postado em 24/02/2012 06:00
Terra de múltiplos sabores, o Brasil e sua culinária popular encontram hora e vez em restaurantes no Distrito Federal. Pratos que antigamente existiam apenas em botecos de esquina, hoje ganham espaço em cardápios de estabelecimentos variados.
O preparo deriva de aspectos socioculturais de cada região e a variedade de sabores deixa de lado o estigma de serem populares e entra no rol de menus tradicionais no DF.
A dobradinha mistura pequenos pedaços de carne de boi com feijão branco, condimentos e acompanhamentos. Por ter cheiro e gosto forte, a iguaria precisa ser bem preparada. De origem portuguesa, tornou-se famosa no Rio de Janeiro e, de tão apreciada, até ganhou um poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, Dobrada à moda do Porto, no qual faz uma simbologia entre a refeição e a não concretização do amor.
Panela grande
Na comercial da 113 Sul, o Pauliceia é sinômino de tradição em pratos populares, e a dobradinha, às quintas-feiras, é conhecida há muito tempo. ;Nós servimos esse prato há pelo menos 33 anos;, conta Dina, esposa de Raul Cautela, dono do restaurante há 43 anos.
Leia reportagem completa na edição desta sexta-feira (24/02) do Correio Braziliense.
Leia o poema Dobrada à moda do Porto, de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)
Dobrada à Moda do Porto
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.