postado em 07/02/2012 13:53
No ensaio Do culto dos livros, o escritor argentino Jorge Luis Borges faz a seguinte afirmação: ;Um livro, qualquer livro, é para nós um objeto sagrado;; e também de inspiração. Um exemplo disso é a produção de três projetos audiovisuais baseados nos livros do manauara Milton Hatoum. Os títulos que irão chegar às telas são Relato de um certo Oriente, do cineasta Marcelo Gomes (Cinema, aspirinas e urubus), Órfãos do Eldorado, dirigido por Guilherme Carvalho (Fala Tu), e uma minissérie, sem data prevista para lançamento, inspirada em Dois Irmãos, com direção de Luiz Fernando Carvalho (Lavoura arcaica).A safra de adaptações, para 2012, será positiva, de acordo com Carolina Benjamin, diretora do Festival Adaptação. Antes, logo com o surgimento do cinema, os livros imprimiam um ;selo de qualidade; aos filmes. Hoje, ;se as adaptações literárias permanecem em voga; É porque a literatura também aprendeu com o cinema e continua sendo uma boa fonte de inspiração para os cineastas;.
Apesar de os romances serem a fonte principal, Milton Hatoum não acredita em uma transposição literal, o que espera é ;que eles captem com imagens a essência dos romances;, em um processo de ;transcriação;. Ele adota esse termo, pois a palavra adaptação lhe parece limitada e falha, uma vez que a passagem das letras para as câmeras é a criação de uma nova linguagem.
Já Guilherme atribui aos livros maior liberdade para criar linhas temporais. E explica que o cinema só tem algumas horas para causar sensações, diferentemente, das histórias que passam dias e dias nas mãos do leitor. ;É claro, a literatura é algo intransponível. Os jogos com a língua portuguesa, o ritmo das frases, a arrumação do texto, isso não se transpõe. Mas tem que se inspirar na arte do escritor para tentar transpor o impacto disso ao espectador;. Ou seja, criar o ;o clima, o universo, o sentimento que o livro constrói;.
Outro elemento desafiador, na hora transformar livro em coisa de cinema, ;é transcrever em imagens passagens magníficas do livro sem recorrer à palavra;, de acordo com a experiência de Marcelo Gomes. Por isso, elementos como trilha sonora, fotografia e direção de arte são essenciais. ;A construção da ideia é guiada pelas emoções e sensações. Esse é o cinema que me interessa. Se é essencial e tocante, essa avaliação fica para o espectador. Da minha parte digo que é construído com muita verdade.;
Entre rios e cidades dos estados do Amazonas e Pará, Marcelo Gomes, Guilherme, Milton e membros da equipe técnica viajaram a fim de conhecer as paisagens, onde as tramas ocorrem. Apesar de tê-los acompanhado nesta jornada, o pai das obras diz que sua participação se dá na hora de esclarecer a psicologia das personagens e ler os roteiros. Tanto o escritor como a corroteirista dos filmes, Maria Camargo, apontam a roteirização como uma primeira parte importante. ;Geralmente, para você ser fiel ao espírito de uma cena ou do livro como um todo, é preciso fazer outra coisa. E não se apegar por determinadas cenas, pois elas podem não funcionar nas telas, explica Maria. Para Hatoum, os leitores também devem deixar esse apego ao livro e viajar nas imagens sem criar comparações. ;Eu, por exemplo, jamais faria isso (comparar) em Morte em Veneza, dirigido pelo Visconti, acho o filme belíssimo e nem comparo com o livro de Thomas Mann;.