O escritor e professor Deonísio da Silva foi buscar o ponto de vista feminino para escrever Zweig e Lotte, romance no qual investiga os últimos dias e a morte do autor alemão Stefan Zweig e sua mulher, Charlotte. Zweig, judeu, fugiu da Alemanha nazista e se instalou em Petrópolis. Antes do fim da Segunda Guerra, cometeu suicídio em companhia da mulher. Vários episódios bizarros cercam a morte do alemão: o então presidente Getúlio Vargas proibiu a autópsia e registros psiquiátricos não classificam o escritor como um suicida. Para Deonísio, há grande possibildiade de, na verdade, Zweig ter sido assassinado, já que Getúlio flertava abertamente com os alemães e entregou a Adolf Hitler outros perseguidos judeus.
No livro, o Deonísio escolheu a perspectiva de Lotte, figura da qual pouco se fala quando o assunto é o mal-contado suicídio de Zweig. "Todo mundo fala do Zweig e ninguém fala daquela mulher que morreu com ele, os dois se mataram. Por que a Charlotte morre se ela jamais falou em suicídio? A primeira mulher, Frederica, ele convidou para morrer com ele e ela diz: ;morra sozinho, você não precisa de mim para morrer. Aliás, não precisa de mim nem para viver;", contou Deonísio, para uma plateia formada por 15 pessoas no Café Literário da 1; Bienal Brasil do Livro e da Leitura.
[SAIBAMAIS]O escritor falou ainda sobre o suicídio como tabu na sociedade cotemporânea e sobre o pano de fundo do livro, a noite em que o casal morre. Sobre as pesquisas para escrever o romance e fundamentar a tese do assassinato, Deonísio lembrou que o material de um escritor não é só a história: "O escritor não pesquisa só documento, pesquisa a alma."