a todas as etapas da minha vida, transformo todas em séries.;

Villani é um colecionador incansável. Guarda de cartões-postais e convites de exposições a objetos velhos de cozinha prestes a serem descartados. ;Não consigo separar o cotidiano da minha arte e dedico uma série para cada uma dessas coisas.; O dadaísmo, a geometria e a ironia são ingredientes importantes das imagens de Memória dos meus cem anos, mas há outra fonte que Villani admite explorar há anos, embora nem sempre tivesse disposição para explicitar. A cultura popular e a arte indígena têm presença forte na obra do artista, apesar da geometria erudita que também o norteia.Quadros do artista plástico possuem traços dadaístas e geométricos

Tradição
Há anos, Villani gosta de construir brinquedos nos quais mistura as formas e cores encontradas nas interferências dos trabalhos expostos em Brasília com a tradição da arte popular. ;Mas eu não sabia como mostrá-los, eles ficavam escondidos no armário porque eu era tido como um minimalista poético. Mas, de 15 anos para cá, arrumei uma coexistência pacífica entre todas essas coisas e passeio por elas com muita liberdade.;

Além das fotografias nas quais o artista reconstrói a história dos personagens por meio de intervenções com pintura, a mostra apresenta também o vídeo Complexo de papagaio, espécie de síntese metafórica das práticas de Villani. Nas imagens, um papagaio rói um Picasso, a Monalisa e, por fim, a si mesmo. ;É uma ironia comigo mesmo porque o que faço também é picotar a história. E o vídeo é uma forma de abordagem da pintura.;



Memória dos meus cem anos
Exposição de Júlio Villani. Visitação até 4 de março, diariamente, das 9h às 21h, na Caixa Cultural (SBS Qd. 4 Lotes 3/4).

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