Diversão e Arte

A estética da periferia é um dos destaques de hoje na 1ª Bienal Brasil

Nahima Maciel
postado em 15/04/2012 08:00

Periferia, mitos e memória permeiam os debates de hoje na 1; Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Na África, na América Latina e nas grandes cidades brasileiras, falar no que está à margem faz a literatura borbulhar e rende muita discussão. Já a memória é ferramenta fundamental para a maioria dos autores de ficção, enquanto os mitos podem nascer de qualquer construção, fictícia ou não.

Sérgio Vaz e Ferréz sabem muito bem o caldo que jorra do papo sobre literatura e periferia. Com mediação do rapper Gog, os dois escritores protagonizam o debate Expressão literária e estética da periferia. A periferia tem sua estética, mas a escrita produzida nas bordas dos grandes centros urbanos vai muito além de uma beleza particular. ;A gente vai falar sobre essa escrita, de onde ela vem, que efeito ela tem. É mais que uma estética;, explica Vaz. ;Ela traz um povo que sofre por conta da corrupção, da violência, da falta de educação e saúde. É uma escrita que não é melhor ou pior, mas na qual você vê as lágrimas correndo.;

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Entrevista com Mario Bellatin, autor de Cães heróis

O que é a criatividade para você?

É circular por um espaço da realidade que poucos se atrevem a visitar.

Onde encontrou o homem do livro? Como criou o personagem?

Perto da minha casa, respondendo a um aviso que oferecia cães.

O senhor tem alguma obsessão com pastores alemães, já que Cães heróis é , em parte, protagonizado por 30 pastores alemães?

Sempre tenho que ter um cão por perto. É um pouco como a escrita, não a chamo mas ela está presente. Em ambos os casos, quando há cães demais ou escrita demais sei que algo não muito bom deve acontecer. Por isso volto sempre a apenas um cão e a um exercício de escrita de, alguma maneira, dosificada.

Seus livros são sempre muito gráficos, há todo um design pensado para receber a escrita. Isso é importante para o senhor? Por que?

Creio que porque a literatura não é formada apenas por palavras. Os vazios, os espaços adjacentes, a escrita for a da escrita é muitas vezes necessária para criar uma verossimilhança para criar os mundos que os livros propõem.

Conhece Brasília? O que a cidade te inspira?

Estou emocionado. Se trata de uma das experiências mais ambiciosas criada pelo homem no século 20.

Algumas vezes, sua narrativa está entre a prosa e a poesia. Há um formato para a ficção que te parece mais apropriado?

Notei que muitas vezes a leitura de um livro dura o mesmo tempo de um filme. Talvez a relação se encontre com a poética que propõe a montagem cinematográfica.

Na tua opinião, qual é o papel da literatura e das bienais de livros?

Creio que as Bienais e as Feiras são os únicos lugares que ainda restam para discutir de maneira aberta e criativa temas relacionados com a literatura e os livros. São espaços que escapam, de alguma forma, dos grandes inimigos da cultura: a academia e o mercantilismo.

Entrevista com Eduardo Bueno

Contar a história do Brasil de uma perspectiva menos engessada é divertido?

Sempre achei que leitura e prazer devem andar juntos. E, desde o início da adolescência, nenhuma leitura jamais me trouxe tanto prazer quanto as ligadas à história. Só que, nos meus tempos de estudante ; em plena ditadura militar ;, podia haver de tudo numa aula de história do Brasil, menos prazer... Como sempre fui um aficcionado pelo assunto, quando os 500 anos do desembarque dos portugueses no Brasil se aproximavam, em 1998, decidi escrever sobre o tema. Sabia que havia um contigente significativo de leitores em busca de informações passadas de forma mais lúdica, mais saborosa e, por isso mesmo, mais "divertida". Só não sabia que eles eram tantos. Afinal, somando-se a vendagem de todos meus livros, ela ultrapassa, com folga, a casa de meio milhão de exemplares. Isso foi uma agradabilíssima surpresa, é claro. E ajudou a transformar por completo o mercado de livros de história no país.

O que é essencial, na tua opinião, nas narrativas históricas?

Claro que a fidelidade às fontes e à, digamos, "verdade histórica", por mais fugidia que ela seja, deve ser o ponto principal. Mas creio que, no caso de livros não acadêmicos, como os meus, o ritmo da prosa, sua sonoridade e fluência, as técnicas já experimentadas com tanto sucesso pelo chamado "new journalism", também precisam ocupar um lugar preponderante na obra. O leitor deve ser envolvido, capturado, pela narrativa. Uma das fórmulas para fazê-lo é procurar transformar os personagens históricos em gente de carne e osso. É interessante também adicionar ação, aventura, sangue e semen ao roteiro. E como esse sempre foi um país cheio de ladrões, é de bom alvitre mostrar que a corrupção tem feito parte de nossa trajetória histórica desde o primeiro dia... Afinal, como tenho dito no quadro que possuo no The History Channel, repetindo um velho clichê, "povo que não conhece a sua história, está condenado a repeti-la". E isso não é cascata... Muito menos cachoeira...

O que mudou na forma de contar a história do Brasil na última década? Essa mudança acompanha as mudanças econômicas e sociais no país? Por que?

Creio que as transformações se iniciaram já há duas décadas, quando alguns jornalistas começaram a escrever sobre história. Segui a trilha aberta por alguns pioneiros, como Jorge Caldeira e Fernando Moraes. A diferença é que abordei temas que faziam ; e ainda fazem ; parte do currículo escolar. E concedi a eles um tratamento que, de certa forma, se pode mesmo chamar de "jornalístico". Agora, para evitar as falsas polêmicas ; completamente vazias, no meu modo de ver ;, geradas por meus livros e pelos de outros não-historiadores que vieram depois de mim, é importante deixar claro que os textos que faço são de divulgação histórica e estão longe de ser obras de viés historiográfico. E creio que cabe salientar também que o Brasil possui ótimos historiadores, produzindo textos acadêmicos do mais alto nível - muitos deles tão ou mais "prazeirosos" que os meus... Mas claro que é bom saber que os livros escritos pelos jornalistas acabaram abrindo os olhos e influenciando essa nova forma de se fazer história. Quem saiu ganhando foi o leitor, o mercado e, é claro, esse país, ainda em construção.... Mas não creio que as mudanças econômicas vividas pelo Brasil, com a ascenção da chamada Classe C, tenha influenciado nisso. Afinal, até onde sei, a dita Classe C quase não lê. Tanto é que prefere ver filmes dublados, pois as pesquisas mostram que muitos não conseguem ler e prestar atenção na trama ao mesmo tempo... O que, aliás, é bem revelador do nível cultural da nação onde vivemos...

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