;Brasília é um dos núcleos da música caipira do Brasil hoje e se destaca por seus grandes violeiros. Isso de deve muito ao fato de a cidade ter sido instalada no estado de Goiás e próxima a Minas Gerais;, acredita o músico paranaense Nélio Spréa, um dos integrantes do Trio do Trem, que se apresenta hoje na capital pela primeira vez. O trio musical caipira, pautado principalmente pelo humor, se formou há dois anos, no Paraná, com o objetivo de abrir uma apresentação da dupla mineira radicada em Brasília Zé Mulato e Cassiano, dos quais eram e são grandes admiradores. O encontro dos cinco demorou a acontecer e só tomou os palcos do estado no ano passado. Agora, é a vez dos brasilienses presenciarem o show, regado a violas, ;causos; e piadas.
O humor proposto pelo Trio do Trem já se mostra no nome que escolheram para si, que significa ;trilho do trem;, só que dito com pronúncia interiorana. E ainda coube muito bem ao detalhe de serem um trio: Nélio Spréa e Oswaldo Rios tocam violão; Júnior Bier, viola. Os três, que também cantam, prestam homenagem aos mestres da música caipira que traziam o viés cômico às canções, como a dupla Alvarenga e Ranchinho (uma das maiores referências, cujo repertório dominas as canções do show) e os também paranaenses Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. Há também, no espetáculo, uma canção de Rolando Boldrin e Tom Zé, Moda do fim do mundo.
Na apresentação, o trio diverte a plateia com a prosa roceira e se veste a caráter, com chapéus de palha e dentes pintados de preto. ;Não há nada de depreciativo nisso, é uma homenagem;, alerta Nélio. ;O humor é algo antigo na música caipira. Mesmo que não o abordassem inteiramente, as duplas sempre o traziam consigo;, explica Oswaldo Rios. ;E nós bebemos muitos nessa fonte;. Zé Mulato e Cassiano também carregam um pouco de comicidade em algumas de suas canções, o que chamou a atenção dos músicos paranaenses quando ainda nem era um trio, mas já se conheciam, e tiveram a ideia de levar os mineiros para se apresentarem lá. ;Os dois são venerados aqui na região;, revela Nélio.
Há momentos de interação musical no meio e no final do show entre a dupla e o trio. Zé Mulato e Cassiano desfiam clássicos de seu repertório e citam os também consagrados Pena Branca e Xavantinho. ;Na verdade, só vamos saber na hora as músicas que tocaremos;, conta Cassiano. Para o artista, a música caipira tem essa característica de ter um pouco de humor, mas também de seriedade e de religiosidade. Ele elogia o trabalho do trio: ; é interessante o resgate das duplas antigas, que hoje em dia, infelizmente, poucos conhecem;. Os irmãos de Passabém (MG), que estão na estrada há mais de 35 anos, não sabem se também vão contar ;causos; no espetáculo. ;Depende do estado de espírito;, diverte-se Cassiano. ;O Zé Mulato é que gosta de conversar mais, eu só concordo com o que ele diz;, afirma.
Trio de ouro
Nélio, Oswaldo e Júnior, do Trio do Trem, iniciaram o projeto sem imaginar que fariam tanto sucesso. Mesmo assim, eles mantêm outras atividades ligadas à música de raíz. Nélio é responsável pelo Festival de Música de Raiz de Campo Largo (PR), que acontece anualmente. Além disso, ele é um dos componentes da dupla Tietê e Passaúna, ao lado de João Peceguini. Os dois são um dos 24 finalistas da 2; edição do festival Voa Viola, cuja curadoria é dos violeiros Roberto Corrêa e Paulo Freire.
Oswaldo é fundador dos grupos Viola Quebrada e Dois de Paus. O primeiro se dedica a um cancioneiro caipira mais comedido em termos de humor, e lançou recentemente um álbum que homenageia a dupla Cascatinha e Inhana. Já o Dois de Paus (;às vezes Três;, brinca o músico), é anterior ao Trio do Trem e também investe na comédia. Júnior Biér é integrante da Orquestra de Cordas do Conservatório de MPB de Curitiba.
Trio do Trem convida Zé Mulato e Cassiano
Hoje e amanhã, às 20h, na Caixa Cultural Brasília (Setor Bancário Sul, Quadra 4). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). ão recomendado para menores de 12 anos.