Nahima Maciel
postado em 07/04/2012 08:00
Filhos de um fazendeiro de café falido, Leonardo, Orlando e ClaudioVillas Bôas garantiram lugar na Expedição Roncador-Xingu na lábia. Jovens estudantes na São Paulo dos anos 1940, com vida confortável e de classe média alta, o perfil dos irmãos era altamente indesejado pelos organizadores da expedição. Intelectuais egarotos da cidade não eram aceitos entre os expedicionários que pretendiam realizar a Marcha para o Oeste naquele Brasil comandado por GetúlioVargas.
Os irmãos se fizeram passar por sertanejos analfabetos e conseguiram ser incluídos no grupo. Era novembro de 1945 quando avistaram pela primeira vez as cabeceiras do Xingu. O que aconteceu nos anos seguintes foi uma vitória para a população indígena brasileira. Depois de, aos poucos, encabeçar a expedição e estabelecer contato com os povos do Xingu, os irmãos tiveram participação fundamental, ao lado dos antropólogos Darcy Ribeiro e Heloisa Alberto Torres, na criação do Parque do Xingu, reserva de 27 mil m; onde hoje vivem 14 povos indígenas.
Trecho de Marcha para o Oeste, de Orlando e Claudio Villas Bôas
"Saímos cedo, levando, cada um, os respectivos pertences. Deixaríamos na ponta d picada até que esta alcançasse o lugar já escolhido para o acampamento. Enquanto o serviço caminhava, fizemos uma exploração até a orla da mata alta que vimos há três dias.
Encontramos lá um ribeirão empedrado, o Areões com toda a certeza. Na volta, não pegamos o rumo certo e só depois da resposta aos tiros de chamada que disparamos é que conseguimos orientar nosso retorno.
Os índios, agora sem muita preocupação de dissimulação, voltaram a ronda o acampamento ; gritam e deixam sinais bem próximos. À noite, principalmente, têm se avizinhado muito. Os cachorros fazem um alarido enorme e se encolhem para perto do fogo. Não são cachorros, mas de caça. Daí o medo dessa coisa desconhecida.
O acampamento, servido de cacimba, não ficou ruim. O trabalho no charco é que é mau. Os homens trabalham quase metade do dia com água pelos joelhos., Transposta a mata, encontramos do outro lado o mesmo capinzal pantanoso.
Um dos homens de vigilância, que mandamos dar batidas em volta do acampamento, veio informar que encontrou, bem perto, um lugar onde os índios devem ter passado alguns dias. Havia no lugar casco de jabuti e espinhas de cobra. "